Você já comprou algum ativo (ação, moeda, imóvel, etc) que se valorizou muito nos últimos tempos, acreditando que poderia ganhar dinheiro fácil revendendo esse ativo para outra pessoa?
Quando você paga muito caro por alguma coisa acreditando que sempre haverá alguém ainda mais tolo que você para pagar mais caro ainda por ela, corre o sério risco de estar diante de uma bolha especulativa e de ser você o tolo maior.
Agora mesmo estamos diante deste fenômeno. Por isto, vou aproveitar para utilizar este exemplo. Ele está acontecendo nas bolsas da China. Se você acompanhou o noticiário da semana deve ter percebido que alguma coisa estranha está acontecendo do outro lado do mundo.
Quando este artigo foi escrito a queda na principal bolsa chinesa superava 30% em menos de um mês (entre junho e julho de 2015). Muitos especialistas estavam dizendo que se tratava do início do estouro de uma bolha na bolsa chinesa com risco de reflexos negativos em todo mundo para os próximos meses. Na verdade, qualquer fato negativo que prejudique a economia chinesa acaba interferindo negativamente em todas as economias do mundo.
Vou mostrar que você não precisa ser um especialista para ser capaz de identificar que alguma coisa estranha está acontecendo com os preços das ações das empresas chinesas. Basta olhar o gráfico abaixo (fonte). De forma simples podemos dizer que bolhas se caracterizam por uma forte alta no preço de um determinado ativo (ações, imóveis, etc) sem que existam fundamentos claros para isto ou sem sustentabilidade. O ativo passa a ter um preço maior do que aquilo que ele realmente vale. Em um determinado momento as pessoas percebem que existe esta disparidade e o preço começa a despencar.
Veja o SSE Composite Index que é o índice que mede o desempenho da Bolsa de Xangai.
Nem os lucros das empresas chinesas e nem a economia chinesa cresceram o suficiente para justificar a alta no preço das ações nos últimos 12 meses. Desta forma, a alta que chegou a registrar mais de 150% não tinha nenhum fundamento.
Tudo indica que os chineses começaram a comprar ações empolgados com os resultados do passado. Quanto mais pessoas se interessavam pelas ações mais os preços subiam. Quanto mais os preços subiam, mais pessoas se interessavam por comprar ações. Isto acabou criando um efeito manada onde todos compram ou vendem sem saber o que estão fazendo.
Na China, 80% dos investidores da bolsa são pessoas físicas. Milhões de chineses começaram a fazer seus primeiros investimentos na bolsa de valores nos últimos meses. No total são mais de 90 milhões de investidores pessoas físicas, muitos iniciantes e leigos que estão sofrendo as consequências daquele velho comportamento que é fazer o que os outros fazem sem saber o que está fazendo.
Quando a alta dos preços chegou em um determinado patamar, os investidores mais experientes começaram a realizar lucros, ou seja, vendem suas ações quando os preços estão nas alturas. Quem compra é justamente aquele que ficou sabendo da alta por último (o tolo maior) e ainda tem a esperança de que os preços vão continuar subindo (na esperança de encontrar um tolo maior ainda).
O resultado da queda de braço entre o investidor mais experientes ou grandes investidores e o investidor iniciante está representado na figura abaixo. No final os pequenos investidores ficam com as ações caras e os maiores investidores levam o dinheiro deles para casa.
O mais triste nestas bolhas é que muitos investidores iniciantes vendem imóveis, se desfazem de seus bens e até pedem dinheiro emprestado para investir na bolsa de valores. Até as grandes empresas chinesas fizeram empréstimos e utilizaram suas ações como garantia de pagamento.
Mesmo quem não investe na bolsa precisa observar o que acontece no outro lado do mundo. Muito do que o Brasil produz e exporta é comprado por países como a China, principalmente soja e minério de ferro. Problemas econômicos na China afetam grande parte das empresas brasileiras que exportam commodities. Em apenas um dia o preço do minério de ferro, por exemplo, caiu cerca de 10%. O preço das ações de empresas exportadoras como a Vale já foram impactados.
Problemas econômicos em países emergentes aumenta a fuga de investidores internacionais de países como o Brasil. Isto força o governo a manter taxas de juros elevadas para manter o interesse destes investidores pelo investimento de maior risco. A queda do real frente ao dólar observada nos últimos dias já seria um reflexo desta fuga, já que o investidor internacional precisa comprar dólares com os reais que possui para poder retirar o dinheiro do país.
Estes momentos de tensão também geram oportunidades de investimento em títulos públicos, já que as taxas de títulos como o Tesouro IPCA+ sobem em momentos de tensão. O mesmo acontece no mercado de ações, já que a saída de investidores estrangeiros afeta o preço de quase todas as ações listadas na bolsa, isto permite comprar boas ações por preços menores.
Evite ser o tolo maior:
O que move as pessoas para dentro de bolhas especulativas é a ganância, as decisões impensadas e o enorme desejo de fazer aquilo que todos estão fazendo. Se todos estão comprando imóveis, você quer comprar para ser um cara legal e esperto como seus amigos, mesmo que você não tenha a menor ideia se está ou não fazendo uma boa escolha. Se todos estão investindo em títulos públicos, você quer investir também, embora não queira fazer um curso, não queira ler um livro para aprender se deve mesmo fazer ou como deve fazer. Se todos estão pagando previdência privada, você não quer ser diferente e aceita a primeira proposta que aparece confiando na sugestão do gerente do banco. O mesmo acontece com quem investe em ações ou em qualquer outra modalidade de investimento.
Fases de uma bolha especulativa:
Na figura acima é possível observar que os investidores mais experientes e bem informados são os primeiros a investir, depois temos os investidores institucionais como os gestores de fundos de investimento e por último temos a entrada da grande massa de pequenos investidores e população leiga que corre em busca de dinheiro rápido e fácil.
A bolha estoura na fase de dúvida e de negação da realidade. Depois temos um pequeno retorno até a normalidade que é conhecida como a “armadilha para o touro” antes do preço despencar até o fundo do poço.
No mundo da bolsa de valores a figura do touro (Bull Market) representa a força de alta. O touro ataca abaixando a cabeça e jogando sua força em um movimento de baixo para cima. O touro representa a força dos investidores compradores que forçam a alta dos preços quando entram em grande número no mercado. Já o urso (Bear Market) representa a força de baixa ou a força dos vendedores. Quando o urso ataca sua presa ele fica em pé e com suas garrafas joga toda sua força de cima para baixo. Representa os investidores que entram no mercado vendendo em grande número, fazendo o preço do ativo cair.
Outros animais que possuem algum significado no mundo da bolsa de valores são os tubarões e as sardinhas. Os tubarões são grandes investidores como gestores de fundos de investimento, fundos de pensão, bancos e outras grandes instituições que movimentam grandes volumes de dinheiro comprando e vendendo na bolsa. Todos nós somos sardinhas, ou seja, pequenos investidores. Algumas sardinhas são mais experientes e possuem mais conhecimento, outras ainda são iniciantes. As sardinhas costumam se concentrar durante a formação de bolhas se tornam presas fáceis para os grandes tubarões. O sardinha iniciante se caracteriza por comprar caro quando todos estão comprando e vender com prejuízo quando todos estão vendendo. O tubarão e as sardinhas mais experientes costumam fazer o movimento contrário.
Muitas vezes estudar, aprender e conhecer é um processo chato, um verdadeiro sacrifício para algumas pessoas. Aprender coisas novas sempre gera algum incômodo. Somente conhecimento e um pouco de experiência podem nos livrar do triste destino de ser o Tolo Maior, ou de ser mais uma sardinha devorada pelos grandes jogadores do mercado.
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