O que você faria se conseguisse um empréstimo ou financiamento com juros de apenas 2,5% ao ano. Imagine se o BNDES estivesse disposto a oferecer milhões de reais para você com taxa de apenas 0,20% ao mês e prazo de pagamento de 10 anos (120 parcelas).

Considerando que até a poupança paga mais de 2,5% ao ano, seria uma verdadeira insanidade recusar um dinheiro tão barato.

Todos querem dinheiro barato e por isso quero propor aqui uma reflexão sobre uma realidade que poucos conhecem e que muitos defendem, sem a clara compreensão do que significa.

O BNDES divulgou uma curiosa lista de todas as aeronaves (jatinhos) financiadas com “dinheiro barato” através do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) nos últimos anos. Esse programa costuma ser chamado de Bolsa Empresário.

Muitos empresários conhecidos, políticos e até artistas (fonte), comparam jatinhos que custaram dezenas de milhões de reais com juros a partir de 2,5% ao ano. A dívida poderia ser quitada em até 120 prestações mensais (10 anos).

Isso era possível graças aos subsídios oferecidos pelo Tesouro Nacional. De forma grosseira, podemos dizer que o Tesouro estava vendendo títulos públicos oferecendo juros elevados (para pequenos e grandes investidores) e isso permitia ao BNDES ter recursos para oferecer dinheiro com juros baixos para a compra de bens que pudesse estimular a economia.

No gráfico acima, divulgado pelo próprio BNDES (fonte) é possível comparar a Taxa Selic entre 2009 e 2014 e a taxa que era cobrada nos financiamentos de jatinhos.

Como a Taxa Selic é a base para o cálculo da remuneração de todos os investimentos de renda fixa (CDB, LCI, LCA, poupança etc.) podemos dizer que os juros cobrados ao ano foram bem menos que os piores investimentos de renda fixa existentes no mercado (como a poupança).

Se você fosse alguém que tivesse milhões aplicados na renda fixa e precisasse comprar um jatinho, seria um enorme erro retirar o seu dinheiro do seu investimento (por pior que ele fosse) para comprar o avião à vista. A mesma lógica poderia ser aplicada no caso de uma empresa com milhões ou bilhões em caixa, mas que tivesse acesso a financiamentos com juros baixos.

Matematicamente falando faria total sentido manter o seu dinheiro investido para utilizar os juros do investimento para pagar os juros do financiamento enquanto você usufrui do bem adquirido. Você ainda teria um ganho adicional, já que os juros recebidos no investimento de renda fixa seriam maiores que os juros pagos pelo financiamento.

Já faz algum tempo que escrevi um artigo chamado “Como Ficar Rico Fazendo Dívidas” explicando como muitos ricos (do mundo inteiro) tiram vantagens de empréstimos e financiamentos com juros baixos que os bancos (públicos e privados) oferecem. No artigo, você verá que uma dívida para um empresário é bem diferente de uma dívida para uma pessoa física que depende de um emprego.

Enquanto a pessoa trabalha duro para pagar os juros da dívida, as dívidas dos empresários são pagas pelos juros dos seus investimentos ou pela renda gerada pelo bem que foi adquirido no financiamento.

Primeiro é importante perceber que as pessoas realmente ricas possuem empresas. Elas vivem da renda gerada pelos lucros, juros, aluguéis, ganhos de capital etc. Elas não precisam gerar renda vendendo tempo e trabalho em troca de um salário fixo. Quanto mais bens que geram renda elas possuem, mais ganham e nem sempre elas precisam gastar dinheiro do próprio bolso para comprar bens que geram renda.

Grande parte do patrimônio que essas pessoas ricas possuem pertence a suas empresas. Carros, aviões, imóveis, terrenos, ações de outras empresas, fábricas, lojas, tudo que os mais ricos possuem fica em nome de suas empresas. Normalmente as pessoas ricas concentram o patrimônio de todos os seus familiares em uma única empresa.

Essas empresas normalmente possuem enorme facilidade para conseguirem empréstimos com juros muito baixos. As empresas possuem muito patrimônio que garantem o pagamento da dívida. Riscos menores, juros menores. Não é exagero afirmar que muitas vezes os bancos fazem fila nas portas dos escritórios dos mais ricos oferecendo dinheiro emprestado, pois compreendem que o risco de inadimplência é mínimo.

Quando você é muito rico, existem situações onde os juros são tão vantajosos que não faz sentido comprar qualquer coisa à vista ou utilizando o próprio dinheiro.

Quando você observa uma fábrica, uma grande loja, prédio ou qualquer empreendimento sendo construído por alguma pessoa muito rica da cidade onde você mora, provavelmente essa pessoa não tirou nenhum tostão do próprio bolso para realizar o empreendimento. Tudo costuma ser financiado com juros muito baixos e muitos anos para pagar.

Só que no caso do BNDES a situação foi extrema. Nenhum banco privado ofereceria empréstimos com recursos próprios cobrando juros menores que a Taxa Selic, mas quando eles são os intermediários do BNDES podem oferecer dinheiro barato com juros subsidiados com recursos públicos.

É claro que isso acaba ajudando a aumentar a dívida pública. A dívida pública é construída quando o governo gasta mais do que arrecada e precisa pedir dinheiro emprestado para a sociedade através da venda de títulos públicos. No site do Tesouro existe até um boletim bimestral com informações relativas ao impacto fiscal das operações do Tesouro Nacional com o BNDES.

Se você não tem dinheiro para comprar um carro popular, dificilmente você conseguirá um financiamento com taxa anual menor do que 20% ao ano. Se você fosse muito rico, poderia comprar até um avião pagando 2,5% ao ano, como ocorreu no passado.

Os bancos só emprestam dinheiro com juros baixos para quem não precisa, ou seja, para quem tem muitos investimentos ou muitos bens como garantia. Para quem precisa, eles cobram juros muito elevados e como as pessoas aceitam pagar esses juros sem reclamar, eles continuam cobrando taxas elevadas. Os ricos jamais aceitariam qualquer financiamento ou empréstimo com juros que não fazem qualquer sentido. Existe um verdadeiro abismo na educação financeira que separa os mais ricos dos mais pobres.

Aqui no Clube dos Poupadores temos uma página com um Simulador de Financiamento de Carro onde é possível acessar uma tabela atualizada com uma pesquisa que o Banco Central faz entre todos os bancos que oferecem financiamentos de veículos.

Os juros baixos oferecidos pelo BNDES ficou popularmente conhecido como “bolsa empresário”, mas seu objetivo (na teoria) era o de aumentar as taxas de investimento do Brasil. Segundo o IPEA, isso não aconteceu (fonte).

No final todos perdem

Existem certas decisões que o governo toma onde, aparentemente, todos ganham no curto prazo, mas no longo prazo todos perdem.

Você provavelmente deve se lembrar desse pensamento confuso da ex-presidente: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder” (fonte).

No caso desses financiamentos do BNDES com juros baixos, todos os envolvidos ganham, mas no fim todos acabam perdendo, pois todos afundam no mesmo barco.

  • Os investidores (do pequeno até o grande) que compraram títulos público até 2016 conseguiram taxas de juros muito elevadas.
  • Os sócios de empresas que venderam produtos financiados com esse dinheiro barato do BNDES ganharam muito através do aumento das vendas.
  • Os bancos lucraram intermediando os financiamentos com o dinheiro do BNDES e de outros fundos que financiam empresas.
  • Os empresários e os famosos que conseguiram empréstimos e financiamentos com juros subsidiados com recursos públicos ganharam, assim como as pessoas mais pobres que financiaram imóveis com juros baixos em programas como o Minha Casa Minha Vida.
  • O governo ganhou com o aumento da arrecadação, pois existem muitos impostos sobre os preços de máquinas, aviões, veículos e imóveis financiados com o dinheiro barato. Os governos também cobram impostos sobre a propriedade das pessoas e empresas, como IPVA, IPTU e outros.
  • Os políticos que estavam no poder ganharam a simpatia dos empresários e dos famosos que conseguiram dinheiro barato, assim como a simpatia dos empregados desses empresários que tinham emprego garantido enquanto existisse dinheiro barato para financiar o crescimento.

Como você pode ver todos pareciam muitos felizes. Teoricamente todos estavam ganhando no curto prazo, mas no longo prazo nada disso poderia se sustentar por muito tempo.

O país afundou em uma crise onde todos perderam de alguma forma. Todos estão lamentando perdas, mas alguns lamentam enquanto viajam de jatinhos financiados em 120 vezes com juros de 2,5% e outros lamentam dentro de um ônibus lotado com os bolsos repletos de dívidas atrasadas.

Infelizmente existem muitos brasileiros que alimentam algumas crenças econômicas que não funcionam no longo prazo, mas podem promover a alegria de muitos no curto prazo.

Podemos resumir esses pensamentos econômicos através da seguinte imagem:

Se você não entendeu, a outra imagem pode ajudar. Existem muitos políticos e economistas que acreditam que podem fazer uma economia crescer e prosperar usando a mesma lógica da figura:

Prosperidade! Agora é hora de estimular a economia com gastos do governo (isso inclui empréstimos e financiamentos com juros subsidiados com dinheiro público)

Não adianta o político (personagem de gravata da figura acima) fingir que a economia está crescendo tirando dinheiro caro de um lado e colocando esse dinheiro barato do outro. Muitas economias já afundaram graças ao pensamento acima. Essa visão equivocada afeta dos mais pobres até os mais ricos, do trabalhador ao empresário, do político de esquerda até os de direita.

Todos querem dinheiro barato, todos querem subsídios do governo, todos quem vantagens, isenções, benefícios, descontos e privilégios, mas ninguém quer saber quem vai pagar essa conta que nunca fecha.

Esse problema não acontece só no Brasil, é um problema mundial. Todos os rumores de crise que podemos observar pelo mundo neste momento possuem como origem essa ideia equivocada.

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