No Brasil, a forma como os impostos são apresentados nas notas fiscais pode enganar até os consumidores com algum nível de educação financeira.

Os políticos brasileiros escolheram calcular o percentual do imposto sobre o preço final (e não sobre o preço original). Isso reduz a percepção do impacto tributário, como exemplificado no caso do shampoo que veremos no vídeo abaixo. Em outros países, como na UE, Canadá, Reino Unido, Austrália e Japão, a prática comum é mostrar o preço líquido e o imposto separadamente, com o percentual do imposto calculado sobre o preço líquido. Isso torna o impacto tributário mais evidente.

Por exemplo:

  • No Brasil, o shampoo (vídeo abaixo) de R$ 25,99 tem R$ 9,83 de impostos (37,82% do preço final), mas o imposto é 60,83% do preço original (R$ 16,16).
  • Na Alemanha, um produto equivalente mostraria o preço líquido (€ 16,16, por exemplo) e o VAT (€ 3,07, ou 19%), com o percentual calculado sobre o preço líquido, deixando claro o impacto real.

Vamos mostrar o shampoo que custa R$ 25,99, com R$ 9,83 de impostos, para revelar como o governo usa números para mascarar a verdadeira carga tributária, beneficiando a si mesmo e confundindo a população. O exemplo foi retirado do vídeo abaixo:

O autor do vídeo, do canal “Doutor Equilíbrio”, desmascarou  essa prática, apresentando como o preço original do produto é inflacionado e explicou por que os empresários, muitas vezes demonizados, são apenas arrecadadores forçados de um Estado fiscalmente irresponsável.

O Caso do Shampoo: Os Números na Nota Fiscal

Imagine que você compra um shampoo de 400 ml por R$ 25,99. Na nota fiscal, está indicado que R$ 9,83 desse valor são impostos, sendo R$ 4,63 de PIS/COFINS e R$ 5,20 de ICMS. A nota também informa que os impostos representam 37,82% do preço final. À primeira vista, pode parecer que o governo está “levando” pouco mais de um terço do que você pagou. Mas será que essa é a história completa? Vamos analisar os números com cuidado.

Calculando o Percentual do Imposto

O percentual de 37,82% é calculado com base no preço final do produto (R$ 25,99). Vamos verificar:

(9,83/25,99) × 100 ≈ 37,82%

Esse cálculo está correto. Do total de R$ 25,99 que você pagou, R$ 9,83 (ou 37,82%) vão para o governo na forma de impostos. Parece razoável para algumas pessoas, não é? Mas essa forma de apresentar o imposto esconde uma verdade cruel: o impacto real do imposto sobre o preço original do produto.

O Preço Original e o Aumento Real do Imposto

Agora, vamos olhar para o preço do shampoo antes dos impostos. Se o preço final é R$ 25,99 e os impostos são R$ 9,83, o preço original (sem impostos) é R$ 16,16 já que: 25,99 – 9,83 = R$ 16,16

Ou seja, o shampoo, sem os impostos, custaria apenas R$ 16,16. O imposto de R$ 9,83 é adicionado pelo governo, tornando o produto mais caro. Mas quanto, exatamente, esse imposto aumenta o preço? Vamos calcular o aumento percentual em relação ao preço original:

(9,83/16,16) × 100 ≈ 60,83%

Isso significa que o imposto de R$ 9,83 faz o shampoo ficar 60,83% mais caro do que o preço original de R$ 16,16. Em outras palavras, você está pagando mais da metade do valor original só em impostos! Compare isso com os 37,82% da nota fiscal: o número menor dá a impressão de que o imposto é menos pesado do que realmente é.

Por Que 37,82% Parece Menos Doloroso?

A diferença entre 37,82% e 60,83% está na base de cálculo. O percentual de 37,82% usa o preço final (R$ 25,99), que já inclui o imposto, como referência. Isso dilui o impacto percebido do imposto. Já o percentual de 60,83% usa o preço original (R$ 16,16), mostrando o quanto o governo adiciona ao custo real do produto. Para o consumidor, 37,82% soa como “um terço do preço”, enquanto 60,83% revela que o imposto representa mais da metade do valor original. Qual número você acha que impressiona mais?

Essa forma de apresentação dos 37,82% beneficia o governo, pois faz a carga tributária parecer menos agressiva. Notas fiscais nunca mostram o aumento percentual sobre o preço original, o que dificulta que o consumidor perceba o verdadeiro impacto dos impostos. Essa falta de transparência protege políticos que aprovam impostos altos, enquanto a população sente o peso no bolso sem entender completamente por quê.

O Shampoo em Mililitros: Uma Analogia Visual

Para ilustrar ainda mais, vamos aplicar a proporção do imposto ao conteúdo do shampoo. Se o frasco tem 400 ml, quanto do produto representa o imposto? Usando a mesma proporção de 37,82% (ou, equivalentemente, a razão do imposto sobre o preço final):

(9,83/25,99) × 400 ≈ 151,29 ml

Isso significa que, dos 400 ml do shampoo, cerca de 151 ml equivalem ao valor pago em impostos. Ou seja, mais de um terço do frasco é “pago” ao governo. Agora, se pensarmos em termos do preço original, os 60,83% mostram que o imposto encarece tanto o produto que é como se você estivesse pagando por um frasco muito maior do que realmente precisava.

Como o Governo Joga a População Contra os Empresários

Muitas vezes, quando os preços estão altos, a população culpa os empresários, acusando-os de “ganância”. Mas vamos esclarecer: o empresário não fica com os R$ 9,83 de impostos. Ele é obrigado a arrecadar esse valor para o governo, atuando como um verdadeiro cobrador de impostos. No caso do shampoo, o empresário entrega R$ 16,16 pelo produto (o custo real da indústria, lucro da indústria, transporte, custos e lucro do comerciante, etc.) e é forçado a adicionar R$ 9,83 de impostos, totalizando os R$ 25,99. Se ele não cobrar esses impostos, enfrenta multas pesadas ou até prisão.

Podemos afirmar que, no exemplo do shampoo com preço original de R$ 16,16, uma das menores partes desse valor é referente ao lucro líquido do comerciante (varejista) e da indústria. Os lucros líquidos, estimados entre 10% e 25% do preço original (R$ 1,62 a R$ 4,04), são significativamente menores que os custos operacionais (que consomem a maior parte do R$ 16,16) e, especialmente, que os impostos (R$ 9,83, ou 60,83% do preço original). Essa realidade destaca como a carga tributária no Brasil onera o consumidor final e mascara o impacto real, enquanto os lucros da indústria e do comércio são proporcionalmente pequenos.

Enquanto isso, o governo, que não produz o shampoo, fica com 37,82% do preço final sem assumir os riscos ou custos da produção. Pior ainda: políticos frequentemente desviam a culpa para os empresários, deixando a população acreditar que os preços altos são culpa do “comércio explorador” e do capitalismo. Na verdade, o maior “explorador” é o Estado, que impõe uma carga tributária abusiva e usa a apresentação de percentuais menores, como os 37,82%, para mascarar sua responsabilidade.

O Estado Fiscalmente Irresponsável

O Brasil é conhecido por sua alta carga tributária, mas o que recebemos em troca? Escolas precárias, saúde pública colapsada, infraestrutura deficiente e corrupção endêmica. Enquanto você paga 60,83% a mais pelo seu shampoo, políticos gastam bilhões em projetos duvidosos, aumentam seus próprios salários e mantêm privilégios insustentáveis. A falta de transparência na forma como os impostos são apresentados nas notas fiscais é apenas uma parte do problema. O governo sabe que, se mostrasse que os impostos tornam os produtos 60,83% mais caros, a indignação popular seria muito maior.

Essa prática de apresentar o imposto como 37,82% do preço final, em vez de 60,83% do preço original, é conveniente para o Estado. Ela reduz a percepção do impacto tributário, acalma os ânimos e permite que políticos continuem gastando de forma irresponsável, sem prestar contas claras à população. Enquanto isso, o consumidor e o empresário pagam o preço – literalmente.

O Que Você Pode Fazer?

Como consumidor e pagador de impostos, você tem o direito de exigir transparência e responsabilidade. Aqui estão algumas ações práticas:

  1. Entenda os números: Sempre que possível, calcule o impacto do imposto sobre o preço original do produto. Divida o valor do imposto pelo preço sem impostos e multiplique por 100. Isso revela o verdadeiro peso da carga tributária.
  2. Questione os políticos: Use as redes sociais para cobrar explicações sobre como seu dinheiro está sendo usado. Pergunte por que pagamos tanto em impostos e recebemos tão pouco em serviços públicos.
  3. Apoie os empresários locais: Lembre-se de que os comerciantes não são os vilões. Eles são obrigados a arrecadar impostos para o governo, muitas vezes enfrentando burocracia e margens de lucro apertadas. Assim como você, os empreendedores são explorados pelo Estado.

Jogar os trabalhadores contra os empregadores é uma estratégia mesquinha, típica de regimes que precisam manter o povo dividido para justificar sua interferência constante.

Nada interessa mais ao poder centralizador do que transformar o empreendedores e investidores em inimigos públicos, quando na verdade eles são um dos maiores aliados da prosperidade de um povo. Lembre-se de que os empreendedores enfrentam uma verdadeira selva de impostos, licenças, taxas e regulações arbitrárias, tudo isso para continuar oferecendo empregos, produtos e serviços à sua comunidade.

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