Ter muitas coisas não te faz rico ou rica. Ter dinheiro é o que te faz financeiramente rico. É simples de falar, mas difícil de entender.

Dependendo das coisas que você tem mania de comprar, você ficará cada vez mais pobre, na medida que insistir em sentir o gostinho de ser rico sem realmente ser.

Recentemente visitei um condomínio de uma dessas construtoras que vendem imóveis financiados pelo programa “Minha Casa Minha Vida”. Era um condomínio popular com apartamentos pequenos e baratos. A situação curiosa estava no estacionamento do condomínio. Encontrei um festival de carros luxuosos sob o sol forte (o estacionamento não era coberto) que valiam o preço de um apartamento ou, em alguns casos, o dobro do preço de um dos apartamentos do condomínio.

Se eu retornar 5 ou 10 anos depois, o apartamento terá mantido algum valor ou até valorizado, dependendo da situação do mercado imobiliário no futuro, mas uma coisa é certa, aqueles carros caros que vi perderão mais da metade do seu valor, sem contar os custos fixos gerados por impostos, taxas, seguro e manutenção cara. O patrimônio dos seus donos terá encolhido. É tentando parecer rico que você ficará cada vez mais pobre.

No estacionamento do prédio onde moro não é muito diferente. Posso ver um jaguar novo estacionado do lado de um celta velho e o mais curioso é que isso não me diz nada sobre qual dos dois vizinhos é mais rico. Existe até uma grande probabilidade do vizinho do celta ter mais dinheiro (e menos dívidas) que o vizinho do jaguar. O mesmo vale para os seus vizinhos, amigos e conhecidos que compartilham fotos dos seus bens nas redes sociais.

Enquanto isso, nas redes sociais: “Olá amigos!. Esse é o meu carro novo. Só não gostei da cor. Branco suja muito”.

 

Recentemente Jeff Bezos, fundador e atual presidente da Amazon, ultrapassou o Bill Gates, fundador da Microsoft, no topo do ranking dos homens mais ricos do mundo da revista Forbes (fonte). Em 1994, aos 30 anos, Bezos largou o emprego que tinha em uma famosa empresa em Wall Street para abrir uma loja online que vendia livros. Apenas 5 anos depois faturava 1,6 bilhão de dólares por ano e tinha 8,4 milhões de clientes. Atualmente sua fortuna pessoal está na casa dos US$ 90 bilhões.

A grande pergunta é a seguinte: Se você tivesse R$ 1 milhão de reais no banco, qual seria o seu carro? Agora imagine qual seria o seu carro se você tivesse R$ 1 bilhão no banco. E se o seu patrimônio fosse de 282 bilhões?

Aston Martin MA RB 00 é o carro mais caro do mundo (US$ 3,9 milhões) .

Com o dólar valendo R$ 3,12 a fortuna do Jeff Bezos é de R$ 282 bilhões. Ele poderia comprar o carro mais caro do mundo (foto acima) comprometendo 0,004% do seu patrimônio e mesmo assim não foi isso que ele fez (fonte). O segredo é poder fazer e não fazer.

Jeff Bezos dirige um Honda Accord 1996 avaliado atualmente em US$ 4 mil (fonte). Se você não entende por qual motivo um bilionário dirige um Honda velho talvez você ainda não tenha entendido a maneira como os milionários ou bilionários pensam. As coisas que você compra não dizem nada sobre sua riqueza financeira. É poder comprar e não comprar que faz você rico.

Um dos homens mais ricos do mundo e o seu Honda 1996.

Certamente Jeff preferiu investir dinheiro nas empresas dele e não na compra de carros luxuosos e esportivos nos últimos anos. São as ações de sua empresa que o fazem rico. Ele foi o homem mais rico do mundo por algumas horas depois que as ações da sua empresa abriram no dia 27/07/2017 em alta de 1,6%, acrescentando US$ 1,4 bilhão ao seu patrimônio (ele é dono de pouco mais de 16% da Amazon). Poucas horas depois, ele perdeu US$ 6 bilhões (fonte) e voltou para sua posição de segundo homem mais rico. Isso certamente não mexeu com suas emoções. Muitas vezes ficamos preocupados com algumas migalhas que perdemos no curto prazo na renda variável. Não entendemos a mentalidade correta com relação ao ganha e perde do curto prazo como natural, quando o nosso foco é o longo prazo. (veja um ebook gratuito sobre essa mentalidade do investidor).

Bill Gates, que voltou a ser o homem mais rico do mundo, gosta de Porsches velhos como o seu antigo 911 Carrera com mais de 100 mil rodados e o 959 Coupé (US$ 225 mil). Em 2012, seu 911 de 1979 foi leiloado por US$ 80 mil (fonte).

Outro bilionário que não se preocupa muito com o “status social” do modelo de carro que dirige é o dono do Facebook.

Mark Zuckerberg, dono do Facebook, um dos 10 mais ricos do mundo, entrando no seu Honda Fit velho. Foto de 2013.

Mark Zuckerberg, dono de um patrimônio de US$ 71,8 bilhões, escrevendo uma mensagem de texto enquanto espera a abertura do sinal no seu famoso Golf GTI da Volkswagen (foto de 2014).

Se você tem um salário elevado ou tem uma capacidade de economizar muito grande, você pode dar dois destinos para o seu dinheiro quando o foco é riqueza financeira.

  1. Você pode “investir” esse dinheiro para parecer rico;
  2. Você pode investir esse dinheiro para se tornar rico.

Parecer rico é bem mais fácil. Compre um jaguar como o do meu vizinho ou qualquer outro carro luxuoso e esportivo da moda. Você pode parcelar em 60 vezes, pois ninguém vai ficar sabendo que você pagará um jaguar para você e outro para o banco na forma de juros e taxas (veja aqui). Se você tem uma renda boa e as prestações do jaguar cabem no seu orçamento, ótimo, seus vizinhos que enxergam os carros como indicadores de sucesso profissional (veja mais aqui) terão uma boa imagem de você. Isso já será suficiente para parecer rico e basta se divertir com a ilusão.

Já se você escolher a opção dois, terá que se preparar e ser forte para enfrentar diversos desafios. Seu estilo de vida estrategicamente simples vai incomodar muita gente, especialmente os que souberem que você poupa e investe com o objetivo de fazer aquilo que eles nem sonham em fazer que é atingir um elevado nível de independência financeira.

Talvez você tenha de ficar com o seu carro velho por muitos anos. Talvez tenha que andar de transporte público por muito tempo, mesmo tendo condições financeiras para comprar o ônibus que te transporta por alguns reais.

Você terá que enfrentar a mentalidade pobre e enrijecida pela falta de educação financeira de uma sociedade que cresceu construindo seus valores sobre dinheiro assistindo os capítulos das novelas das oito.

Para parecer rico honestamente você só precisa trabalhar como louco, antecipar a compra dos símbolos de riqueza do imaginário popular, através das dívidas, e depois pagar suas prestações rigorosamente em dia para não sujar o próprio nome. Os pobres de espirito (pobreza ética e moral) podem trilhar caminhos tortuosos por meios obscuros para atingir os meus fins, como esses aqui.

Já para ser rico de verdade, sem fantasia, sem atalhos e por meios justos, você precisa aprender a ganhar mais e ao mesmo tempo gastar com mais inteligência seguindo o caminho da retidão. Vai precisar desenvolver virtudes como a paciência, disciplina e a ética. Vai ser obrigado a aprender sobre investimentos para que o seu dinheiro renda acima da média. Vai dedicar tempo aos estudos, especialmente no começo quando as barreiras de entrada são evidentes.

A estrada dos caminhos tortuosos tem entrada franca (é grátis) e esconde suas dificuldades futuras. Já o caminho reto exige um grande esforço inicial (que é fácil de ver).

Para atingir a riqueza material de verdade você terá que aceitar uma realidade que para muitos é dura. Você não será rico mudando a embalagem. Carro é embalagem. Roupas de grife é embalagem. Apartamento grande e caro, com área livre equivalente a de uma quitinete, devido a uma tonelada de móveis e quinquilharias decorativas caras, é apenas embalagem. Riqueza você constrói enriquecendo o conteúdo, não e embalagem.

Apartamentos grandes e caros que servem como depósito de móveis, eletrônicos e quinquilharias caras que deixam o espaço livre equivalente ao de uma quitinete como esse.

Não faz muito tempo que entrei no elevador do meu prédio segurando uma caixa de papelão. Uma vizinha, que não me conhece, estava no elevador, bem vestida, adornada e perfumada. Ao observar que apertei o botão da garagem, ela resolveu dizer uma “gentileza”. Ela me avisou que para sair pela portaria eu deveria apertar o botão P e não o botão da garagem, onde ficam os carros dos moradores. Olhando minha embalagem (a roupa que vestia e a caixa de papelão) ela julgou que eu seria um entregador e não um morador. Na cabeça dela, eu não estava vestindo a “fantasia de morador” e por isso a saída deveria ser pela portaria.

Sim, é verdade, as pessoas vão julgar você pela embalagem e a forma como irão tratar você dependerá dos julgamentos que farão sobre a sua embalagem. Neste caso, você deve usar a sua consciência e inteligência para “vestir a fantasia” adequada para cada encenação social.

Isso não é problema, desde que você tenha consciência de que está no picadeiro. O grande problema é quando você começa a confundir o personagem com a realidade, quando você começa a acreditar que você é a embalagem e não o conteúdo. Neste momento, a embalagem passa a controlar a sua vida e você permite que a loucura da encenação social comece a interferir em decisões financeiras e matemáticas que não aceitam fantasias.

A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido. O fato é o seguinte: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Tal como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de um mau senhor, dissipam-se num momento, enquanto que, por pequenos que sejam, se são confiados a um bom guarda, crescem pelo uso, assim também nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que sabe dela bem dispor. – Lúcio Sêneca, Filósofo Estoico, 4 a.C. – 65 d.C, Roma.

O objetivo da independência financeira não é ser rico, é ser livre. A segunda vale mais que a primeira e a primeira é apenas um dos meios para a segunda.

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