A temperança é a virtude que nos permite agir de maneira racional, moderada e equilibrada, evitando excessos de nossos impulsos e desejos. A temperança é a moderação nos pensamentos, nas palavras e nas ações.
A temperança é muito importante nas decisões de quem está trabalhando, poupando e investindo para conquistar a independência financeira, mas são poucas as pessoas que possuem real controle e moderação sobre as coisas que pensam, falam e fazem.
Geralmente agimos por impulso ou de forma reativa. As vezes nos sentimos culpados pelos excessos e outras vezes criamos uma história, que parece fazer sentido, para justificar nosso descontrole, exageros e falta de moderação sobre nosso corpo e nossa mente. Frequentemente as pessoas sem temperança (intemperantes) encontram formas de culpar os outros por sua falta de autocontrole.
Certamente você já percebeu que existe uma batalha interior entre aquilo que você faz (ou quer fazer) e aquilo que você acredita que deve fazer ou pode fazer.
Muitas vezes o seu corpo e a sua mente querem alguma coisa ou fazem algo em determinadas proporções, mas seu espírito diz que isso não deveria ou não poderia ser feito.
Parece divertido, mas ao mesmo tempo é inapropriado. As pessoas estão sempre se comportando como o rapaz da foto acima. Por impulso elas fazem coisas gostosas, divertidas e prazerosas que muitas vezes são inapropriadas para o momento. As consequências da intemperança são inevitáveis.
A temperança é como um árbitro ou uma força moderadora que avalia e julga as exigências do corpo e da mente (que são emocionais e instintivas) e as exigências do espírito (racional, focado no que é bom e justo).
A temperança nos possibilita encontrar um equilíbrio saudável entre desejos e necessidades, consequências de curto e longo prazo, que garantam o bem-estar do corpo e do espírito.
Atualmente as pessoas bebem muito, comem mal, cultivam todo tipo de desordem sexual, exageram na diversão e no exibicionismo. Quando não trabalham de forma exagerada, tiram proveito do trabalho dos outros por diversos meios. Muitos exageram nas compras e nas dívidas. Estão sempre reagindo aos estímulos da propaganda, dos influenciadores e das pessoas próximas que tendemos a copiar sem qualquer reflexão racional.
Faça tudo que voce deseja, sem qualquer moderação da razão e aguarde a sua queda.
Entre os vícios que descrevi nos artigos anteriores, o vício da luxúria, gula e preguiça são os mais combatidos pela temperança, mas também existe relação entre os outros vícios como soberba, inveja, avareza e ira.
Vou mostrar como a virtude da temperança nos ajuda com relação a alguns vícios:
- Gula: A temperança nos permite uma relação equilibrada com os prazeres da comida e da bebida. A vida financeira e pessoal de muitos acaba sendo destruída por esse tipo de excesso que prejudica a saúde e o desempenho no trabalho, além de criar inúmeros problemas que provocam prejuízos de todo tipo.
- Luxúria: A temperança combate a luxúria ao promover o controle e a moderação dos impulsos sexuais. Ela nos ensina a valorizar a sexualidade de maneira equilibrada, respeitando a dignidade do corpo e do próximo. Existem inúmeros problemas provocados por uma vida desregrada e desequilibrada com relação a sexualidade que impactam a vida financeira das pessoas.
- Preguiça: A temperança combate a preguiça ao promover a diligência e a perseverança. Ela nos lembra da importância de agir com determinação e responsabilidade, evitando a procrastinação e a negligência. Ao cultivar a diligência, a temperança nos ajuda a fazer bom uso do tempo e dos recursos, alcançando nossos objetivos de forma consistente.
- Ira: A temperança nos ajuda a combater a ira ao promover o controle das emoções e a paciência. Ela nos ensina a lidar com as contrariedades e injustiças de maneira tranquila e serena, evitando explosões de raiva ou vingança. Ao cultivar a paciência, a temperança nos permite responder às situações de maneira equilibrada e racional.
- Avareza: A temperança nos ajuda a combater a avareza que funciona como uma espécie de adoração e culto ao dinheiro e tudo que ele pode comprar. Esse tipo de excesso pode gerar inúmeros problemas, já que o dinheiro não é um fim. O dinheiro é o meio para que possamos ter uma vida melhor e mais independente. A avareza extrema muitas vezes leva as pessoas a se corromper e a se envolver em mentiras, imoralidades e atividades criminosas.
Avalie sua temperança.
Responda sim ou não para cada pergunta.
- Você costuma se alimentar de forma equilibrada, sem excessos ou carências?
- Sua relação com as bebidas alcoólicas ou outras substâncias é equilibrada?
- Você costuma tomar decisões equilibradas com relação ao consumo e ao dinheiro?
- Você tem um cuidado equilibrado com sua saúde e questões estéticas?
- Você respeita os momentos de descanso e de lazer, sem negligenciar os seus deveres ou obrigações
- Você sabe controlar as suas emoções, especialmente a raiva, a tristeza e o medo, sem se deixar prejudicar na sua vida profissional e familiar?
- Você pratica a fidelidade quando está em um relacionamento?
- Você é honesto nas suas relações com os outros, sem mentir, enganar ou manipular?
- Você é humilde e reconhece os seus limites, sem se orgulhar exageradamente ou se comparar com os outros?
- Você busca se tornar uma pessoa melhor a cada dia, lutando contra excessos, vícios e desvios?
Quanto mais respostas positivas você tiver com relação a cada pergunta, mais virtuoso você é com relação a temperança. Reflita sobre seus exageros para não sofrer as consequências dos extremos.
Todas as perguntas que apresentei acima vão gerar consequências de longo prazo, embora possam ser confortáveis ou agradáveis no curto prazo.
Uma vez que se estabelece um ciclo de comportamento reativo, onde a pessoa se sente compelida a agir de acordo com seus impulsos, em vez de tomar decisões ponderadas e equilibradas, pode-se dizer que a pessoa sem temperança se torna “escrava” de seus impulsos.
Para muitas empresas é importante que seus clientes tenham pouca temperança. Algumas usam estratégias para que os clientes comprem por impulso e se viciem em seus produtos e serviços. Frequentemente a temperança do cliente é entendida como uma objeção que deve ser destruída por vendedores e marqueteiros. Cabe a você não se deixar levar por essas estratégias.
Como a temperança é o equilíbrio e a moderação no uso dos prazeres sensíveis, especialmente aqueles relacionados aos apetites corporais (comida, bebida, conforto/comodidade, satisfação sexual e outros prazeres) as empresas utilizam várias estratégias que servem para reduzir a temperança dos consumidores, levando-os a tomar decisões de compra irracionais e impulsivas.
Essas estratégias estão em diversas indústrias como: alimentos, bebidas, moda, viagens, estética, tecnologia, bens que sinalizam status e no setor financeiro. Quando as empresas não estão falando sobre os prazeres de seus produtos, elas estão falando sobre como você se sentirá poderoso, superior e sexualmente mais atraente se usar ou adquirir determinado produto.
É claro que ninguém deve negar ou desprezar os prazeres da vida. A temperança não é sobre negar ou evitar os prazeres, mas buscar ordená-los de acordo com certos princípios e prioridades.
Aqui está um exemplo de prazer sem princípios: Recentemente me deparei com um vídeo que viralizou em uma rede social. O vídeo, gravado por uma mãe, mostrava seu filho chorando e reclamando pelo fato dela ganhar dinheiro na internet vendendo vídeos e fotos do seu corpo nu em uma rede social especializada nesse tipo de conteúdo adulto. A criança se queixava da vergonha que estava passando na escola, pois os colegas sabiam que a mãe ganhava dinheiro se exibindo nua na internet. Nessa triste situação, existem homens sem temperança com relação a sua vida sexual, provavelmente viciados em pornografia e masturbação. Sua intemperança cria uma demanda que logo é atendida. A mãe certamente sofre com a falta de temperança, já que transformou seu corpo em um produto, sem qualquer preocupação com a própria dignidade e a dignidade do filho.
Frequentemente a falta de temperança resulta em ações que vão contra a nossa dignidade. A busca pela virtude da temperança é a busca pelo autocontrole e autorrespeito.
A falta de temperança produz desgraça na vida desses homens, na vida dessa mãe e na vida dessa criança que ilustram esse exemplo.
O que fazer para desenvolver a temperança?
Primeiro não espere que os outros motivem você a ter temperança em suas decisões ou ações, principalmente quando esses outros forem empresas e os governos. Todos estão ganhando muito dinheiro com seus exageros e falta de temperança.
Todos lucram quando você deixa de tomar decisões usando sua cabeça (razão) e passa a decidir usando seu coração (emoções), estomago (sobrevivência/medo) ou sexo (prazer e poder). Não se pode esperar que os marqueteiros falem de outras coisas que não sejam emoções, prazeres, medos, ganância, sexo/poder quando estão divulgando seus produtos e serviços. Podemos ver a mesma situação quando os políticos querem o seu voto. A racionalidade, coerência, moral, ética e a verdade são sempre deixadas de lado ou relativizados.
A temperança é uma virtude que deve ser desenvolvida e está muito ligada ao nível de maturidade das pessoas. É dever dos pais regrar e moderar os desejos e impulsos das crianças, treinando e desenvolvendo a temperança, antes que seja tarde.
Para destruir o trabalho de todas as gerações, basta uma geração imatura e despreparada.
Na vida adulta, você não terá mais seus pais dispostos a moderar os seus excessos. A própria vida vai se encarregar de produzir uma série de consequências negativas quando sua temperança falhar. Isso será fonte de inúmeros problemas.
Aqui estão alguns exercícios para desenvolver a sua temperança, com base no que existe de mais antigo e tradicional.
- Jejum e Abstinência: O jejum e a abstinência são práticas antigas para desenvolver a temperança e a fortaleza (que apresentei no artigo anterior). Privar o seu corpo dos prazeres e do conforto, temporariamente, por uma decisão racional e planejada, ajuda a disciplinar e “adestrar” o animal que existe dentro de você. Você precisa mostrar, para seu lado instintivo, quem é que manda em você. O jejum e a abstinência de algo ajudará você a controlar racionalmente os seus desejos físicos e a praticar a autodisciplina. Não é possível atingir a independência financeira ou o sucesso em qualquer área da vida sem autodisciplina, pois só você pode cobrar de você mesmo o cumprimento da sua própria agenda de tarefas para se atingir seus objetivos.
- Aceitar que você é fraco: Você só vai perceber sua fraqueza quando tentar moderar algum exagero na sua vida. A história de que você não é viciado em nada e que é capaz de parar um exagero quando quiser, frequentemente é um autoengano. Você só vai valorizar a busca pela temperança quando perceber que falta temperança na sua vida.
- Meditar sobre seus atos: ao responder as perguntas no teste sobre temperança, no início do artigo, você fez esse exercício de olhar para os seus excessos. Geralmente as outras pessoas conhecem seus exageros e sofrem as consequências de sua falta de temperança. Meditar no final do dia sobre seus exageros, é uma boa forma de começar uma mudança.
- Confessar seus vícios e erros: uma ferramenta muito antiga para iniciar uma mudança é a de, humildemente, confessar seus excessos, erros e vícios para alguém. Hoje, as pessoas fazem suas “confissões” nos consultórios daqueles que tratam a saúde mental. No passado, seus avós confessavam seus vícios, excessos e erros para Deus, por meio de um padre, dentro de um confessionário. Essas pessoas recebiam o perdão e a oportunidade de tentar novamente, para não retornar ao confessionário pelo mesmo motivo (que é uma situação incômoda). Confessar sua falta de temperança com alguém, faz você se colocar em uma posição de humildade diante de suas fraquezas. Nada pode ser mudado enquanto você não assumir humildemente que tem algo para mudar. Como disse Paulo em 2 Coríntios 12:10: “…regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco, é que sou forte”.
- Leitura de grandes exemplos: A leitura faz você ter contato com pessoas grandes que conseguiram superar limitações e dificuldades de forma heroica. Isso faz uma enorme diferença quando estamos acostumados a conviver diariamente com pessoas medianas e que estão orgulhosamente mergulhadas em vícios e debilidades (como se isso fosse bom). Não ter a sorte de receber a influência de pessoas virtuosas não é desculpa nos tempos atuais, pois existem filmes, livros e muito conteúdo com bons exemplos a serem seguidos.
- Desenvolva a sua inteligência. A virtude da temperança, como todas as virtudes, é favorecida quando as pessoas desenvolvem sua inteligência. A temperança é uma virtude que exige o uso da razão e do raciocínio para moderar nossos desejos e paixões com base nas consequências de nossas ações. Geralmente as pessoas usam a inteligência para encontrar desculpas e justificativas para continuarem cultivando vícios e fraquezas. Assista ao vídeo:
No Brasil e em diversos países do mundo, existe um rápido processo de imbecilização da sociedade.
O processo de imbecilização da sociedade é um termo que tem sido usado para descrever uma percepção de que a sociedade está se tornando mais ignorante ou menos inteligente. Isso pode ser atribuído a vários fatores.
O fato é que isso impede as pessoas de desenvolver virtudes como a temperança. Como muitos lucram com isso, será necessário se preparar para viver em uma sociedade cada vez mais debilitada, pois a situação tende a se agravar.
No futuro não muito distante, pessoas temperantes que pensam por elas mesmas serão vistas como pessoas perigosas. Torne-se perigoso.
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Como é bom observar em meio a tanto conhecimento financeiro, essa sua mescla com valores e ensinamentos tão essências que a filosofia em conjunto com a religião nos trazem para agregar e nos ensinar o bem viver, e que hoje em dia é perdido em meio ao extremo materialismo, fico feliz em ver alguém com intenção genuína de educar a mente e a alma, fundamentos para o bolso e o espírito, pois o ser humano é um todo, e precisa desse equilíbrio… obrigado
Obrigado pelo apoio, Lucas.
Mais um excelente artigo, passos os dias esperando pelos seus artigos, e busco usá-los em minha vida. Obrigado.
Parabéns, Pablo. Fico feliz por ajudar.
Excelente artigo!
Obrigado, Edimar.
Parabéns pelo post, Leandro, sempre agregando muito valor para nós, leitores. Acho que você poderia compilar seus artigos sobre vícios e virtudes em um livro.
Olá Leandro, talvez isso aconteça.
Artigo forte.
Realmente achamos que não somos viciados em algo. Até tentarmos parar e ver que não conseguimos. É a hora que a gaiola invisível se apresenta a nós.
Também ressonou comigo a questão dos valores. Fui criado no catolicismo quando criança. Mas depois me afastei. E vendo atualmente que essa religião é tão atacada nesse mundo maléfico, isso só me leva a crer que ela é a religião correta.
Está em minha meta ler muito sobre os santos e seus livros, como Tomás de Aquino. Quem sabe eu receba o dom da fé e da crença, que hoje me faltam.
Mesmo que eu não consiga crer na divindade, eu creio nos valores, e isso já seria um fruto útil dessas leituras.
Olá, Marcus. Parabéns por sua decisão.
Mais um excelente artigo! Obrigado Leandro!
Obrigado, Lucas.
Altíssimo padrão, como sempre! Eu ficaria feliz em ver todo o conteúdo dessa série de vícios e virtudes virar mais um livro. Além de ter um em PDF bem organizado, ainda contribuiria com a manutenção desde valoroso site. Mantenha o seu trabalho, pois pouco a pouco você está conseguindo melhorar a vida das pessoas.
Obrigado Eduardo , estou pensando sobre isso.
Obrigado pelo enriquecedor conteúdo! De muito valor e reflexão!
Olá, Marcos. Parabéns por dedicar um tempo para refletir sobre isso.
Obrigado por compartilhar esse conteúdo!!! grande abraço!!
Obrigado