Muitos estão fazendo uma grande propaganda do Tesouro Renda+ de prazo longo, esquecendo de alertar sobre os riscos. O Tesouro Renda+ não é para o investidores conservador, principalmente os de prazo mais longo.

Quando o governo lança um novo produto financeiro voltado para a aposentadoria, como o Tesouro Renda+, o investidor conservador precisa acender todas as luzes de alerta. Afinal, confiar sua aposentadoria ao Estado brasileiro é, no mínimo, arriscado. Embora o Tesouro Renda+ seja vendido como uma solução segura e rentável para complementar a aposentadoria, a realidade pode ser bem diferente.

Vamos destrinchar as armadilhas e riscos desse investimento para que você não caia nessa cilada.

1. O Perigo da Longuíssima Maturidade

O Tesouro Renda+ 2065 (que muitos influenciadores estão divulgando) só começa a pagar uma renda mensal a partir de 2065. Se você tem hoje 30 anos, isso significa que terá 70 anos quando o fluxo começar. Aa expectativa de vida média do brasileiro é de 76 anos. Além disso, o pagamento se estende por 20 anos, ou seja, até 2084.

É preciso ser muito otimista (ou até ingênuo) para acreditar que o cenário econômico e político brasileiro se manterá estável por mais de 40 anos. O próprio histórico de nossa economia mostra o contrário: congelamento de preços, hiperinflação, congelamento de poupanças, moratórias da dívida, esfaqueamento de candidato à presidência, impeachments, prisão de ex-presidente, escândalos de corrupção, perseguição política, inúmeras intervenções estatais e crises econômicas. Por que o futuro seria diferente? O histórico do Brasil nos fornece algum indício de que tudo vai melhorar nas próximas décadas?

2. Volatilidade Inesperada: Renda Fixa com Jeito de Renda Variável

Embora seja classificado como um investimento de renda fixa, o Tesouro Renda+ apresenta uma volatilidade absurda. Imagine investir em um ativo que, em questão de meses, pode despencar mais de 50%. Para quem busca segurança na aposentadoria, essa é uma montanha-russa perigosa demais. Essa oscilação ocorre porque o preço do título é altamente sensível às taxas de juros. Se as taxas subirem — algo comum em economias instáveis — o valor do seu investimento pode derreter. Na prática, se tudo piorar no futuro as taxas futuras tendem a subir e esses títulos de longo prazo tendem a desvalorizar.

3. A Ilusão da Rentabilidade

A promessa de IPCA + 7,47% ao ano pode soar tentadora. No entanto, essa rentabilidade só é garantida se você segurar o título até o vencimento. Caso precise vender antes, poderá enfrentar uma enorme perda de capital. Além disso, o efeito da inflação no longo prazo é uma variável extremamente imprevisível. Não há qualquer garantia de que o IPCA oficial reflita a real perda de poder de compra da população, especialmente considerando os truques contábeis que governos frequentemente utilizam para manipular índices inflacionários. Países como Argentina, onde os governos passados já censuraram economistas independentes que ousaram divulgar números reais de inflação, ou a Venezuela, que chegou ao ponto de simplesmente parar de divulgar dados econômicos confiáveis durante o auge da crise hiperinflacionária, são exemplos claros do que pode acontecer quando se confia cegamente em estatísticas oficiais de governos ideologicamente comprometidos com o controle estatal e o populismo econômico. Aqui existem duas reportagens sobre a situação do IBGE (reportagem 1) (reportagem 2)

4. O Risco Político e o Perigo da Confiança no Estado

Confiar sua aposentadoria ao Tesouro Nacional é, em essência, acreditar que o Estado brasileiro será capaz de honrar suas dívidas por décadas a fio. No entanto, o mesmo Estado que vende o Tesouro Renda+ é aquele que impõe impostos abusivos, gasta sem controle e constantemente ameaça as liberdades individuais. E se, no futuro, uma nova lei mudar as regras do jogo? No Brasil, não apenas os políticos podem mudar as leis ao sabor das conveniências, mas também o judiciário tem a liberdade de reinterpretá-las conforme o vento ideológico do momento.

Quem investiu no passado já viu isso acontecer. Basta lembrar do confisco da poupança no governo Collor, quando milhares de brasileiros tiveram suas economias sequestradas da noite para o dia. Nada impede que o governo futuro crie “mecanismos de ajustamento” para esses pagamentos, especialmente se o déficit previdenciário continuar crescendo.

E o problema não para por aí. Parte significativa da população brasileira continua elegendo e apoiando políticos e medidas populistas, muitas vezes encantada por promessas de curto prazo, sem considerar os impactos negativos para poupadores, investidores e empreendedores. Em um cenário onde o coletivismo supera a responsabilidade individual, os que constroem patrimônio com trabalho e prudência correm o risco de se tornarem alvos preferenciais de políticas que redistribuem o que não produzem, sempre sob o pretexto da “justiça social”.

5. A Armadilha da Renda Temporária

Uma das características preocupantes do Tesouro Renda+ é que ele paga uma renda mensal apenas por 20 anos. Após isso, o fluxo cessa. Se você viver além dos 90 anos, precisará de outra fonte de renda. Muitos podem argumentar que 20 anos são suficientes, mas a realidade é que a expectativa de vida não apenas aumenta constantemente, mas pode ser drasticamente ampliada nas próximas décadas.

Com o avanço da inteligência artificial, o surgimento de novos tratamentos, medicamentos inovadores e tecnologias médicas de ponta, a longevidade humana poderá atingir níveis jamais vistos. Isso inevitavelmente no decorrer desta década. A questão não é mais apenas viver mais, mas sim como viver bem durante esses anos adicionais. E o que fazer se o dinheiro acabar? Voltar ao mercado de trabalho na velhice? Depender do INSS, cujas perspectivas futuras são sombrias, especialmente em um país onde a demografia envelhece rapidamente, as pessoas chamam cães de filhos e a base de contribuintes encolhe?

Imagine viver o suficiente para testemunhar essas inovações, mas sem os recursos financeiros necessários para aproveitar as novas possibilidades. Sem um planejamento financeiro, você corre o risco de se tornar refém do assistencialismo estatal, perdendo a liberdade e a dignidade na fase mais vulnerável da vida.

A verdadeira independência financeira não pode se basear somente em título estatal de longo prazo. Você precisa construir um patrimônio duradouro, que seja capaz de gerar renda contínua e acompanhar o ritmo das transformações tecnológicas e sociais. Preparar-se para uma longa vida é essencial, especialmente em um mundo onde viver mais será uma realidade acessível — mas apenas para aqueles que planejam adequadamente.

Conclusão: O Tesouro Renda+ Não é Para o Conservador

O Tesouro Renda+ pode ser atraente para especuladores experientes, que sabem como navegar na volatilidade dos títulos públicos. No entanto, para o investidor conservador que busca segurança e estabilidade para sua aposentadoria, esse título é uma armadilha perigosa caso você concentre seus investimentos nele e não diversifique. A combinação de volatilidade elevada, riscos políticos e a falta de garantias reais tornam o Tesouro Renda+ uma péssima escolha para quem quer garantir tranquilidade na terceira idade.

É importante que você mantenha o seu patrimônio diversificado. Ao investir em títulos públicos faça investimentos em títulos diferentes com prazos diferentes. Só faça investimento de longo prazo com aquela parcela do seu patrimônio que você aceitou correr maior risco. Lembre-se: no mundo dos investimentos, não existe almoço grátis. E, quando o Estado oferece algo “bom demais para ser verdade”, é melhor desconfiar e começar a estudar para não ficar dependendo das opiniões de influenciadores que estão apenas caçando mais visualizações e mais seguidores.

Acompanhe os próximos artigos que vou escrever sobre o Tesouro Renda+. Eles serão enviados por e-mail, WhatsApp ou Telegram.

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