Um leitor me perguntou: “Por que não existe educador financeiro de esquerda?” Eles existem, mas são raros e normalmente não sabem o que falam.
As políticas econômicas defendidas por ideologias de esquerda tendem, no longo prazo, a desestabilizar a economia. Você não precisa fazer muito esforço para descobrir isso, por conta própria, pesquisando o histórico de países que estão sofrendo os efeitos de governos de esquerda nas últimas décadas. Os benefícios de suas políticas são de curto prazo e duram até o dinheiro acabar.
Nesse processo de deterioração da economia, a moeda do país perde sua credibilidade. A inflação cresce de forma descontrolada. Atualmente, encontramos economias que sofrem os efeitos desastrosos de ideologias alinhadas com essas políticas que geraram inflação acima de 100% ao ano. A tabela abaixo mostra os países com as maiores inflações anuais do mundo (fonte). Exemplos: Venezuela com 156% de inflação ao ano e Argentina com 83%.
As bases da educação financeira estão centradas no orçamento familiar e no hábito de acumular capital, ou seja, ganhar dinheiro, poupar dinheiro e investir dinheiro.
Quando quase a metade do poder de compra do dinheiro das famílias é perdido a cada 12 meses ou em poucos meses, o orçamento familiar entra em completo desequilíbrio. As bases da educação financeira perdem o seu sentido. Se torna impossível controlar despesas, receitas, poupar e investir de forma equilibrada e saudável. A vida econômica das pessoas que vivem nesses países se resume a uma luta por sobrevivência e auxílios do governo.
A única alternativa que resta para a população que se autodestruiu, apoiando políticas econômicas de esquerda, é a de correr para os supermercados com o objetivo de estocar o máximo possível de produtos antes que eles desapareçam das prateleiras.
Não existia qualquer motivo para falar sobre educação financeira antes de 1994, nos tempos de hiperinflação, congelamento de preços, impressão descontrolada de dinheiro, descontrole de gastos públicos e uma série de outras consequências de políticas econômicas que são frequentemente apoiadas por ideologias de esquerda, mas que eventualmente podem ser adotados por qualquer político populista que queira manter o poder.
Quando a moeda de um país perde o seu poder de compra consistentemente, por não existir mais confiança com relação a sustentabilidade da economia de um país, os próprios empresários e investidores começam a tomar decisões que envolvem reduzir a capacidade produtiva e os investimentos locais. Os governos de países desestabilizados tendem a iniciar um ciclo de planos econômicos, congelamentos, aumento de tributos, confiscos e uma série de medidas que não funcionam no longo prazo. Logo existe a fuga de empresários e investidores para outros países empobrecendo ainda mais a economia. Com a população faminta e enfraquecida, esses políticos e seus amigos nunca mais saem do poder.
A base da estabilidade da economia só foi implementada no Brasil em 1999. Ela é conhecida como “tripé macroeconômico” tendo como princípios: metas de inflação, câmbio flutuante e austeridade fiscal.
A austeridade fiscal, de forma resumida, é representada pela redução dos gastos públicos e a redução do papel do Estado em suas funções de indutor do crescimento econômico.
A ideia de austeridade fiscal é incompatível com ideologias de esquerda e com todo político, de qualquer ideologia, que queira adotar medidas populistas para manutenção do poder.
Desequilíbrio fiscal resulta em inflação e geralmente os políticos culpam as empresas e tentam congelar ou manipular preços. Na prática, não entendem ou fingem não entender como os preços funcionam. A mesma ideia de controle é aplicada no câmbio.
As pessoas que não entendem como o dinheiro funciona, apoiam essas ideias por acreditarem que são movidas por boas intenções. As pessoas julgam as ações dos políticos por suas intenções e não pelos resultados práticos que provocam.
Um exemplo é a Lei de Responsabilidade Fiscal que existe para evitar que políticos gastem mais do que arrecadam (produzindo crise fiscal, cambial e econômica), mas sempre aparecem políticos (apoiados pela população) propondo o fim ou a flexibilização das responsabilidades fiscais tendo como motivo uma “boa intenção”.
Um exemplo de medidas de um governo de esquerda que tinha o objetivo de desalinhar a economia do “tripé macroeconômico” foi batizado de “nova matriz econômica” e implementado desastrosamente depois da crise de 2008/2009. Vimos o Banco Central reduzindo juros sem qualquer preocupação com a inflação, o Estado interferindo cada vez mais em diversos setores da economia, uma meta implícita para o preço do dólar e a chamada “contabilidade criativa”. Tudo isso resultou em uma grave crise econômica e um impeachment que logo foram esquecidos por todos.
As intenções das políticas de esquerda são opostas aos resultados que essas políticas geram no longo prazo. É isso que a história está cansada de mostrar.
Ao gastar mais do que arrecadam criam uma série de problemas no futuro sem qualquer garantia de que irão solucionar alguma coisa no presente, já que parte desse gasto irresponsável financia esquemas de corrupção, como os investigados na Lava-jato.
Os poucos educadores financeiros que defendem políticas econômicas frequentemente adotadas por ideologias de esquerda se dividem nos seguintes grupos:
- São pessoas que precisam estudar mais sobre os resultados dessas políticas e não focar somente nas suas intenções;
- São pessoas que praticam a incoerência e em alguns casos a desonestidade intelectual (defesa de uma ideia que sabe ser falsa ou enganosa).
O educador financeiro que foca seus estudos nos resultados das políticas “bem-intencionadas” e se recusa a defender ideias falsas, dificilmente vai se alinhar ou defender políticas econômicas comuns entre as ideologias de esquerda. Já escrevi um artigo sobre o problema das consequências não-intencionais.
Bons educadores financeiros tendem a se alinhar com o liberalismo econômico, principalmente quando não são patrocinados por bancos e corretoras. Caso queira se aprofundar existe o livro chamado “Liberalismo” que você encontra para o Kindle aqui, ou pode baixar o PDF aqui. Você também pode estudar artigos gratuitos que existem no site do Instituto Mises. Eles já republicaram alguns artigos que escrevi aqui no Clube dos Poupadores, como você pode ler aqui.
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Olá Leandro! Sempre sigo o seu trabalho pois sou uma admiradora do seu empenho, dedicacao e conhecimento.
Recentemente descobri o Mises Brasil e fiquei muito contente de ver o seu trabalho por lá! Parabéns pelo seu trabalho lúcido, esclarecedor. Sonho com o dia em que o Brasil irá conhecer e defender as ideias do liberalismo e de educação financeira. Nesta última eleição fiquei muito decepcionada, pois vi muitas pessoas graduadas e inteligentes em que eu admirava votarem no governo de esquerda. Inclusive economistas de faculdade pública, como a USP que trabalha no mercado financeiro defendendo estes políticos! Não consigo entender como isso é possível. Será uma falha no sistema de ensino? Vi até professores de economia de outras faculdades públicas dizendo que “o liberalismo nunca funcionou na América Latina”! E pensar que são essas pessoas que estão educando os futuro do Brasil?
Eu não sou nenhuma estudiosa da área de economia e política, mas tenho interesse e busco informações, não me sinto superior à estas pessoas por pensar diferente, mas está muito difícil de engolir uma realidade dessas.
Olá, Mariana. Existem ideologias que beneficiam servidores públicos e todo o sistema ineficiente, preguiçoso (e as vezes corrupto) onde eles trabalham. Sendo assim, é natural que você encontre professores de universidades públicas defendendo aquilo que beneficia suas carreiras dentro do sistema. Da mesma forma existem educadores financeiros patrocinados por bancos e corretoras que defendem determinadas ideologias. Para grandes empresas e instituições financeiras o mercado livre ou o liberalismo econômico representa uma ameaça. Empresas grandes não desejam um ambiente favorável para o surgimento de concorrentes.
Muito bom! Parabéns!
Obrigado Tiago
Parabéns, seu trabalho e excelente, sou grande admiradora do seu trabalho sempre que alguém me pergunta sobre educação financeira menciono você. Tenho muitos dos seus livros amo cada um, super recomendo. Gostaria tanto que cada brasileiro pudesse estudar, ou apenas ler seus artigos sei que isto já produziria muito resultado. Continue assim sempre proclamando a verdade.
Sou muita grata a você, eu acompanho o seu trabalho desde 2014, já melhorei muito com suas instruções seu trabalho e impagável. Portanto só posso orar para que Deus te abençoe e prospere sua vida abundantemente.
Obrigado Maria. Parabéns por sua trajetória e que seja um exemplo para outros leitores.
Oi Leandro. Que bom que vc deixou pra lá aquela história de isenção política para abordar assuntos econômicos/financeiros (o que, na minha opinião, é algo impossível de se fazer).
Tal como o vídeo do burro, é impossível agradar a todos, e mais vale a coesão interna das ideias do que a necessidade de se demonstrar supostamente isento para não desagradar uma parte da “clientela”.
Quem advoga a favor de pautas de esquerda não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe qualquer coisa sobre finanças, afinal, se há a condenação da propriedade privada, não faz sentido algum se importar com finanças, para eles basta condenar o sistema financeiro como “a origem do mal” e pronto.
Pois é, se o objetivo final é acabar com a propriedade privada, não faz qualquer sentido falar de finanças ou educação financeira.
Leandro, vc conhece a teoria Junguiana sobre a psique (psicologia analítica)?
Sobre funções cognitivas irracionais e racionais? Eixo de percepção e eixo de julgamento?
Existe uma correlação direta entre pessoas que têm predomínio de função cognitiva de julgamento “feeling” e pautas de esquerda, tanto intro quanto extrovertidas, ao passo que os “thinking” tendem a ter pensamento mais alinhados com pautas de direita.
A análise da estrutura da psique de alguém, pasme, tem um poder muito grande de afirmar quais são os pontos fortes e fracos de cada tipo de pessoas, e principalmente quais aspectos da realidade nós tendemos a ignorar (conceito de Sombra/Shadow em Jung).
Sim, inclusive tenho a obra completa do Jung, mas só li 5 dos 35 livros do box. Certamente existem muitas questões arquetípicas envolvidas. Faz todo sentido.