Tudo indica que existe uma “campanha” para forçar a queda da taxa básica de juros no país, pressionando politicamente o Banco Central, assim como aconteceu em governos anteriores. Ao mesmo tempo, estão tentando convencer as pessoas de que a inflação é uma coisa boa e que os livros de economia devem ser abandonados, pois estão superados.

Esse conjunto de ações dos políticos e da imprensa, sinaliza algo que pode resultar em consequências prejudiciais para a economia e para os seus investimentos.

Exemplos do processo de “demonização” da política de juros do Banco Central:

 

Observe a linguagem emocional, sensacionalista, usando palavras como: “chocante”, “pena de morte” e até “pornográfica” vinculadas aos juros.

Tudo indica que o objetivo é demonizar a política monetária que existe para controlar a quantidade de moeda em circulação na economia para o controle da inflação. Parece não existir real preocupação com o controle da inflação.

Ao mesmo tempo que vinculam os juros (que servem para combater a inflação) com uma “força do mal”, eles estão tentando criar uma espécie de “inflação do bem”. Mais na frente você verá que os livros que condenam tudo isso serão desqualificados pelos políticos e pela imprensa.

Veja que, agora, estão criando uma inflação que só é capaz de atingir a classe média, oferecendo alívio para os mais pobres (uma inflação boa ou justa).

 

Os jornalistas selecionaram determinados especialistas que fizeram previsões de que a inflação dos alimentos será menor e a inflação da energia elétrica e dos combustíveis será maior, concluindo que isso é uma ótima notícia.

Dessa forma, segundo a imprensa, temos uma inflação do bem que trabalha promovendo a “justiça”. É como se as pessoas mais pobres não sofressem o impacto negativo da alta dos preços de energia e combustíveis e que a classe média devesse sofrer esse impacto, por ser algo justo e bom. O aumento da energia e dos combustíveis vai refletir nos custos para produzir, processar, armazenar e transportar alimentos.

Também existe uma demonização dos juros reais, que você, pequeno investidor precisa compreender.

Políticos e a imprensa usam o argumento de que os juros reais no Brasil estão elevados para pressionar o Banco Central a baixar os juros, como se isso não resultasse em consequências negativas diante do atual cenário mundial (como a alta da inflação).

Vamos entender isso melhor. O juro real é um dos principais fatores que influenciam o câmbio de um país, principalmente um país como o Brasil. Por consequência ele também afeta a inflação.

Juro real é aquilo que sobra quando você desconta a taxa básica de juros (Taxa Selic) da inflação (IPCA). Vou mostrar exemplos mais na frente.

Quando esse juro real está elevado ou em tendência de alta, a cotação do dólar (preço do Dólar em Reais) tende a cair ou pelo menos tende a subir menos do que subiria se as taxas estivessem baixas ou em queda.

O aumento dos juros reais tende a atrair investimento estrangeiro e a evitar a fuga de dinheiro (dos próprios brasileiros) para investimentos feitos no exterior (hoje, qualquer pessoa pode investir no exterior). Isso, de certa forma, impede que a moeda local perca seu valor frente ao dólar, principalmente em momentos de crise.

Dessa forma, quando a taxa de juros real da economia começa a cair, pode haver uma desvalorização da moeda nacional em relação às outras moedas (como o dólar), principalmente se os investidores estão pessimistas com relação a condução da política econômica de um país.

Você já deve ter observado que todos os países do mundo estão elevando os juros básicos de sua economia (equivalente a Taxa Selic no Brasil) nesse momento. Todos estão enfrentando as consequências das decisões tomadas entre 2020 e 2021.

Se as taxas de juros no Brasil estivessem baixas (com defendido por políticos irresponsáveis e sua militância), sem dúvida nenhuma o dólar teria disparado nos últimos meses ou desde o início da alta dos juros nas principais economias do mundo.

Tente imaginar o caos que seria se o Brasil tivesse mantido a Selic em 2% ao ano com os EUA, hoje, adotando taxas de quase 5% ao ano (4,75%). Nesse cenário, não faria sentido manter reais no Brasil (moeda fraca) recebendo 2% ao ano se você poderia receber 4,75% com seus dólares nos EUA. Devemos perceber que os países do mundo cometem pelo dinheiro do mundo através dos juros (que nada mais é do que o preço do dinheiro no tempo).

Como os juros básicos da nossa economia subiram antes mesmo do início da alta dos juros nos EUA e em outros países de economia desenvolvida, tivemos uma taxa de juros reais em alta no Brasil. No momento, essa taxa de juros acima da inflação que temos no Brasil estimula a manutenção de dinheiro investido no país.

Se o governo forçar a queda dos juros, fazendo reduzir os juros reais da renda fixa (por pressão política), pode se tornar mais vantajoso transferir recursos para uma conta no exterior para receber a renda fixa em outros países.

Agora vamos observar exemplos de juros, inflação e juros reais.  Aqui no Clube dos Poupadores temos um Ranking de juros, veja aqui.

 

Na tabela acima podemos observar que a taxa básica de juros no Brasil é de 13,75% e a inflação nos últimos 12 meses foi de 5,6%. Isso resulta em juros reais de 7,72% acima da inflação, pois é  o que sobra quando usamos esse cálculo de juros reais aqui.

Essa taxa de 7,72% acima da inflação seria muito elevada se fosse oferecida por um país de economia estável, moeda forte, sem riscos de crise política, sem insegurança jurídica, sem histórico de servidores públicos e políticos corruptos no poder e sem histórico de irresponsáveis com as contas públicas etc.

Veja que, nos EUA, a taxa está em 4,75% com expectativa de que continuará subindo. Com a inflação de 6% nos últimos 12 meses temos juros reais de -1,18% nos EUA. Se a inflação continuar na faixa de 6% ao ano, os 4,75% serão insuficientes para manter o poder de compra do dinheiro investido em renda fixa. Se a ideia é reduzir a inflação, os juros devem subir lá fora até que esse objetivo seja atingido.

Fica bem evidente que ainda é vantajoso manter investimentos em renda fixa no Brasil considerando que existe um prêmio acima da inflação para que você faça isso (juros reais elevados) assumindo os riscos por investir em um país como o nosso.

O problema é que, no momento em que esse prêmio for reduzido ou deixar de existir, se tornará mais vantajoso buscar a renda fixa em outros países, principalmente aqueles que oferecem menos riscos. Vamos entender,  mais na frente, essa questão do “risco país”. Nunca devemos esquecer que o Brasil não é uma economia de primeiro mundo, não temos uma moeda forte, não somos governados por pessoas competentes e honestas, não temos histórico de estabilidade política e muito menos jurídica e nada está sinalizando que isso irá melhorar (os sinais indicam o contrário).

Veja que existem códigos de letras na coluna “Risco” na tabela anterior. Essas letras representa uma classificação de “risco país” ou o risco que você corre ao investir na dívida pública (títulos públicos) de um país, como um investidor estrangeiro. O Brasil tem nota “BB-“. Não é uma nota boa. Ela está caindo desde 2013, quando o país adotava as mesmas políticas econômicas que querem adotar novamente agora. Isso significa que manter dinheiro no Brasil representa um “risco substancial” para o estrangeiro (que investe no Brasil comprando reais).

Veja que investimentos no Brasil são considerados investimentos de risco no mundo inteiro. A lógica nos diz que só compensa correr risco se você for recompensado pelo risco corrido já que existem alternativas com riscos menores e hoje o investidor bem-informado pode investir no Brasil ou em qualquer outro país, basta adquirir conhecimento. Essa recompensa mínima (renda fixa) será através de juros reais, ou seja, juros acima da inflação.

A tabela abaixo nos mostra o que significa cada código usado na classificação de risco e a posição de alguns países:

Observe que o Brasil está a um degrau de distância dos investimentos de “Alto Risco”. No exemplo do México, os juros são menores, já que a percepção de risco é menor. O investimento nos EUA representa “risco mínimo” e por esse motivo eles trabalham com juros reais negativos ou muito baixos. Quanto mais o governo se esforçar para degradar a economia, maior a percepção de risco e pior será a nossa nota. Quanto maior o risco, maior o prémio (juros reais) é exigido por todos os investidores para correr esse risco diante de outras opções que existem.

Tenha muito cuidado com esse discurso emotivo que visa pressionar o Banco Central a baixar os juros enquanto os outros países estão subindo os juros. Cuidado com essa campanha que tenta instituir a “inflação do bem”. Não existe inflação boa. A inflação não escolhe a classe social que será atingida. Não existe governo que gasta mais do que arrecada em produzir inflação descontrolada no futuro. Basta ver o que acontece na Argentina hoje. Temos na Argentina o exemplo de como seria o Brasil se o desastre não tivesse sido interrompido em 2016, com o impeachment. Parece que o desastre foi apenas adiado por alguns anos.

Aqui estão as consequências que iremos colher se os juros no Brasil forem reduzidos pela força (resultando em juros reais baixos ou negativos), sem fundamento econômico e matemático para que isso aconteça:

  1. Aumento da inflação: A redução forçada da taxa de juros pode levar a um aumento na oferta de dinheiro na economia, o que pode estimular a demanda por bens e serviços. Se a oferta de bens e serviços não acompanhar o aumento da demanda, a inflação pode acelerar de forma descontrolada. Além disso, a redução dos juros pode desestimular as pessoas a pouparem e aumentar a propensão ao consumo, o que pode agravar a inflação.
  2. Desvalorização cambial: Se o Banco Central reduz a taxa de juros sem qualquer fundamento, isso pode desestimular a entrada de capital estrangeiro no país, pois os investidores podem preferir investir em países que oferecem taxas de juros mais atrativas. Os investidores brasileiros já podem transferir seus recursos para o exterior com enorme facilidade, seguindo a legislação vigente (que pode ser alterada para atrapalhar esse movimento no futuro, como ocorreu na Argentina). A redução dos fluxos de capital pode levar a uma desvalorização da moeda local em relação às moedas estrangeiras. Você já sabe que os preços de muitos produtos são dolarizados e se a nossa moeda vale menos, teremos mais inflação.
  3. Aumento do endividamento: A redução da taxa de juros pode estimular as pessoas e empresas a contrair empréstimos, o que pode levar a um aumento do endividamento. Se as empresas não estiverem preparadas para atender essa demanda, esse aumento do endividamento pode gerar inflação e pressionar ainda mais a taxa de juros para cima.
  4. Redução da confiança dos investidores: Quando o Banco Central cede à pressão política para reduzir a taxa de juros, isso pode gerar dúvidas sobre a independência da instituição e a credibilidade da política monetária. Isso pode afetar a confiança dos investidores na economia, reduzindo os fluxos de capital estrangeiro e aumentando a volatilidade nos mercados financeiros.

A imprensa parece não estar disposta a esclarecer as pessoas sobre esses problemas. Eles preferem adotar linguagem infantil, sensacionalismo e apelo emocional para demonizar a política monetária e até criar a ideia de que a inflação é uma coisa boa.

Como existem livros de economia e que falam sobre dinheiro e investimentos que vão contra essas ideias, esses conteúdos serão desqualificados por políticos e pela imprensa.

A lógica que essas pessoas adotam para justificar o ataque a uma determinada informação contrária aos seus interesses é essa aqui:

  1. Existem livros de economia que estão superados;
  2. Isso significa que são livros desatualizados para a nossa realidade;
  3. Livros desatualizados propagam ideias erradas;
  4. Propagar ideias erradas é desinformação;
  5. A desinformação deve ser combatida;
  6. Quem cria e propaga desinformação deve ser punido.

Se existem “livros superados”, logo os livros superados e seus autores deverão ser evitados e posteriormente perseguidos e censurados. Se existem livros de economia que esclarecem que o governo não pode gastar mais do que arrecada, não pode manipular a taxa de juros, inflação e preços sem graves consequências, então esses livros certamente serão classificados como algo muito ruim e serão banidos.

Os livros de economia dizem que toda decisão relacionada ao dinheiro produz consequências. Não é possível fugir dessas consequências. A conta sempre chega, principalmente quando se resolve ignorar ou enganar a população sobre as diferenças entre custo, gasto e investimento (como os políticos estão tentando fazer).

Governos que gastam mais do que arrecadam, de forma persistente, fazem a economia sofrer uma série de consequências desastrosas para todas as pessoas e tudo fica pior quando a ferramenta utilizada para evitar o caos (os juros que é o preço do dinheiro no tempo) começa a ser combatida, como se fosse a origem do problema.

Nunca foi tão importante para o pequeno investidor aprender sobre como os investimentos funcionam sem depender das recomendações de terceiros. É importante fazer isso enquanto ainda é possível encontrar autores que criticam o sistema.

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