Se você costuma pagar suas contas com atraso, talvez nunca tenha refletido sobre a quantidade de dinheiro que você já jogou pela janela e quanto ainda vai jogar no decorrer da sua vida, pagando multas, taxas e juros por atraso.
Esse dinheiro desperdiçado, parece pouco no presente, mas no longo prazo pode fazer a diferença entre ter uma vida financeira confortável ou ter uma vida com privações. No artigo anterior falei sobre “como sair das dívidas“, que costuma ser o futuro dos que cultivam o mau hábito de pagar contas atrasadas.
A legislação permite que as empresas cobrem multa de 2% por atraso mais 1% de juros ao mês quando você deixa de pagar suas contas no dia do vencimento. Para atrasos no pagamento do cartão de crédito, atrasos podem se transformar em empréstimos com as maiores taxas do mercado. O hábito de pagar contas com atraso produz um efeito “bola de neve” que não pode ser ignorado, pois compromete a sua qualidade de vida futura.
No mundo do dinheiro, os problemas mais graves estão sempre por vir, eles estão sempre nos esperando em algum lugar no futuro. Para o presente, existem formas de adiar, remediar e empurrar as dificuldades financeiras para o amanhã, mas sempre gerando um custo embutido, as vezes invisível, que degrada a nossa qualidade de vida futura.
Parece pouco pagar 1% de juros ao mês por atrasos, mas no longo prazo, durante uma vida inteira de pagamentos de juros e multas, o estrago será muito grande.
Vamos imaginar alguém que gaste R$ 100,00 por mês, desnecessariamente, pagando juros, multas e taxas geradas por algum tipo de atraso em pagamentos de todos os tipos. Vamos imaginar que essa pessoa conseguiu acabar com esse mau hábito e passou a juntar esse dinheiro todos os meses. Vamos supor que no lugar de pagar 1% de juros por multa essa pessoa passou a receber 1% de juros todos os meses através dos seus investimentos.
Durante uma vida inteira, entre 25 anos e os 75 anos de idade (50 anos) esses R$ 100 mensais se transformariam em quase R$ 4 milhões se fossem rentabilizados com 1% de juros ao mês. Faça as suas próprias simulações de juros com valores diferentes, prazos diferentes e taxas de juros diferentes.
Assim como os juros podem trabalhar para enriquecer uma família no longo prazo, eles também podem trabalhar para empobrecer.
O dinheiro que você desperdiça todos os meses pagando juros e multas por pagar contas atrasadas não retorna para você. Você literalmente está jogando dinheiro pela janela.
Ter plena consciência do impacto financeiro de pequenos desperdícios no decorrer de uma vida inteira é fundamental para que você tenha motivação para acabar com o hábito de pagar contas atrasadas.
Muitos educadores financeiros populares criticam as pequenas despesas como sendo as responsáveis pela falta de poupança e problemas financeiros.
Você provavelmente já viu alguém na televisão criticando os gastos diários das pessoas com pequenos prazeres com o cafezinho ou suas variações mais caras como o espressos, cappuccinos, frappuccinos, etc. Conheço pessoas que sentem profunda antipatia pela educação financeira graças a isso.
A origem do problema não está no custo dos pequenos prazeres. O problema está na falta de consciência sobre a relação de custo-benefício dessas pequenas despesas. Se você vai gastar centenas de milhares de reais durante a vida com pequenos prazeres e tem plena consciência sobre onde está colocando o seu dinheiro, está tudo certo e ninguém tem nada a ver com isso.
Já no caso de uma vida pagando de juros e multas por atrasos, a situação é diferente. Você não colherá qualquer benefício e talvez não tenha consciência do tamanho do prejuízo. É um dinheiro que você poderia gastar com pequenos prazeres no presente ou poupar e investir para realizar objetivos maiores e igualmente prazerosos no futuro.
O que você jamais deve fazer é: conduzir a sua vida financeira sem consciência. Você não pode fechar os olhos para as consequências de cada decisão envolvendo o dinheiro. Você sabotar o seu futuro por não querer encarar a realidade de frente no presente. Assista ao trecho do vídeo antes de continuar (1 minuto):
Manter as contas atrasadas por vários dias, dentro da caixa de correios, é uma forma de priorizar a tranquilidade presente, ignorando os problemas, sem qualquer preocupação com as consequências futuras como o pagamento de juros, multas e outros prejuízos provocados por adiar.
Ao transferir as dívidas de hoje para o próximo mês, através de dívidas no cartão de crédito, estamos sabotando o nosso futuro. É a garantia de que teremos mais um mês de dificuldades pela frente.
No lugar de prevenir, tendemos a remediar os problemas financeiros até que eles se tornem graves demais para serem conscientemente ignorados.
Esse problema, como muitos que afetam a vida financeira das pessoas, tem uma estreita relação com o comportamento humano. Assista ao vídeo (2 minutos):
Esse modo de “pensar automático”, instintivo ou irracional, não é capaz de refletir sobre consequências futuras, relações de custo-benefício, probabilidades, riscos, etc.
Pensar racionalmente exige esforço e não costuma ser agradável, pois racionalmente nem tudo que você quer fazer, pode ser feito. Nem tudo que pode ser feito, deve ser feito. Nem tudo que deve ser feito, você quer fazer.
Na busca de um equilíbrio entre querer, poder e dever, precisamos pensar racionalmente. Muitas vezes devemos confrontar os nossos instintos, que só pensa em fugir da dor e buscar o prazer imediato, sem preocupações com as consequências futuras, que não podem ser negadas no mundo moderno.
O Prof. Calabrez (no vídeo acima) diz que a única coisa que nos resta é tentar lidar com o fato de que a evolução (do nosso cérebro) leva muito tempo para acontecer (séculos ou milênios), mas isso não significa que você não deva evoluir culturalmente.
Devemos construir a nossa própria evolução cultural. É justamente por essa evolução que gastamos tanto tempo e energia tentando educar os nossos filhos. Temos um lado consciente que depende do nosso esforço para evoluir. Se a humanidade contasse apenas com o seu lado instintivo, ainda estaríamos na completa barbárie.
“O homem desenvolveu vagarosa e laboriosamente a sua consciência, num processo que levou um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado (4000 A.C. com a invenção da escrita). E esta evolução está longe da conclusão, pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas” Carl Jung.
Sem essa consciência de que algo dentro de nós (animal) se contrapõe ao que realmente somos (humanos) fica muito difícil lidar com todos os problemas que envolvem as finanças, pois o dinheiro é uma criação recente, resultado de um processo civilizatório. Nossa natureza mais primitiva não está preparada para lidar com questões financeiras. A própria escrita, como mostro neste artigo do meu site pessoal, foi criada para nos ajudar nessas decisões do mundo moderno.
Segunda parte do vídeo (menos de 1 minuto):
O autor do curso recomendou o exercício de anotar todas as despesas. Aqui no Clube dos Poupadores temos uma planilha que ajuda a fazer um orçamento familiar. É uma forma eficaz de ter consciência sobre o que estamos fazendo com o nosso dinheiro.
O problema é que ter consciência não é gostoso, não é prazeroso, é desconfortável, dá trabalho e pode resulta em decepções. Alguma coisa dentro de nós deseja a ordem, a outra trabalha para a manutenção da desordem.
Rapidamente a senhora do vídeo dispara uma série de frases, como se estivesse pensando em voz alta:
“Eu tenho que saber o que eu posso fazer”.
“Só que eu não obedeci. Tinha que anotar todos os gastos”.
“Ahhhhhhkkk, a gente não tem folego…”
“faz muita coisa hoje em dia…”
“mas pelo menos, uma hora do dia, sentar e anotar…”
“eu não fiz isso…”
“porque são nessas pequenas coisas que a gente não vê para onde vai o dinheiro”.
Nesse pequeno conjunto de frases é possível observar duas senhoras diferentes.
Uma parte da mente da senhora (frases azuis) tem consciência de que precisa saber para onde vai o dinheiro. Ela sabe que precisa ter consciência sobre os seus gastos. Ela sabe que só precisa de um pouco de dedicação diária para anotar. O problema é que alguma coisa dentro dela, em oposição a tudo disso, aparece no meio do raciocínio, (frases vermelhas) para resmungar e relutar contra todas essas ideias: “Ahhhhhhkkk, a gente não tem folego…”
A nossa vida financeira é o resultado dessa “briga” entre dois “sujeitos” que habitam um único ser.
Uma senhora consciente e uma senhora inconsciente. Uma senhora que pensa racionalmente e outras que toma decisões por impulsos. Uma pensa no futuro, a outra só conhece o presente e não se importa em sabotar esse futuro.
A senhora que comprou o curso de finanças é uma. A senhora que desistiu do curso de finanças diante da primeira tarefa, é outra.
A senhora que adia a abertura das contas na caixa de correspondências, transfere as dívidas para o próximo mês, sabotando o próprio futuro é uma. A senhora que busca soluções para esses problemas é outra.
É uma guerra interna, não declarada.
… psicólogos admitem a existência de uma psique inconsciente apesar de muitos cientistas e filósofos negarem-lhe a existência. Argumentam ingenuamente que tal pressuposição implica a existência de dois “sujeitos” ou duas personalidades dentro do mesmo indivíduo. E estão inteiramente certos: é exatamente isto o que ela implica. É uma das maldições do homem moderno esta divisão de personalidades. Não é, de forma alguma, um sintoma patológico: é um fato normal, que pode ser observado em qualquer época e em quaisquer lugares. O neurótico cuja mão direita não sabe o que faz a sua mão esquerda não é o caso único. Esta situação é um sintoma de inconsciência geral que é, inegavelmente, herança comum de toda a humanidade – Carl Jung.
Esse algo consciente dentro de nós que buscam o conhecimento, a organização, planejamento, racionalidade e a justiça dos nossos atos no presente com relação a construção do nosso futuro é o que nos torna humano em desenvolvimento.
A consciência é uma aquisição muito recente da natureza e ainda está num estágio experimental – Carl Jung.
Uma vida mais consciente é a base para o sucesso em muitas áreas da vida moderna. Nossa consciência é algo em desenvolvimento, um experimento individual que só depende de nós para ser bem-sucedido.
Dificilmente você terá equilíbrio financeiro se não estiver plenamente consciente sobre todos os seus gastos, receitas, investimentos e todos os seus hábitos (bons e ruins) envolvendo o dinheiro. Cursos e livros apenas apontam os caminhos. Conhecer o caminho é diferente de trilhar o caminho.
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