Hoje vou ensinar como faço para identificar alguns sinais de recuperação da bolsa de valores durante uma recessão ou uma crise econômica prolongada. Mesmo aqueles que não investem na bolsa podem aprender com este artigo. Como sempre faço, irei citar as fontes de informação e ferramentas que utilizo. Vamos usar nosso momento histórico como exemplo, mas você poderá utilizar o mesmo raciocínio nas suas próprias análises durante crises futuras.

Crises sempre acontecem, nós só não sabemos exatamente quando e onde elas vão acontecer na próxima vez. Elas também sempre acabam e alguns sinais são emitidos nesse processo.

A bolsa brasileira está registrando seguidos trimestres de valorização que podem ser medidos através do Ibovespa. Isso começou a ocorrer no momento que ficou clara, para os investidores e empresários, a possibilidade de mudança de governo no início de 2016, o recuo da inflação e o início do ciclo de reduções dos juros (Taxa Selic). Já foram quatro trimestres, e caminhamos para o quinto trimestre, de valorização de praticamente todas as boas ações listadas na bolsa.

Observe o gráfico do índice Bovespa logo acima. No fundo do poço, em janeiro de 2016, o índice que mede o desempenho das ações negociadas na bolsa, chegou na casa dos 37 mil pontos. Em fevereiro de 2017 passou dos 69 mil pontos. Uma alta de 86%.

Já faz um bom tempo que uma tendência de alta como esta não ocorre. Após a crise econômica de 2008, e a forte queda registrada na bolsa, ocorreu um grande movimento de recuperação dos preços das ações entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010. Uma boa parte das perdas de 2008 foram recuperadas por aqueles que tinham conhecimento, paciência e visão. Muitos investidores acabaram multiplicando seu patrimônio em um curto espaço de tempo. O que era crise para muitos também foi uma oportunidade para os poucos que sabiam o que estavam fazendo.

O mais curioso dessa forte alta que foi registrada entre 2016 e 2017 é que os problemas que nos conduziram para a atual crise brasileira ainda não foram totalmente resolvidos. O que temos até o momento é uma antecipação baseada em expectativas. Vamos observar os sinais que o mercado está emitindo.

O importante é a direção do navio

Imagine que a economia brasileira é um grande navio como a figura abaixo:

Toda a população está dentro deste navio. As pessoas que estavam no comando do navio, no último governo, conduziam as políticas fiscais, monetárias e cambiais de uma maneira que todos a bordo acreditavam que o navio afundaria se continuasse seguindo aquela trajetória.

O que as pessoas fazem quando acreditam que o navio onde estão irá afundar por culpa das decisões de quem está no comando? Perdem a confiança naqueles que estão pilotando o navio. O medo paralisa ou leva as pessoas a tomarem decisões defensivas. O que aconteceria no navio, aconteceu no Brasil. As pessoas pararam de comprar, empresários pararam de vender, investidores pararam de investir e isso resultou em menor arrecadação do governo, mais inflação, mais juros, queda nos negócios e na bolsa.

O piloto do navio foi substituído pelo seu co-piloto (sota-piloto). Os outros membros da equipe foram substituídos. Ocorreram mudanças na condução das políticas econômicas. A esperança daqueles que estão a bordo de que essas mudanças irão evitar que o navio afunde é que gerou a onda de otimismo na bolsa nos últimos trimestres.

O único inconveniente é que os problemas ainda não foram resolvidos e em 2018 teremos uma mudança de piloto e isso pode significar uma nova mudança de políticas e de rumo. Essa mudança pode ser positiva ou negativa, dependerá da capacidade das pessoas que estão a bordo de selecionar um novo bom piloto. Se você observar que dos últimos 4 presidentes eleitos pelo povo, dois sofrem impeachment por envolvimento em crimes, um está sendo investigado por corrupção (fonte) e o outro deu a entender que “caixa dois” não é crime (fonte), podemos imaginar o tipo de político que a população ainda irá eleger nas próximas décadas. Estudamos e fazemos provas para tirar uma carteira de motorista. Par tirar o título de eleitor e votar você não precisa de nenhum treinamento ou habilitação.

Mesmo assim, olhando o passado podemos constatar que a bolsa (empresários e investidores de todos os portes) ficam muito animados diante de mudanças de rumo.

Estudando o otimismo passado:

Esse fenômeno de otimismo após a queda de um governo que foi julgado pelo mercado como ruim, já ocorreu após a queda do Collor em 1992 e 1993 como você pode ver no gráfico do Ibovespa dolarizado logo abaixo (fonte).

Como você pode ver na marcação que fiz na figura abaixo, a queda do Collor iniciou uma tendência primária de alta na bolsa brasileira que durou 6 anos e 5 meses. Como você pode ver no gráfico abaixo, a valorização da bolsa nesta onda de crescimento durante o governo Itamar e FHC, passou da casa dos três mil porcento (3.415%). Isso permitiria multiplicar seu patrimônio 34 vezes. Em futuros artigos devo falar mais sobre como identificar tendências de alta, baixa, primária, segundaria e terciária. Você verá que qualquer um pode olhar para os gráficos e identificar essas tendências passadas.

O que ocorreu no passado não é garantia do que irá ocorrer no futuro, mas é interessante estudar o passado para que possamos ganhar experiência e conhecimento.

Medindo o otimismo presente:

Existe um índice chamado iCFO, atualizado trimestralmente pela Saint Paul (uma faculdade de SP) em parceria com o IBEF-SP (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo), que tem o objetivo de medir a confiança dos diretores financeiros das empresas (CFO ou Chief Financial Officer) sobre o futuro dos negócios no Brasil.

Os diretores financeiros controlam as metas, objetivos e orçamentos das empresas. Cuidam dos investimentos, além de supervisionar o capital da companhia. Teoricamente, quando os executivos de grandes empresas estão otimistas sobre o futuro da economia e do país eles tendem a desengavetar projetos e realizar investimentos produtivos. A recuperação das atividades das empresas é um bom sinal para quem investe na bolsa. A pesquisa é divulgada trimestralmente neste endereço aqui.

O gráfico abaixo mostra a alta da confiança nos últimos trimestres.

 

Também existe o índice de confiança do empresário industrial que é medido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). O gráfico abaixo mostra a variação da confiança nos últimos anos (fonte).

Observe como é curiosa a semelhança entre o desenho do gráfico de confiança e o gráfico do índice Bovespa que mede o desempenho das principais ações da bolsa de valores. A confiança dos empresários afeta o desempenho das empresas e esse desempenho afeta o valor das empresas  na bolsa. Veja na figura abaixo a sobreposição que fiz do gráfico do Ibovespa entre 2011 e março de 2017 (linha azul) com o gráfico do índice de confiança dos empresários da indústria (linha rosa). O aumento da confiança é um sinal importante para aqueles que esperam a recuperação da bolsa para investir.

Queda da inflação e dos juros:

A queda da inflação, registrada desde o início de 2016, e o início do ciclo de reduções da taxa Selic, na segunda metade de 2016, foram entendidos como sinais positivos para os investidores e empresários. No gráfico que preparei logo abaixo podemos observar que a tendência de alta da inflação acompanhava da tendência de queda da bolsa. O início da redução da inflação marcou o início da alta da bolsa (fonte do gráfico).

 

Qualquer pessoa seria capaz de perceber que a animação dos empresários e investidores da bolsa tem relação com o início da queda da inflação e o início do ciclo de redução de juros que foi possível graças a essa queda.

O grande problema agora é saber como esse otimismo vai se consolidar, ou seja, o que deve acontecer para que o otimismo não se transforma em uma grande decepção. Como já falei, os problemas que o país enfrenta não foram resolvidos, ou seja, o país está gastando mais do que arrecada, existem sérios problemas fiscais e a tendência é piorar se nada consistente for feito. O otimismo na bolsa é um sinal de que muitos estão apostando na recuperação.

Neste momento existe uma esperança de que a reforma da previdência será aprovada exatamente como deveria ser aprovada para evitar que o “navio Brasil” afunde no futuro próximo. Se a reforma for desconfigurada devido a grande força política de determinados grupos afetados é possível que o problema só seja adiado ou empurrado com a barriga para ser resolvido por gerações futuras (com um custo muito maior). Ainda existem os problemas enfrentados por diversos estados que estão à beira da falência.

Retorno do grau de investimento

Todos os problemas que enfrentamos é um reflexo de um governo que não tem mais de onde tirar tanto dinheiro para cobrir os custos das suas lambanças, desvios, ineficiências e desperdícios. Isso significa dizer que enfrentamos sérios problemas de desequilíbrio fiscal.

Você emprestaria dinheiro ou se tornaria sócio de um estranho que tem uma vida financeira totalmente descontrolada, irresponsável, que gasta mais do que ganha, que constantemente se envolve em crimes de corrupção, que fica cada dia mais endividado e que no lugar de trabalhar só faz parasitar a renda dos seus filhos? É assim que os investidores enxergam o Brasil quando pensam na possibilidade de investir aqui.

O país perdeu seu grau de investimento após ter sua nota rebaixada por todas as principais agências de classificação de risco. O retorno do grau de investimento valorizaria as empresas brasileiras na bolsa de valores e poderia ser o início de uma recuperação mais consolidada, atraindo mais investidores nacionais e internacionais para a nossa bolsa. A tendência de elevação do grau de investimento do país seria um sinal positivo para investidores de todo mundo.

No lugar do governo se tornar mais eficiente e honesto na maneira que gasta o nosso dinheiro (caminho mais trabalhoso) resolveu mudar as regras da previdência pública (caminho mais fácil para eles), como já foi feito inúmeras vezes no passado. Se você não leu minha série de artigos onde falei sobre essas questões da previdência pública visite o primeiro artigo da série aqui. Como você pode ver aqui é através desse tipo de mudança que o governo pretende recuperar o grau de investimento. O aumento de impostos também deve ocorrer como você pode ver aqui.

Ações que reduzam os gastos do governo e aumentem a arrecadação, são vistas como sinais positivos para a recuperação da bolsa, mesmo que isso resulte em insatisfação da população.

Sinal forte de crescimento

Um sinal forte de confirmação da nossa recuperação, capaz de gerar grande otimismo na bolsa de valores, ocorrerá quando o PIB (todas as riquezas produzidas pelo país durante o ano) registrar uma recuperação por dois ou três trimestres seguidos. Tecnicamente uma recessão é declarada quando o PIB registra dois trimestres em queda.

O início desse sinal ocorrerá quando for registrado o primeiro PIB com variação positiva (crescendo) no trimestre. Com o segundo trimestre positivo o mercado já respira aliviado diante da possibilidade de uma saída definitiva da recessão. O terceiro trimestre positivo seria um forte sinal de que estamos no início de um processo mais consistente de recuperação da economia.

O gráfico mostra que desde 2015 o PIB registra quedas trimestrais (fonte do gráfico). Exemplo: o gráfico mostra que no último trimestre o total das riquezas produzidas pelos brasileiros (trabalhadores, empresários, etc) teve uma queda de 0,9%. Vivemos a pior recessão da história com 2 anos consecutivos de queda (fonte). A última vez que isso ocorreu foi em 1930 e 1931 como reflexo da crise mundial de 1929 que ficou conhecida como a Grande Depressão.

Conclusão:

Para o pequeno investidor, que já possui domínio e conhecimentos sobre todos os investimentos de renda fixa, já tem suas reservas de emergência, já faz suas provisões, já tem um projeto em curso de investimentos seguros para a sua aposentadoria, pode ser um bom momento para destinar uma parte do seu patrimônio para investir na bolsa e aproveitar os ganhos que teremos com o retorno do crescimento da economia. Se você ainda é iniciante dedique um tempo diário lendo os artigos que já publicamos gratuitamente aqui ou acelere seu aprendizado através da minha série de livros que aprofundarão seus conhecimentos em investimentos seguros para sua acumulação de patrimônio rumo a uma maior independência financeira.

Somente depois de consolidar os seus alicerces, foque sua atenção nos investimentos de maior risco. São eles que podem acelerar a construção do seu patrimônio e a sua independência financeira. Esses investimentos são: o empreendedorismo (quando você abre o seu negócio), o investimento em ações (quando você vira sócio do negócio dos outros), o investimento em imóveis (quando você gera renda com seus imóveis), o investimento em fundos imobiliários (quando você vira sócio de alguém que gera renda com imóveis) e assim por diante. É claro que você também pode e deve focar seu tempo e energia na sua carreira profissional, mas sempre tenha em mente que os ganhos que você pode ter trabalhando para os outros sempre terão um limite, veja esse artigo. Você verá que só poderá evoluir até esse limite.

Para ter sucesso você precisa pensar como o Sócrates, filósofo que viveu na Grécia antiga 469 a.C. Ele assumiu que nada sabia e isso era a sua vantagem diante de todos os outros homens da sua época.

O mercado de ações não é para amadores. Você realmente precisa saber o que está fazendo para investir. Isso também vale para quem pretende abrir o seu próprio negócio. Existem pessoas que compram ações e depois ficam torcendo ou até rezando para que elas se valorizem. Da mesma forma que muitos abrem negócios e ficam torcendo para que as vendas ocorram. O conhecimento é fundamental para o sucesso quando estamos diante de investimentos de risco. Seus resultados dependem disso.

O objetivo deste artigo foi mostrar que é possível fazer suas próprias analises, sem depender dos outros, utilizando informações e recursos disponíveis na internet. As informações estão disponíveis para todos. Você só precisa estar preparado ou preparada para transformar esses dados em conhecimento útil que possa melhorar os resultados dos seus investimentos.

Algumas ferramentas e fontes de informação são gratuitas, outras são pagas (como cursos, livros e ferramentas para investidores), mas o importante é que tudo isso está acessível, nos dias de hoje, para aqueles que possuem força de vontade e amor pelo conhecimento que nos proporciona mais liberdade.

Vou começar a escrever com mais frequência sobre a bolsa para quem está iniciando. Nas próximas semanas já teremos novos artigos para que você comece a entender como ela funciona.

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