Existem ações de determinados setores da economia que historicamente se valorizaram mais que a média, durante os ciclos de corte da taxa básica de juros (Taxa Selic).

Bancos e corretoras estão divulgando relatórios falando sobre o tema. Vamos falar sobre isso nesse artigo, mas nunca esqueça que bancos e corretoras tendem a divulgar uma visão otimista sobre o futuro.

A XP, que atualmente é a maior corretora, divulgou suas previsões para cortes da Taxa Selic. Eles acreditam que os cortes começam na reunião de agosto com outros cortes até que a taxa Selic atinja 11% em 2024 (fonte).

O Itaú, que é o maior banco privado, também tem esses relatórios com previsões sobre o futuro (fonte). Eles acreditam que teremos Taxa Selic de 12,50% até o final de 2023 e 10% até o final de 2024. Eles possuem uma tabela com suas crenças sobre inflação, câmbio, meta da Selic e do CDI ao ano e ao mês até o final de 2024.

A realidade não tem qualquer comprometimento com as previsões dos analistas dos bancos e das corretoras, mas não se pode negar que essas previsões acabam interferindo nas decisões das pessoas. Se as pessoas realmente acreditam que os juros vão cair, elas começam a comprar prefixados, ações e fundos imobiliários. Essa demanda aumenta os preços das ações e dos fundos imobiliários e eleva o preço dos títulos prefixados e indexados ao IPCA (resultando em queda na taxa desses títulos).

Para avaliar o desempenho dos setores com ações listadas na bolsa no ciclo de aumento e de corte dos juros, A XP calculou os retornos (variações nos preços das ações) que ultrapassaram o retorno do médio do mercado de ações. No lugar de utiliza o Índice Bovespa para representar o retorno da bolsa, eles usaram o índice IBX100. Caso queira ver quais ações fazem parte do IBX100 visite aqui. No lugar de utilizar o corte ou aumento da Meta da Selic, que é definida pelo Banco Central nas reuniões do COPOM, eles utilizaram as variações das taxas prefixadas  (medidas pelo Swap Pre-DI de 360 dias). Como você deve saber, antes mesmo da redução da Selic, a expectativa dos investidores sobre a mudança da Selic antecipa as compras ou as vendas de títulos prefixados. Sendo assim, as taxas prefixadas tendem a antecipar os ciclos de corte ou alta da Selic.

 

Na primeira tabela você tem o comportamento das ações de cada setor da economia no final de 1, 3 e 6 meses após a queda dos juros, observada nos prefixados com vencimento em 1 ano que geralmente antecipam o corte dos juros.

As maiores altas, quando os juros estão caindo, são nas ações de transportes, varejo, papel e celulose, saúde e educação depois de 6 meses. Só ações  de bancos e petroquímicos apresentaram resultado negativo nos primeiros 6 meses de início da queda dos juros.

Observe que o setor de Utilidade Pública (como energia) tem desempenho positivo no ciclo de alta e corte dos juros.

Você logo vai concluir que existem setores que são cíclicos, dependem muito do ciclo da economia. São esses setores cíclicos onde encontramos empresas que enfrentam, com frequência, problemas financeiros graves no decorrer das crises econômicas.

Um ponto que podemos considerar é que muitas empresas que estão nesses setores que são beneficiados com a queda dos juros estão entre as chamadas Small Caps, que são as ações que fazem parte de ETFs de Small Caps (empresas de menor valor de mercado) como é o caso do ETF de código SMAL11.

Fiz um gráfico que nos permite ver o comportamento do BOVA11 (ETF composto por ações que fazem parte do Índice Bovespa), SMAL11 (ETF com ações de empresas com menor valor de mercado com muitas focadas no mercado interno). Esse tipo de gráfico pode demorar para carregar e ele foi feito para ser estudado no computador e não no celular.

A linha azul (BZSTSETA) é a meta da Taxa Selic definida pelo Banco Central através das reuniões do COPOM. A linha violeta (BR1Y) é a taxa de títulos prefixados com vencimento nos próximos 12 meses. A linha laranja é SMAL11 e a linha verde é o ETF BOVA11. As linhas pretas verticais com datas são pontos próximos do momento em que os prefixados começaram a mudar sua tendência (alta ou baixa). O quadrado cinza sinaliza um evento inesperado que ocorreu em 2008 que ficou conhecido como a “greve dos caminhoneiros”, eventos inesperados sempre podem ocorrer.

O que podemos observar nesse gráfico?

  • Os juros futuros (prefixados) tendem a antecipar o movimento da Taxa Selic.
  • Durante o governo do PT, a queda dos juros em 2011 e 2012 produziu um “voo de galinha” na bolsa e na economia. Existem muitas matérias sobre esse voo em 2012 (exemplo).
  • A bolsa representada por BOVA11 e SMAL11 continuaram sua queda entre 2013 e o final de 2015 enquanto os juros prefixados subiam junto com a Taxa Selic. Vivemos uma das piores recessões da história depois do voo de galinha.
  • Somente no início de 2016, quando já se falava no impeachment, que os juros prefixados começaram a cair e logo depois ocorreu a reação da bolsa com um forte ciclo de alta que durou até a pandemia. Nesse tempo, os juros continuaram caindo até o menor nível histórico de 2% ao ano.
  • Na pandemia, os juros foram mantidos em 2% por muito tempo (mesmo com juros prefixados em alta) e o governo injetava dinheiro na economia através de subsídios, auxílios, adiamento de pagamento de impostos etc. Tudo isso estimulou o consumo por algum tempo, mas teve como consequência a queda, generalizada, no poder de compra do dinheiro (inflação).

O grande perigo nessas análises otimistas dos bancos e das corretoras são previsões que podem nos falar sobre um voo de galinha. Um voo de galinha é aquela situação em que tudo melhora um pouco antes de piorar de vez. O ciclo de corte de juros realmente beneficia as empresas por algum tempo, mas são os fundamentos da economia que vão ditar a consistência do crescimento.

Vimos que juros podem iniciar um ciclo de cortes, como ocorreu no passado, enquanto a economia continua com sérios problemas que logo vão se impor. Existem “verdades inconvenientes” que não podem ser ignoradas, mas são frequentemente ignoradas pelos políticos.

O crescimento que tivemos na bolsa entre 2016 e 2019 se justifica por uma série de iniciativas e pequenas reformas que serviram para amenizar essas “verdades inconvenientes” que aparecem no vídeo abaixo. Tivemos o teto de gasto, reforma de previdência, uma tentativa de controlar os gastos públicos, reforma trabalhista, tudo isso depois do impeachment e uma série de empresários, políticos e servidores públicos presos. Você já deve ter percebido que atualmente vivemos uma desconstrução de tudo que foi estabelecido no último ciclo de alta da bolsa. Parece que o processo de desconstrução só começou.

Para resolver ou pelo menos amenizar todos os problemas que foram destacados acima seria necessário pessoas preparadas. Não é preparo o que mostra esse vídeo do ocorrido na semana passada. Outro vídeo, do dia 18/05/2023, mostra que a imprensa que antes apoiava está iniciando uma campanha pra divulgar a falta de governabilidade, desespero e fragilidade do governo (assista ao vídeo). Se você pesquisar a história, verá que o impeachment de 2016 começou em 2015 com o discurso de que não existia mais governabilidade.

Essas questões precisam ser consideradas para julgar se estamos diante de um corte de juros que nos levará para um “voo de galinha” ou se estamos diante de um corte de juros que fará o Brasil apresentar o mesmo crescimento que vimos na bolsa entre 2016 e o fim de 2019.

O meu livro sobre Análise Fundamentalista para investir na bolsa, foi atualizado recentemente. Ele permite, a qualquer investidor iniciante, estudar a situação financeira das empesas antes de investir. As crises econômicas oferecem oportunidades para o investimento em ações, mas para isso é necessário saber avaliar a situação financeira das empresas e o seu histórico antes de investir. Não confie inteiramente nas recomendações de terceiros.

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