Existem basicamente três formas diferentes para se investir nas ações negociadas na bolsa de valores. Elas se diferenciam com base em quatro fatores que são:

  1. o custo para investir por cada uma das formas;
  2. o tempo que será exigido de você (que também é um custo);
  3. o conhecimento que cada forma exigirá da você;
  4. a liberdade que você terá nas decisões de investimento.

Nenhuma das três formas de investimento em ações, que irei descrever neste artigo, é campeã em todos esses quatro fatores. O valor que você dará para cada fator pesará muito na sua decisão sobre a melhor forma de investir. Por esse motivo, é sempre muito difícil responder sobre a melhor forma de investir em ações, pois a resposta depende de quem pergunta.

Vou comentar sobre cada forma de investimento e no final de cada uma irei resumir sua relação com custo, tempo, conhecimento e liberdade.

Forma 1: Os outros investem por você

Quando você investe em ações, através de um fundo de ações, está pagando para que outras pessoas comprem ações por você. Elas escolhem em quais ações irão investir o seu dinheiro, quanto será investido em cada ação e quando irão comprar e vender essas ações para obter o melhor retorno.

Existem fundos que só investem em ações específicas (gestão passiva), mas isso você mesmo(a) poderia fazer por um custo menor. Por isso, os fundos de ações mais atrativos são aqueles onde o gestor do fundo tem a liberdade para comprar as ações livremente, ou seja, eles cobram para fazer a gestão ativa do seu dinheiro.

Neste caso, a liberdade de escolha é transferida para o gestor. Você ganha tempo para cuidar da sua vida enquanto os outros cuidam do seu dinheiro. Isso significa que para investir em um fundo que faz gestão ativa é necessário confiar nas habilidades do gestor, ou seja, você precisa conhecer o gestor, do contrário estará entregando a responsabilidade pelo investimento do seu dinheiro para um estranho.

Imagine pagar alguém para assumir a responsabilidade de escolher e comprar tudo que você e a sua família comem durante um ano. Essa pessoa teria total liberdade para escolher os alimentos sem considerar suas preferências pessoais. Você também contrataria outra pessoa para escolher o que você iria vestir, com total liberdade e sem considerar seus gostos pessoais. Diante dessas situações hipotéticas, certamente você teria muito cuidado na escolha de uma pessoa de confiança. Provavelmente você avaliaria se essa pessoa tem gostos parecidos com os seus e se tem o conhecimento necessário para escolher por você.

Assim deveria ser a escolha de alguém para tomar decisões sobre onde e como investir o seu dinheiro. Gestores de fundos costumam cobrar, em média, 2% ao ano (taxa administrativa) sobre o patrimônio que você tiver investido. Fundos de grandes bancos costumam cobrar o dobro disso. Não importa se eles conseguirão fazer o seu dinheiro ou não, pois a taxa é cobrada sobre o valor que você tem investido no fundo. Exemplo: se você investir R$ 10.000,00 em um fundo que cobra taxa de 2% ao ano, seu custo anual será de R$ 200,00. Se investir R$ 100.000,00 o seu custo será de R$ 2.000,00 por ano.

Escolheram três tipos diferentes de peixe para você comer. Compraram o peixe usando o seu dinheiro, limparam, fatiaram, pegaram um pedaço do peixe e serviram o restante cru com pepinos fatiados. Não importa o nome do peixe, não importa quanto pagaram por ele e não importa se você gosta de peixe cru com pepinos. 

Não é barato investir através dos fundos. Dificilmente alguém pagaria esse valor se fosse cobrado em dinheiro vivo. Certamente cobrança por resultados seria muito maior. A cobrança é feita de uma forma que você não será capaz de sentir. A taxa é descontada diariamente do fundo e ela só vai aparecer através de uma rentabilidade menor. Dessa forma, a rentabilidade divulgada pelos fundos já está com a taxa administrativa e outros custos descontados.

Muitos fundos também cobram uma taxa de performance que costuma ser de 20%. Exemplo: se a bolsa valorizar 10% durante o ano e o fundo render 12% ele terá um ganho de 2 pontos percentuais acima do índice Bovespa (índice que mede o desempenho da bolsa). O fundo cobrará 20% desses 2 pontos percentuais, ou seja, ele cobrará 0,40% adicionais. Assim, além de pagar os 2% de taxa administrativa você pagaria mais 0,40% pela performance. Existem R$ 327 bilhões (R$ 327.270.885.777,52) investidos em mais de 2000 fundos de ações. Como a média da taxa administrativa cobrada por eles é de 2,09% ao ano, eles disputam R$ 6.8 bilhões por ano em taxas pagas pelos investidores (fonte).

Os fundos de ações com mais recursos investidos são justamente os fundos geridos por grandes bancos, pois cada gerente de banco em cada agência é uma espécie de “vendedor de fundos”. É muito fácil convencer um investidor leigo a investir em um fundo de ações ou multimercado dentro de uma agência quando os fundos de renda fixa não estão rendendo quase nada e existe uma rentabilidade passada acumulada muito elevada nos fundos de ações. Os fundos dos grandes bancos também cobram as maiores taxas administrativas, alguns chegam a cobrar 4% ao ano.

Nos últimos anos, muitos gestores que trabalhavam como funcionários desses grandes bancos, deixaram seus empregos para criar gestoras independentes onde criaram seus próprios fundos. Grandes corretoras passaram a oferecer esses novos fundos. Se você tem conta em uma grande corretora é muito provável que receba muitas recomendações de investimentos em fundos, assim como os gerentes de banco sempre fizeram. As corretoras são remuneradas pelos fundos quando conseguem vender esses fundos para seus clientes.

Muitos fundos surgiram nos últimos anos e foram oferecidos ao público através das grandes corretoras. São poucos os fundos com mais de 10 anos de história que permita ao investidor avaliar o desempenho de longo prazo do gestor. Investir em um fundo que promete rendimento no longo prazo sem ter um histórico de longo prazo para avaliar é como dar um tiro no escuro. A confiança no perfil do gestor precisa ser maior ainda. Você contrataria alguém para cuidar de alguma coisa valiosa da sua vida sem conhecer nada sobre essa pessoa? Nem eu, mas as pessoas fazem isso com uma incrível facilidade quando escolhem fundos para investir.

Muitas vezes os fundos mais jovens oferecem bons resultados por algum curto período de tempo. Esses resultados positivos aparecem na imprensa. Existem corretoras que são donas de sites de notícia (exemplo 1), (exemplo 2) e meios de comunicação que são donos de corretoras (exemplo).

O destaque na imprensa, com base em resultados passados que não garantem resultados futuros, atraem muitos investidores novos e, com um volume maior de dinheiro para investir, o gestor passa a ter dificuldades para obter os resultados anteriores. Os fundos costumam perder eficiência quando precisam investir quantidades grandes de dinheiro. Alguns fundos tentam evitar isso fechando a entrada de novos investidores e de novos investimentos por um tempo. Nem todos fazem isso, pois quanto mais dinheiro no fundo, mais os 2% de taxa administrativa representam grandes volumes de dinheiro.

Cuidado 1: vários fundos de ações apresentam histórico de ganhos acima da média por serem fundos alavancados, ou seja, são fundos onde o gestor pode investir assumindo uma espécie de “dívida”. A alavancagem potencializa ganhos, mas ela é um desastre no caso de perdas. Nesses fundos alavancados, se ocorrer grande perda de patrimônio o investidor (cotista) pode ser chamado para cobrir essas perdas, ou seja, será obrigado a pagar por prejuízos produzidos pelas decisões do gestor. Não é comum, mas acontece, por isso, é fundamental ler o regulamento do fundo de ações antes de investir para verificar o que o gestor pode e o que ele não pode fazer com o seu dinheiro. Caso não queira correr esse risco, evite fundos muito alavancados.

Cuidado 2: fundos muito jovens e com pouco patrimônio investido pode obter retornos acima da média com maior facilidade. Quando crescem, depois que divulgam resultados passados, fica difícil manter o bom desempenho com consistência. Verifique se o fundo tem um bom histórico, com bons resultados investindo grandes patrimônios.

Cuidado 3: muitos fundos de ações não divulgam onde estão investindo o seu dinheiro. A CVM possui um site (que precisa melhorar muito) onde é possível acessar onde os fundos investiram com 3 meses de atraso.  Veja aqui, faça a consulta, clique no fundo e depois selecione a “competência” de 3 meses antes para ver em quais ações o fundo investiu no passado. Se você tiver algum conhecimento sobre investimentos em ações poderá avaliar o gestor através das ações que ele selecionou no passado (“diga-me em quais ações investe e te direi que investidor tu és”). Isso ajuda a identificar se o gestor está escolhendo ações que você escolheria, ou seja, se ele tem um estilo compatível com o seu. Você também pode avaliar se ele está investindo em ações com menor liquidez (comum quando o fundo é pequeno) ou em ações que apresentam maior risco (de ganhos e consequentemente de perdas). Grande parte dos fundos possuem sites onde divulgam “cartas mensais” aos cotistas e as vezes apresentam algum detalhe sobre o que estão fazendo com o seu dinheiro. Nem sempre a rentabilidade que um fundo oferece é compatível com o risco que ele correu para obter essa rentabilidade.

Cuidado 4: Nunca invista em nada para depois esquecer. É importante acompanhar o que os outros fazem com o que é seu. Esquecer só beneficia quem está cuidando do dinheiro esquecido.

Você também pode investir em ações através de alguns tipos de fundo multimercado. A taxa administrativa dos multimercados também costuma ser de 2% ou mais. A taxa de performance costuma ser de 20% do que passar do CDI. É bem mais fácil para o fundo superar o CDI do que superar a bolsa, principalmente quando o CDI está com taxas muito baixas.

A forma mais barata de investir em fundos passivos, que apenas replicam uma carteira de ações, é através de ETF´s. Esses fundos são negociados como as ações e você deveria aprender a investir em ações para aprender a investir através de uma ETF.

Resumindo: no caso do custo, os fundos de ações são as opções mais caras para se investir em ações. Investir em fundos de ações exige tempo para escolher o fundo e tempo para avaliar o que o fundo anda fazendo com o seu dinheiro. Comprar e esquecer é bom para quem cuida do dinheiro esquecido. É importante ter algum conhecimento para entender o que o fundo está fazendo e para escolher o fundo. Nos fundos ativos você não tem liberdade para escolher as ações, pois essa liberdade será do gestor. Nos fundos passivos, muitas vezes é possível saber onde o gestor irá investir e a taxa administrativa costuma ser menor.

Forma 2: Os outros dizem onde você deve investir

Você também pode investir em ações seguindo as recomendações dos outros. Podemos dividir essas recomendações em três tipos:

  • Recomendações gratuitas de desconhecidos da internet, amigos e parentes;
  • Recomendações gratuitas dos bancos, corretoras e outras instituições;
  • Recomendações de empresas que vendem recomendações.

A pior forma de investir em ações é seguir recomendações gratuitas de desconhecidos da internet. Existem diversos blogs, fóruns e redes sociais, com pessoas que você não conhece, recomendando ações que você também não conhece. Muitas dessas pessoas se escondem por trás de pseudônimos. Assim como você jamais investiria em algo desconhecido recomendado por um estranho no meio da rua, não deveria investir em algo desconhecido recomendado pelos estranhos que estão por toda internet, principalmente em redes sociais ou fóruns onde existem muitos perfis falsos.

Os piores comentários que recebo aqui no Clube dos Poupadores são de pessoas que escondem o nome e o e-mail na área de comentários. Tenho um sistema que detecta e elimina esse tipo de comentário automaticamente, mas mesmo assim ainda gasto tempo filtrando comentários de perfis falsos. Poucos sites dedicam tempo para esse tipo de limpeza, pois é um trabalho muito custoso.

Investir seguindo recomendações de amigos ou parentes também é ruim. Você nunca sabe se eles estão recomendando alguma coisa que receberam de um desconhecido. Muitas vezes nossos amigos só nos recomendam alguma coisa por exibicionismo (vaidade por resultados passados).

Os seus amigos que possuem os melhores resultados nos investimentos certamente são os mais discretos.

Seus amigos, parentes e o dono da peixaria recomendam peixes sem cobrar nada por isso. Uma publicação é vendida por alguns reais mensais listando os melhores peixes para comprar nesse momento. O resto é com você.

As recomendações dos bancos e corretoras seguem a tendência de motivar você a trocar de ações constantemente. Eles emitem listas das melhores ações para investir hoje. Uma semana depois eles criam uma nova lista, com novas ações. As instituições ganham mais quando você movimenta o seu dinheiro de um investimento para o outro.

A única vantagem que existe nas recomendações dos bancos e corretoras está nas fundamentações. Algumas instituições emitem relatórios fundamentando a escolha da ação que recomendam. Para quem está aprendendo a investir em ações esses relatórios podem ser educativos. Estudar esses argumentos e validar se eles fazem sentido pode ser uma boa forma de motivar seus estudos.

Temos ainda as empresas que vendem relatórios com recomendações. No passado, somente grandes investidores podiam comprar relatórios com recomendações produzidas por grandes consultorias. Eram relatórios caros para os poucos que podiam pagar por eles. Hoje temos empresas que vendem relatórios por preços de assinatura de revista. Esses relatórios pagos só possuem alguma utilidade quando você já tem conhecimentos para investir e avaliar se as recomendações fazem sentido para a sua realidade financeira e o seu perfil de investidor.

Imagine um adolescente que adoraria viajar pelo mundo em um veleiro. O problema é que esse adolescente ainda não sabe velejar e não possui um barco. Ele não sabe nadar e tem medo do mar. Será que comprar uma série de mapas e cartas náuticas teria alguma utilidade para um jovem iniciante? Muita gente compra relatórios de investimentos sem antes investir na própria educação.

Resumindo: a recomendação gratuita de amigos, parentes e desconhecidos pode ser o barato que custa caro. Nunca invista cegamente, confiando totalmente em quem recomenda, pois o dinheiro investido será seu e não de quem recomenda. Você precisa adquirir algum conhecimento e ter algum tempo para validar os fundamentos de quem deu a recomendação. A liberdade de quem só sabe investir através de recomendações dos outros é zero.

Forma 3: Você investe livremente

Pessoalmente eu valorizo muito a liberdade, só que para exercer essa liberdade, principalmente no mundo dos investimentos, é necessário adquirir conhecimento. Não adianta ser livre para escolher se você não consegue enxergar as opções de escolha e não consegue decidir a melhor opção para você. Nem sempre o que é bom para o gestor do fundo ou para quem recomenda é bom para você.

Assim como você não aprendeu a ganhar dinheiro do dia para a noite (através da sua profissão) você não vai aprender a investir o seu dinheiro do dia para a noite.

Se o dinheiro que você investe é fruto do trabalho que você realizou, consumindo o seu tempo, e se o seu tempo é um fragmento da sua vida, então esse dinheiro precisa ser tratado com muito respeito.

O tempo que gastamos para gerar a nossa renda, através do trabalho, nunca mais retornará. É vida que foi consumida. Quando cuidamos do dinheiro que ganhamos trabalhando, estamos cuidando do pedaço de vida que gastamos para ganhar esse dinheiro.

Ninguém poderá cuidar melhor dos frutos do seu trabalho do que você, mas para isso é fundamental obter conhecimento, boas ferramentas e desenvolver habilidades como paciência e controle emocional.

Não prestou atenção no que estava fazendo. Perdeu o peixe, o celular, a vara, a paciência e a cadeira.

Resumindo:

O custo para investir por conta própria é basicamente o custo que você terá com a sua educação, ferramentas e conquista de experiência. Livros e cursos custam muito pouco. Muitas vezes o autor de um livro ou de um curso gasta meses ou anos resumindo de forma didática um monte de conhecimentos e experiências que ele demorou uma vida para acumular.

O tempo necessário para investir por conta própria é maior quando você está aprendendo e vai diminuindo com a experiência e com a adoção de ferramentas que ajudam nas análises.

O conhecimento só precisa ser adquirido uma vez e você não precisará das opiniões dos outros. Quando você assume a responsabilidade de investir por conta própria a sua liberdade é total e o aprendizado é total.

A liberdade sempre anda de mãos dadas com a responsabilidade e essa responsabilidade nos ensina muito. Quando você investe através de um fundo e o gestor erra, você não aprende nada com o erro dele. Quando você investe através das recomendações dos outros e os outros erram, você também não aprende nada. Quando você investe livremente, erra e assume a responsabilidade, você aprende com seus erros. Até errando você ganha.

Para aprender a investir na bolsa eu recomendo a leitura de dois livros: Como investir na bolsa através da Análise Fundamentalista, onde você vai aprender a escolher as melhores empresas para investir. E recomendo o livro Como Investir na Bolsa através da Análise Técnica, onde você aprenderá como identificar os melhores momentos.

Gostou deste artigo? Continue aprendendo em 2 passos:

  1. Inscreva-se clicando aqui e receba um e-mail semanal com os conteúdos inéditos e gratuitos que produzimos.
  2. Junte-se à nossa comunidade! Participe do nosso grupo no Whatsapp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui) e seja o primeiro a saber sobre novos conteúdos.