Certamente seremos questionados no futuro, pelos mais jovens, sobre como foi viver em 2020. Tivemos um ano com muitas lições para aprender sobre questões que interferiram na nossa vida financeira. Vou destacar aqui algumas dessas lições.

Imprevistos acontecem. Esteja preparado(a).

Existem duas certezas que devemos ter sobre imprevistos.

A primeira certeza é a de que imprevistos acontecem e a história nos mostra que as vezes esses imprevistos atingem o planeta inteiro de uma forma muito rápida.

A segunda certeza é a de que o dinheiro está relacionado com todas as questões da nossa vida. Isso significa que devemos ter muito zelo pelo nosso dinheiro durante todo o tempo.

Aprendemos que ter ou não ter uma reserva de dinheiro durante uma pandemia pode significar muito. Muitas empresas e pequenos negócios foram atingidos. Empregos e demais fontes de renda de milhões de pessoas foram comprometidos no mundo inteiro.

Se todas as pessoas e empresas tivessem a cultura financeira para construir e manter uma boa reserva de dinheiro para enfrentar emergências as coisas teriam sido menos difíceis.

Não podemos esquecer que planos de saúde, tratamento médico e medicamentos custam dinheiro. A tranquilidade necessária para mudar de emprego, mudar de cidade ou mesmo ficar em casa durante a pandemia custa dinheiro. Ser obrigado a ir de ônibus ou metrô lotado para o trabalho em plena pandemia ou se deslocar no próprio carro custa dinheiro. Muitas decisões importantes durante uma crise exigem dinheiro.

Os imprevistos também afetam os investimentos.

Leia as recomendações e previsões sobre a economia e os investimentos que a imprensa, bancos e corretoras publicaram no final de 2019 sobre 2020 e veja que essas previsões são muito frágeis, pois a realidade não tem qualquer comprometimento com as expectativas dos especialistas.

O perigo de não assumir a própria ignorância

A crise que vivemos em 2020 mostrou uma situação perigosa. As pessoas e as instituições não sabem assumir a própria ignorância, ou seja, não sabem assumir que não sabem.

Quando você percebe que os chamados “especialistas” começam a brigar entre eles sobre quem está certo, você tem a certeza de que ninguém sabe o que está falando e mesmo assim continuam falando.

Seria muito melhor assumirem que nada sabem, assim como Sócrates fez quando tentou descobrir quem era a pessoa mais sábia da Grécia e percebeu que o mais sábio era ele mesmo por ser o único que assumia a própria ignorância.

A briga por audiência transformou a imprensa em um verdadeiro festival de desinformação. A imprensa que no passado distante se limitava a descrever a realidade passou a prescrever como base nas opiniões de políticos e especialistas que nada sabiam. No lugar de promover o debate entre os especialistas, que nada sabiam, a imprensa promoveu brigas e escolheu a versão conveniente para o momento.

Como uma pandemia é um evento que atinge todas as pessoas do mundo ao mesmo tempo, seria natural esperar uma união de todos para resolverem os problemas juntos, pois seria inteligente perceberem que estamos todos no mesmo barco. Não foi isso que aconteceu.

Em 2020 descobrimos que diante das dificuldades mais graves as pessoas vão preferir brigar, matar e morrer tentando provar quais opiniões estão certas, mesmo quando todos estão errados pois nada sabem com certeza sobre o que está acontecendo.

Desperdício de tempo e dinheiro

Em 2020 muitos perceberam a grande quantidade de dinheiro desperdiçado com produtos e serviços que não eram tão necessários como imaginavam.

É provável que você tenha observado uma queda nas suas despesas em 2020. A crise obrigou muita gente a rever determinadas despesas e custos de vida.

As empresas perceberam que gastavam muito tempo com deslocamento e reuniões para tratarem de temas que poderiam ser resolvidos remotamente. Nem todos os profissionais dependiam de escritórios para trabalhar. Muitas empresas começaram a “fazer mais gastando menos”.

As pessoas reduziram seus gastos por força das limitações impostas e muitas perceberam que parte desses gastos eram desperdícios de tempo e dinheiro.

Se você mudou seus hábitos e conseguiu economizar algum dinheiro em 2020, aproveite essa oportunidade para fazer a sua reserva de emergência. Se você tem mais tempo livre agora, aproveite para estudar e aprender mais sobre investimentos. Como já vimos, os imprevistos sempre aparecem e eles nos devem encontrar preparados.

Reserva de emergência

O hábito de poupar e fazer reservas para enfrentar dias difíceis é muito antigo. No passado quando as pessoas viviam do campo, plantando e cultivando o que iriam comer, as reservas eram fundamentais para a sobrevivência.

A vida sempre foi uma questão de lidar com imprevistos e com os riscos impostos pela natureza. Um novo vírus nada mais é do que uma condição imposta pelo planeta.

Plantar é um investimento de risco, pois não sabemos se as condições climáticas, pragas e eventos da natureza vão permitir uma boa colheita. Plantar é uma aposta. Colher não é garantido. Viver também é uma aposta e nada está garantido. A reserva de emergência é a única coisa certa a ser feita.

Na vida urbana as pessoas perderam esse costume de criar suas próprias reservas e se prepararem para os imprevistos do ambiente social e da própria natureza. Um salário fixo, que gera uma renda fixa e segura todo mês, distorce a realidade. A estabilidade é ilusória. A reserva de emergência é uma necessidade real.

É claro que ninguém vai motivar você a fazer reservas, pois muitos ganham quando você é pego de surpresa. Os bancos ganham quando você precisa de dinheiro emprestado diante de uma emergência. Os políticos adoram quando a população desprevenida clama por auxílios, bolsas, subsídios e benefícios com o dinheiro públicos. É assim que eles fazem você acreditar que são importantes. Muitas vezes o político atrapalha a vida de todos para depois oferecer a solução com gasto de dinheiro público.

Quando temos reservas, quando estamos prevenidos, quando cuidamos do nosso próprio enriquecimento passamos a depender menos dos que lucram nos oferecendo ajuda. Entregamos menos poder e menos dinheiro para essas pessoas.

Sem Fundamentos

Existem crises que alteram os fundamentos da economia, dos mercados, das empresas e das vidas das pessoas. Isso aconteceu em 2020.

Se o ambiente sofreu profundas alterações precisamos prestar muita atenção nos resultados das economias e nos resultados das empresas nos próximos trimestres.

Os resultados que as empresas tiveram no passado estão profundamente relacionados com uma realidade que talvez não se repita mais. Ainda não sabemos se a vida das pessoas realmente voltará ao normal em 2021 ou nos próximos anos. Então devemos tomar muito cuidado ao investir considerando que tudo voltará a ser como no passado nos próximos meses.

Em entrevista recente, Ugur Sahin, homem por trás da Pfizer/BioNTech, empresa que desenvolveu a vacina que começou a ser usada nos EUA e em diversos países da Europa, disse: O vírus estará conosco pelos próximos 10 anos”. Ele ainda acrescentou Precisamos nos acostumar com o fato de que haverá mais surtos. Precisamos de uma nova definição de normal. Isso foi dito em uma coletiva de imprensa (22/12/2020) quando se falava sobre o surgimento de diversas variações do vírus (fonte). Ele sugere que isso não significa necessariamente que os países terão que fazer confinamentos perpétuos.

O fato é que as empresas (e as economias) precisam se adaptar para que continuem funcionando e lucrando mesmo com o vírus. Se os países precisam de mais hospitais, as obras já deveriam ter começado. Se as empresas precisam de adaptação perpétua, que isso comece a ser feito o mais rápido possível. É importante que todos saibam logo que as mudanças são perpétuas, se elas realmente forem.

Ugur Sahin diz que as pessoas deveriam ter cautela com a crença de que 60-70% da população mundial vacinada seria suficiente para evitar novos surtos. Segundo a reportagem, “se o vírus se tornar mais eficiente… podemos precisar de mais vacinas“. Atualmente as empresas que produzem vacina estão testando se a atual vacina será eficiente contra as versões mutantes que estão surgindo em alguns países.

O problema é que precisamos da informação correta sobre os fatos para que possamos tomar boas decisões. A impressão que tenho é que estamos todos vivendo na metáfora dos sapos dentro da panela.

O sapo da esquerda diz algo assim: “Pelos meus cálculos estamos sendo fervidos vivos“. O sapo do meio diz “Eu não sinto nada“. O sapo da direita acusa o primeiro de “Alarmista!“.

O problema é que nunca sabemos qual dos três sapos nos representam melhor a cada momento da crise. Neste momento os três sapos estão brigando e não sabem quem está realmente certo.

O que podemos perceber claramente é que as piores notícias são apresentadas para o grande público aos poucos para evitar que todos tentem pular da panela ao mesmo tempo.

Vou dar um exemplo que ocorreu no exterior, mas que também se repetiu no Brasil.

O Dr. Anthony Fauci, considerado um dos principais especialistas do mundo em epidemias e integrante da força-tarefa criada pela Casa Branca para responder à pandemia, assumiu que, de forma lenta e proposital, vinha “manipulando” as informações que divulgava publicamente nas entrevistas sobre a pandemia para preparar a população para a verdade. Na reportagem do The New York Time (fonte) ele disse acreditar que somente quando 90% da população tiver imunidade é que a doença será controlada. Isso é quase tanto quanto o necessário para parar um surto de sarampo.

O problema é que ele vinha aumentando esse número aos poucos propositalmente. Ele já tinha falado em 60%, depois aumentou para 70%, 80, 85% e agora ele já fala em 90%. Segundo a reportagem, pesquisas mostravam que muitos mais americanos já estavam prontos, ou seja, mesmo ansiosos, e agora poderia passar a dura mensagem de que o retorno ao normal pode levar mais tempo do que o previsto.

O problema é que as pessoas e as empresas tomam decisões tendo como base esses dados propositalmente manipulados e que só servem para acostumar as pessoas para algo pior. Inclusive, no dia 27/dezembro, ele declarou exatamente isso “Estamos realmente em um ponto muito crítico. Podemos ter um forte aumento de infectados por causa das viagens de fim de ano e da provável reunião de pessoas (…) o pior ainda está por vir”, afirmou (fonte). Não sabemos se isso é realmente o pior ou se ele está só preparando as pessoas para algo ainda pior nos EUA.

O mesmo Dr. Anthony Fauci, praticamente assumiu que mentiu para a população do seu país sobre a necessidade de usar máscaras, pois sua maior preocupação no momento era evitar que as pessoas comprassem máscaras esgotando os estoques que o governo pretendia fazer. Somente quando existiam estoques ele resolveu falar a verdade (fonte). A própria OMS (fonte) afirmava em 30 de março de 2020 que “não recomendava o uso de máscaras para pessoas saudáveis da população.” Somente quando todos conseguiram estocar as máscaras é que mudaram o discurso e falaram a verdade para a população.

Aqui no Brasil também tivemos o mesmo discurso e as mesmas estratégias. Então devemos ter muito cuidado com decisões de investimentos tendo como base informações e notícias propagadas por políticos, especialistas e jornalistas, pois não sabemos até que ponto estão falando a verdade ou se a verdade está sendo amenizada ou distorcida para atender determinados interesses.

Sem boa informação fica difícil tomar boas decisões.

Para quem investe em ações é importante prestar atenção nos números sobre a recuperação da economia e os resultados financeiros das empresas que serão divulgados nos próximos trimestres. Recomendo ir direto na fonte e utilizar ferramentas por conta própria, evitando se deixar influenciar por notícias.

Toda a alta que tivemos em 2020 no processo de recuperação das bolsas (no Brasil e no exterior) reflete uma aposta do mercado de que tudo voltará ao normal após a vacinação, ou seja, existe a aposta de que em breve as empresas terão suas receitas recuperadas, lucros e crescimento.

Se ocorrer uma frustração dessas expectativas otimistas sobre o futuro é certo que as ações e fundos imobiliários serão reespecificados para baixo. Mas enquanto as expectativas dos investidores forem positivas e otimistas, os preços dos principais ativos devem continuar subindo como aconteceu em 2020.

Mais Diversificação

O ano de 2020 nos mostrou a importância de ter uma carteira de investimentos diversificada com ativos de baixo risco (reserva de emergência) e ativos que possam se valorizar nas crises (ativos de maior risco).

Como não temos uma informação precisa sobre a realidade, já que essa realidade pode estar sendo fabricada, manter investimentos diversificados é um caminho.

Através de uma corretora no Brasil ou mesmo no exterior se tornou fácil e barato diversificar. No exterior temos a vantagem de diversificar investindo em ativos cotado em moeda forte e em países de economia desenvolvida, sendo que nunca foi tão fácil fazer investimentos lá fora quanto agora. Leia este livro.

No Brasil precisamos estudar os resultados e fundamentos das empresas com muita atenção tendo cuidado com os que tentam nos influenciar. No meu entendimento é importante que em 2021 você tenha o conhecimento e as ferramentas necessárias para acompanhar os resultados das empresas (análise fundamentalista) e tenha o conhecimento para estudar o comportamento dos preços dos ativos (análise técnica).

Espero poder continuar ajudando os leitores do Clube dos Poupadores com os artigos semanais (para receber basta se inscrever aqui) e com os meus livros sobre investimentos.