Vou ensinar um método muito utilizado por investidores para calcular o preço justo de uma ação. Vou ser o mais didático possível e para isso vou utilizar um modelo simplificado. Quero que você entenda como a política econômica de um governo, juros, inflação, câmbio, risco e outras variáveis influenciam os preços das ações. Leia o artigo logo abaixo da planilha online para entender o seu funcionamento. Você verá que a ideia é bem simples.

Você deve entender uma empresa como uma máquina de fazer dinheiro e a ação dessa empresa como uma pequena parte da máquina que você pode adquirir através da bolsa de valores.

Vamos chamar o dinheiro gerado anualmente por essa máquina de lucro líquido que é o dinheiro que sobra depois da empresa pagar todos os custos, despesas e impostos necessários para o seu funcionamento.

Quanto mais dinheiro essa máquina é capaz de gerar por ano, mais dinheiro ela vale ou mais valorizada se torna a sua ação.

Se a cada ano que passa esta máquina consegue gerar mais dinheiro que no ano anterior (taxa de crescimento dos lucros), mais dinheiro essa máquina vale, ou seja o preço que você está disposto(a) a pagar por essa máquina hoje será maior se você considerar que ela colocará cada vez mais dinheiro no seu bolso no decorrer dos próximos anos. Vamos considerar 10 anos.

Como você não tem qualquer garantia de que a empresa onde investiu vai conseguir lucrar no futuro e de que esse lucro irá crescer todos os anos, você deve comprar suas ações com um desconto que compense esse risco sobre o futuro. Quanto mais arriscado parece ser, maior o desconto exigido por você para que o investimento compense.

Você pode definir a sua própria taxa de desconto e existem infinitos critérios, uns mais objetivos e outros subjetivos. Cada investidor terá a sua taxa de desconto. Muitos investidores utilizam a taxa de juros que receberiam se resolvessem comprar um título prefixado com vencimento em 10 anos no lugar das ações da empresa.

Os títulos públicos também são máquinas de fazer dinheiro com a diferença de que você sabe exatamente quanto receberá no futuro (renda fixa), correndo um risco muito pequeno. Isso pode ser entendido como custo de oportunidade.

Então você precisa considerar que a máquina de fazer dinheiro baseada em uma empresa lucrativa com ações na bolsa precisa oferecer ganhos maiores do que os pagos por investimentos sem risco, como títulos de renda fixa com vencimento longo. Esse ganho adicional equivale a um prêmio pelo risco. Em outras palavras, o preço da ação precisa ser baixo o suficiente para que os ganhos (lucros) possam compensar o risco que representa investir em uma empresa que tem ganhos variáveis. Aqui estamos considerando que lucros crescentes vão se transformar no longo prazo em ações valorizadas (ganho de capital) e/ou dividendos e outros proventos pagos para o investidor.

Se você entendeu o que descrevi até aqui será fácil entender a matemática que envolve o cálculo do preço justo de uma ação tendo como base a capacidade da empresa gerar lucros e a taxa de desconto que você precisa aplicar para comprar essa ação barata e com isso ter uma margem de segurança. O método utilizado na planilha acima é chamado Discounted Cash Flow (DCF) ou Fluxo de Caixa Descontado (FCD) e foi modificado para se tornar mais simples e objetivo. No lugar de utilizar o fluxo de caixa da empresa utilizamos o lucro líquido da empresa por ser bem mais simples assumir que os lucros e o fluxo de caixa são equivalentes no longo prazo.

Exemplo prático:

A planilha no início do artigo já está preenchida com um exemplo prático que vou descrever agora. Vamos calcular o preço justo de uma ação, aquele que você estaria disposto a pagar por entender que se trata de uma boa oportunidade.

  • Vamos imaginar uma empresa fictícia com ações negociadas na bolsa que é capaz de gerar um lucro líquido anual de R$ 1.000.000,00. Veja que esta é a informação que está no campo 2 da planilha interativa no início do artigo.
  • Olhando o passado você constatou que a taxa de crescimento do lucro dessa empresa é de 10% ao ano, ou seja, todos os anos o lucro líquido é 10% maior que o do ano anterior. Temos essa informação no campo 1 da planilha. Você vai logo perceber que quanto maior a taxa de crescimento dos lucros, mais valiosa será a ação.
  • Você pesquisou e descobriu que se investisse em um título público prefixado com vencimento em 10 anos ele receberia 9% ao ano. Isso é sem riscos se você aguardar até o vencimento por se tratar de um investimento de renda fixa. Mas você considera que a situação econômica, política e jurídica no Brasil é muito arriscada e no lugar de exigir 9% de desconto, você exige o dobro, ou seja, 18% de desconto. Isso é o que vamos chamar de taxa de desconto ou prêmio pelo risco (campo 3 da planilha) que seria equivalente ao custo de oportunidade + risco. Você também poderia entender isso como uma margem de segurança, pois vamos calcular o preço da ação imaginando que o lucro futuro da empresa será 18% ao ano menor.
  • Vamos considerar no simulador que nos primeiros 3 anos a empresa terá esse crescimento de 10% ao ano nos lucros (campo 1), mas depois ocorrerá uma queda gradual nesse crescimento. Muitos investidores adotam a inflação do país neste campo e vamos imaginar que no futuro a nossa inflação fosse de 4% todos os anos. Essa será a nossa Taxa de Crescimento na Perpetuidade (campo 4 da planilha). Vamos entender isso melhor mais na frente.
  • Agora você vai precisar descobrir o preço atual da ação dessa empresa e quantas ações ela possui no mercado. A planilha vai calcular o valor de mercado da empresa multiplicando o preço da ação pelo número de ações. Neste nosso exemplo didático o número de ações é de 1.000.000 (campo 5 da planilha) e o preço de cada ação hoje é de R$ 15,00 (campo 6 da planilha). Se você estivesse utilizando dados reais de uma empresa qualquer poderia encontrar o preço da ação hoje, número de ações e lucro líquido anual da empresa no site Fundamentus. Tirei uma foto e comentei para mostrar onde esses dados estariam, veja aqui. Se você tem assinatura do GuiaInvest Pro, também seria possível encontrar todos esses dados no relatório “Raio X” ou criando um estudo no “Minhas Estratégias”.

Veja como ficam os dados na planilha. Agora vamos entender os resultados. Meu objetivo é permitir que você veja o que acontece quando alteremos a taxa de desconto, taxa de crescimento etc.

O campo 13, depois de todos os cálculos feitos, a planilha nos mostra que o preço justo por essa ação deveria ser R$ 9,26 e não R$ 15,00. No campo 14 temos a informação de que o preço está supervalorizado e que a diferença entre o preço justo de R$ 9,26 e o preço atual de R$ 15,00 é de -38,30%. Isso significa que o preço atual da ação precisa cair R$ 5,74 ou perder 38,30% para atingir os R$ 9,26.

Para chegar nesse valor justo a planilha considera qual será a soma de todo o lucro de R$ 1 milhão por ano em 10 anos. Ela considera que o lucro vai crescer 10% ao ano nos primeiros 3 anos e depois esse crescimento irá cair gradualmente até atingir apenas 4% ao ano no décimo ano, como pode ser visto na coluna “Taxa Crescimento” e “Lucro Líquido” na tabela que está no final da planilha.

Alguns investidores mais conservadores podem adotar taxa zero (0%) no campo 4 (taxa de crescimento na perpetuidade) para considerar que nos próximos 10 anos a taxa de crescimento dos lucros chegará até zero. Se você trocar o 4% por 0% verá que o preço justo cairá para R$ 7,90. Você também pode adotar taxas negativas se considerar que os lucros podem diminuir no futuro. É importante considerar que o crescimento dos lucros não costuma ser infinitos e por este motivo é importante considerar uma queda no crescimento dos lucros. A importância didática desse campo é ajudar você a entender que quando o mercado projeta lucros menores ou até prejuízos no futuro isso automaticamente altera o preço justo que ele está disposto a pagar por uma ação.

Na tabela que está no final da planilha temos uma coluna chamada “Desconto”. Ela nos mostra o lucro de cada ano com o desconto de 18% ao ano que equivale a nossa taxa de desconto ou prêmio de risco. Quanto maior a sua percepção de risco, maior deveria ser essa taxa de desconto anual. Quanto maior a taxa de juro paga por títulos públicos de longo prazo (renda fixa), maior sua taxa de desconto e menor será o preço que você está disposto a pagar para correr o risco de investir em uma ação.

Em países desenvolvidos onde existe um ambiente político sólido, economia forte e moeda forte a percepção de risco é menor. Os juros que você poderia obter na renda fixa com vencimento no longo prazo são bem pequenos ou até nulos nesses países (existem países desenvolvidos com juro negativo em títulos longos). A inflação muitas vezes se manifesta na forma de deflação e por esse motivo existem juros muito baixos no exterior. Isso significa que a taxa de desconto exigida pelos investidores nesses países desenvolvidos costuma ser bem pequena e isso torna o preço justo por ações muito elevado. Perceba que nessa condição de juro baixo, todo risco compensa. Até ações de empresas que não geram lucros possuem preço elevado em países onde o juro da renda fixa (juro de títulos que vencem nos próximos 10 anos) é próximo de zero.

Já em países como o Brasil o investidor exige um desconto muito grande por existirem juros futuros elevados (com vencimento em 10 anos), inflação elevada, ambiente político, econômico e até jurídico oferecendo riscos com relação ao futuro. Quando os juros longos, de títulos longos, estão elevados isso sinaliza que o mercado está pessimista com relação ao futuro do país e por isso exige juros maiores ou prêmios maiores.

Para exercitar esses conceitos, edite a versão online da planilha no início do artigo. Reduza a taxa de desconto de 18% para 9% imaginando que nosso país está menos arriscado e você exige menos desconto para investir em ações. Você imediatamente perceberá que agora o preço justo da ação passará de R$ 9,26 para R$ 26,95. Isso significa que agora a ação por R$ 15 estará barata ou subvalorizada e você terá uma oportunidade.

Agora vamos imaginar que o brasileiro aprendeu a votar. Ele passou a escolher políticos altamente qualificados para comandar o país, com grande conhecimento sobre o funcionamento da economia. Essas pessoas qualificadas pararam de gastar mais do que o país arrecada (é o cientificamente correto). Elas deixaram de dificultar a vida de quem produz, investe e trabalha (também é o correto). Elas passaram a gastar o dinheiro público com o mesmo cuidado que teriam se o dinheiro fosse privado (isso é o mais inteligente a ser feito). Vamos imaginar que isso atraiu muitos investimentos para o país. A inflação caiu. A nossa moeda valorizou. As empresas produzem, vendem, lucram e empregam como nunca. O governo bate recordes na arrecadação de impostos sobre os lucros das empresas e a renda das pessoas, já que todos estão enriquecendo. Neste cenário maravilhoso não existe mais a percepção de risco elevado com relação ao futuro, pois tudo parece melhorar com o passar do tempo. Nesta situação os juros futuros despencam.

Agora mude a planilha, veja o que acontece com o preço da ação se você adotar a taxa de desconto de 5% (campo 3). O preço justo por esta ação do exemplo seria de R$ 137,82. Agora troque o valor do campo 1 (taxa de crescimento anual do lucro) para 20%, 30%, 40% e veja o preço justo da ação subindo.

Agora clique no botão “Restaurar” na parte inferior da planilha e volte para a realidade.

Como um exemplo didático esta ferramenta está muito simplificada, mas adota a mesma lógica dos sistemas complexos. Existem muitas formas de avaliar o preço de uma ação a cada forma possui inúmeras versões diferentes. Os investidores profissionais, como bancos, fundos e outras instituições utilizam métodos sofisticados para projetar as receitas das empresas, despesas, lucro e fluxo de caixa, considerando inúmeras variáveis bem específicas de cada empresa que podem influenciar esses números. Eles também consideram o impacto da inflação, câmbio, juros futuros, risco fiscal e outras variáveis econômicas e políticas que possam exigir mais ou menos prêmio pelo risco.

Vale destacar a questão da taxa Selic que representa o juro de curto prazo (pós-fixado). Quando as projeções do mercado para a inflação no futuro são de alta da inflação os juros futuros tendem a subir e isso interfere negativamente no preço das ações. Quando o Banco Central aumenta a taxa básica de juros, na dose certa e no momento certo, com o objetivo de controlar a inflação, os juros futuros, com vencimento longo, tendem a cair. Como vimos, uma redução dos juros futuros resulta em valorização das ações.

Pensei em oferecer essa planilha somente para os leitores dos meus livros, mas resolvi oferecer para todos os leitores por um motivo: é muito importante que você entenda como os investimentos funcionam. Somente dessa forma você dependerá menos das opiniões dos outros quando for investir. Faça o possível para depender menos em suas decisões sobre dinheiro. Invista no seu conhecimento. É isso que produz tanta diferença entre as pessoas. Recomento que você leia os meus livros sobre “Como Investir na Bolsa: Análise Fundamentalista” e o livro sobre “Como montar carteiras de investimentos” Para baixar a planilha clique aqui.

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