A frase: “Se tudo que você faz na vida é trabalhar muito duro, você nunca ficará rico” é mais uma entre muitas que são impactantes e que costumam aparecer em palestras, entrevistas e livros de autores estrangeiros que tratam de finanças.
Estava lendo a entrevista de um desses autores e resolvi escrever essa rápida reflexão sobre o tema dentro do nosso contexto brasileiro.
A ideia de que devemos trabalhar e poupar uma parte daquilo que ganhamos é universal por ser uma regra básica do capitalismo. O que faz você rico não é quanto ganha, muito menos quanto você gasta. O que faz você rico (financeiramente) é quanto você poupa e, principalmente, como irá investir aquilo que economizou.
Mesmo aquele que ganha muito e poupa muito, se não fizer bons investimentos não conseguirá salvar o que poupou dos efeitos danosos da inflação e não conseguirá aproveitar o efeito multiplicador dos juros compostos. Veja a regra do 72 para dobrar seu patrimônio.
A grande diferença está em como você investe:
Nos EUA, o autor que dava a entrevista alertava os leitores que: “Você nunca vai conseguir sucesso financeiro se você colocar seu dinheiro em uma conta bancária, ou um CD (é como o nosso CDB), ou um T-bill (é como o título público Tesouro Prefixado), ou um muni bond (são títulos públicos emitidos por estados e municípios)… muitas vezes oferecem taxas de juros abaixo de 1% ao ano”.
O que um americano recebe em 1 ano de investimentos em títulos públicos (T-Bill ou Treasury Bills que é equivalente a um Tesouro Prefixado) o brasileiro ganha em 2 meses com o dinheiro na poupança. Nos EUA também existe um tipo de Tesouro Direto onde as pessoas podem comprar títulos públicos do governo. O nome do serviço é Tresury Direct. Veja os títulos que eles oferecem.
Investindo US$ 99.14 você receberia apenas US$ 100 no final de 52 semanas (1 ano) e isso equivale a uma rentabilidade de 0,85% por ano. No Brasil os títulos públicos oferecem isso por mês (veja aqui). Por curiosidade, você pode ver a rentabilidade dos títulos prefixados do governo americano visite aqui. Vale lembrar que atualmente a inflação nos EUA é de 2.70% ao ano e a taxa básica de juros é 1% ao ano (fonte). No Brasil a inflação está em 4.57% e a taxa básica de juros é 12,25% ao ano
Para concluir, autor da reportagem diz “…você deve olhar para o mercado de ações. É fácil fazer 6, 7, 8, 9% ou ano. Isso é tudo o que é preciso para aproveitar os benefícios do crescimento composto ao longo de muitas décadas”. Provavelmente essas taxas são nominais, ou seja, o autor não descontou a inflação crescente dos EUA. Se você descontar a inflação de 2,7% ao ano usando essa calculadora verá que ele está falando em uma rentabilidade real de 3,21%, 4,19%. 5,16% ou 6,13% ao ano na bolsa de valores, assumindo os riscos inerentes ao de um investimento de renda variável.
No Brasil, no momento em que escrevo este artigo, temos investimentos sem risco como os títulos públicos pagando uma taxa composta pela inflação + 5% de juros ao ano (lista de títulos).
Nos últimos 10 anos os títulos públicos renderam 417% em 10 anos. O dólar subiu 53% e bolsa 35% (média através do índice Bovespa). Nossa inflação registrou 83,13%. Veja como ficou o resultado real, já com a inflação descontada (fonte).
O problema dessa comparação é que não aparece quanto você receberia de dividendos (parte dos lucros da empresa distribuído aos acionistas) se tivesse investido em ações de boas empresas durante esses 10 anos. Esse valor de 35% é uma média que inclui empresas que enfrentaram sérios problemas na última década (como a Petrobras). A crise que estamos vivendo já dura muitos anos, mas durante este tempo as empresas continuaram registrando lucros e distribuindo dividendos (dividend yield) e juros sobre capital próprio (JCP) para quem possui suas ações. Várias empresas brasileiras, no ano que passou, pagaram mais de 10% de dividendos (fonte).
Importante: antes de sair comprando ações de empresas que pagaram bons dividendos no ano passado, lembre-se que o resultado do ano passado não garante o resultado deste ou dos próximos anos. Os resultados das empresas são variáveis e a política de distribuição de dividendos e JCP também pode mudar de um ano para o outro. É importante aprender a avaliar as empresas antes de investir. Se você nunca ouviu falar sobre dividendos, segue uma aula para iniciantes.
Muitas vezes o pequeno investidor brasileiro reclama do rendimento dos investimentos, mas a realidade lá fora é bem mais desafiadora. Para conseguir as taxas que temos aqui no Brasil os estrangeiros precisam fazer investimentos de risco na bolsa de valores ou precisam empreender. A remuneração que eles recebem enfrentando riscos, nós recebemos sem riscos. A lista de grandes empresas americanas que pagaram os maiores dividendos em 2016 é composta por AT&T (4,6%), Chevron (3,7%), Rio Tinto (3,9%), Caterpillar (3,3%) e Qualcomm (3,3%) (fonte).
Aprender a investir em ações é importante para qualquer investidor do mundo. Para investidores que moram em países onde a taxa básica de juros é muito baixa e a inflação elevada, aprender a fazer investimentos de risco é uma questão de sobrevivência. Imagine a situação de quem vive nesses países e precisa fazer suas economias renderem nos próximos 10, 20 ou 30 anos para garantir uma vida melhor durante a aposentadoria.
Aqui a realidade é diferente. No Brasil, a maioria da população ainda está mais preocupada em reclamar dos elevados juros para conseguirem acumular mais dívidas através do crédito consignado, cheque especial e cartão de crédito. São poucos os que sabem aproveitar o momento para potencializar seus investimentos através dos juros e dividendos elevados que temos acesso através da renda fixa e da renda variável.
Mesmo assim, não podemos negar que olhando a rentabilidade nominal da renta fixa desde o início do Plano Real, existe uma tendência de queda. O gráfico abaixo mostra a tendência da taxa DI (CDI) que é a base da remuneração de investimentos como o CDB, LCI, LCA e usada como referência nos fundos DI e fundos de Renda Fixa. O ano de 1995 foi marcado pelo início do Plano Real e o ano de 2013 foi aquele onde a taxa básica de juros do Brasil (Taxa Selic) atingiu o seu menor valor histórico de 7,25% ao ano (fonte).
Veja o que ocorreu com a rentabilidade da poupança:
Aqui podemos ver o desempenho da bolsa entre 1995 e 2013 pelo índice Bovespa que mede a variação dos preços das ações mais negociadas na bolsa. Vale lembrar que isso inclui ações de boas empresas e ações de péssimas empresas. Observe que fica claro no gráfico abaixo a característica principal do investimento de renda variável. Ocorrem fortes variações. Em anos de crise a bolsa caiu próximo de -40% e nos de recuperação da economia ela disparou acima de 80%.
Não temos como saber como serão os juros e a inflação futura no Brasil, mas podemos observar as tendências de queda. Nada impede que essas tendências sejam revertidas e que crises sucessivas façam o Brasil voltar a ter taxas de juros muito elevadas para combater inflações igualmente elevadas. Olhando a nossa história política e econômica nos últimos 30 anos, a única certeza que temos é que tudo pode ocorrer.
O que realmente podemos fazer é nos preparar para qualquer situação. Para o investidor preparado, pouco importa se a inflação está elevada ou baixa, se os juros estão subindo ou diminuindo e se a bolsa está em alta ou baixa. O investidor preparado tem aquilo que o estrangeiro chama de dinheiro inteligente ou “Smart money”. Ele sabe tomar decisões inteligentes seja no mundo dos investimentos ou no dos empreendimentos independente do cenário externo. O melhor investimento para os próximos anos é aquele que tornará você um investidor mais inteligente.
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