Sim, é possível viver de dividendos, mas existe uma questão que só você pode responder:
Com tudo que sei, com tudo que faço e com tudo que tenho, é possível viver de dividendos?
A resposta será “não” para a maioria das pessoas. Dessa forma, embora seja plenamente possível viver de dividendos, nem todos sabem, fazem e possuem o que é necessário para isso. Leia o artigo até o fim e você entenderá melhor sobre como esse sistema funciona.
Os dividendos são os lucros que as empresas distribuem para todos que compraram suas ações. O fato é que muitos já vivem de dividendos, mas talvez você ainda precise ser, fazer e ter tudo que essas pessoas são, fazem e têm para que também consiga um dia viver de dividendos. O mesmo vale para outras fontes de renda passiva, que é toda a renda que não depende do seu trabalho diário para ser gerada.
Tudo começa utilizando uma “fórmula” para descobrir quanto você deveria ter hoje para viver de dividendos ou de qualquer outra forma de renda gerada passivamente através do seu patrimônio investido.
Para aplicar a fórmula você precisa descobrir dois números que são muito pessoais:
- Quanto você precisa ganhar por ano para pagar todas as suas contas?
- Qual rentabilidade anual você é capaz de obter através dos seus investimentos?
Para exemplificar o artigo, vamos imaginar que você precise de R$ 5 mil por mês para pagar suas contas essenciais. Depois, caso queira, você poderá fazer o mesmo cálculo considerando seus luxos, caprichos, comodidades, prazeres e outros agregados que tornam a sua vida mais agradável.
Se você precisa de R$ 5 mil por mês, você depende de R$ 60.000,00 por ano para pagar suas contas básicas (12 x 5.000 = 60.000). Vamos imaginar que tudo que você sabe sobre investimentos permite obter uma rentabilidade de apenas 7% ao ano. Dividindo 7 por 100 teremos número 0,07.
Agora já podemos aplicar a fórmula dividindo a renda anual de 60.000 por 0,07 que representa a rentabilidade anual dos seus investimentos.
O resultado será R$ 60.000 / 0,07 = R$ 857.142,85
Neste exemplo, para viver de dividendos ou qualquer fonte de renda passiva, obtendo R$ 60 mil anuais ou R$ 5 mil mensais, você deverá acumular R$ 857.142,85 durante a vida. Fazendo esse dinheiro render 7% ao ano, você terá os R$ 60 mil que precisa. Imagine como se R$ 857.142,85 fosse o preço da “máquina” que irá trabalhar por você para gerar R$ 5 mil de renda mensalmente.
Agora refaça esse cálculo utilizando outras taxas, pois a sua rentabilidade depende do seu conhecimento sobre investimentos. Se você é totalmente leigo, algumas horas de estudo sobre alguns livros, podem resolver o seu problema (veja aqui).
Você também pode refazer o cálculo para obter uma renda maior no futuro. Se R$ 5 mil é insuficiente, refaça o cálculo utilizando valores maiores ou compatíveis com a sua realidade.
Vamos imaginar que você consiga fazer o seu dinheiro tender 10% ao ano. Dividindo 60.000 / 0,10 = R$ 600.000,00. Agora você só precisaria ter R$ 600 mil para conseguir gerar R$ 60 mil por ano ou R$ 5 mil por mês para viver através dessa renda.
Agora temos um grande problema que nos leva a uma outra pergunta:
Como acumular tanto dinheiro?
Nesse momento, na sua mente, existe uma voz irritada gritando: “Que loucura!!! Você já se mata de trabalhar e mal consegue pagar as suas contas! Não faz sentido todo esse sacrifício para juntar tanto dinheiro e depois morrer exausto, sem desfrutar o que é seu. Esqueça essa bobagem e vá procurar algo mais divertido no Youtube!”.
É isso que muitos leitores deste artigo já fizeram quando viram o número R$ 857.142,85.
Se você ainda está aqui, parabéns.
É verdade. Juntar todo esse dinheiro trabalhando é uma loucura, mas o que não contaram para você é que ninguém trabalha para juntar tanto dinheiro. São os outros que trabalham pelo seu dinheiro para que você possa juntar todo esse dinheiro. Parece confuso? Agora vamos entender como isso funciona.
A grande fonte geradora do dinheiro nesse mundo é o trabalho, mas não é você que precisa trabalhar para acumular muito dinheiro para viver de renda ou dividendos.
Se você já reserva uma parte do que ganha, através do seu trabalho, e faz investimentos, então você provavelmente está colocando o seu dinheiro em um dos dois tipos diferentes de investimentos que existem.
O primeiro tipo é o investimento onde você empresta o seu dinheiro para alguém. Esse alguém terá que trabalhar, ganhar dinheiro e entregar uma parte para você na forma de juros. Entre você e a pessoa disposta a trabalhar pelo seu dinheiro, existem os bancos. Quando um banco oferece poupança, CDB, LCI ou LCA, ele está pedindo o seu dinheiro emprestado para poder emprestá-lo para algum outro cliente disposto a trabalhar pelo seu dinheiro. Essa pessoa provavelmente vai comprar um carro financiado, uma casa ou vai adquirir algum outro bem através de um empréstimo usando o seu dinheiro. É claro que o banco fica com uma parte desses ganhos. Se você comparar as taxas que os grandes bancos pagam pelos investimentos que oferecem e as taxas que os bancos cobram das pessoas que precisam de empréstimos, você terá uma boa ideia sobre quem fica com a maior parte do dinheiro que o devedor irá pagar através de juros e taxas. Já quando você compra títulos públicos, você empresta o seu dinheiro para o governo que por sua vez vai pagar os juros tirando dinheiro do seu bolso, através dos impostos que você e outras pessoas pagam. No máximo, ao investir em títulos públicos, você só terá de volta uma parte de todo imposto que você já paga todo mês ao consumir qualquer coisa ou receber a sua renda.
O segundo tipo é o investimento onde você compra ações de uma empresa lucrativa ou compra algum bem que é capaz de gerar lucros. Dentro das empresas existem muitas pessoas trabalhando todos os dias para gerar lucros. Elas recebem bem menos do que os lucros que elas geram. Parte desses lucros são distribuídos entre todas as pessoas que possuem ações dessas empresas. Atualmente, qualquer pessoa pode se tornar acionista de grandes empresas comprando ações na Bolsa de Valores. Nunca foi tão fácil, barato e democrático ser dono de empresas que distribuem lucros. Os acionistas de uma empresa não precisam trabalhar para receber os lucros através dos dividendos, eles só precisam comprar as ações e esperar que o dinheiro dos dividendos e outros proventos caiam na sua conta. Mais uma vez, temos uma forma de fazer alguém trabalhar para que você acumule o patrimônio que precisa para viver de renda.
Por favor, tenta não fazer juízo de valor agora. Não importa se isso é bom ou ruim. Apenas entenda como as coisas funcionam.
Voltando ao exemplo dos bancos. Você poderia comprar ações desses grandes bancos e receber parte dos lucros que eles conseguem quando emprestam o seu dinheiro cobrando taxas e juros elevados. Você poderia se tornar sócio das grandes empresas de energia elétrica, que distribuem bilhões todos os anos na forma de dividendos para todos que possuem suas ações. Milhões de brasileiros, incluindo você, trabalham todos os dias para pagar conta de luz, água, tarifas e juros bancários. Quase todas as grandes empresas desses setores possuem ações na bolsa e distribuem dividendos todos os anos.
Muitos brasileiros passaram a vida toda gastando tudo que ganham comprando roupas, eletrodomésticos e eletrônicos. Os maiores varejistas do Brasil, que lucram vendendo esses produtos, possuem ações na bolsa e distribuem lucros através dos dividendos e outros proventos.
As pessoas também gastam boa parte do que ganham dentro de supermercados, restaurantes e bares. Grandes supermercados e grandes empresas que produzem alimentos e bebidas, também possuem ações na bolsa de valores e distribuem seus lucros aos acionistas.
Qualquer pessoa pode comprar ações de qualquer grande empresa na Bolsa. Tudo isso já foi bem mais difícil, complicado e burocrático quando a internet não existia. Hoje, o procedimento necessário para comprar uma ação é tão simples quanto o de comprar qualquer coisa na internet.
O único problema é que a Bolsa possui ações de mais de 300 empresas e nem todas são empresas lucrativas, nem todas estão crescendo e distribuindo lucros entre os seus acionistas. Existe muita empresa ruim no meio de algumas empresas boas. O desafio está no conhecimento necessário para escolher boas empresas para investir e depois monitorar os resultados dessas empresas. Não adianta achar que alguém vai sair por ai dizendo onde você deve investir o seu dinheiro. É você que precisa se preparar para fazer isso por você mesmo. Com a mesma facilidade que você pode se tornar sócio de uma empresa, você também pode deixar de ser sócio caso ela deixe de ser uma boa empresa para investir.
Já que falamos em bancos, aqui está a tabela de todos os dividendos e outros proventos que um grande banco privado do país, através da sua controladora, distribuiu entre seus os acionistas em 2018. A tabela mostra os ganhos para o exemplo de alguém que possui 1000 ações do banco.
Se você tivesse 1.000 ações da controladora desse banco durante o ano de 2018 teria recebido, líquido de impostos, R$ 1.001,89 de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP).
Ganhar R$ 1.001,89 sem fazer nada, enquanto você dorme, parece muito bom. Alguém trabalhou todo dia para fazer esse banco gerar lucros. Alguém pagou juros, taxas e tarifas para esse banco lucrar. Alguém emprestou o dinheiro para o banco, recebendo juros muito baixos através da renda fixa, para que o banco emprestasse para outro cliente cobrando juros elevados.
Todo mundo nessa história trabalhou muito e gerou muitos lucros para o banco distribuir para todos os acionistas (do maior ao menor). Esse banco possui dezenas de milhões de clientes que geram os lucros para dezenas de milhares de acionistas.
A questão agora é: quanto custou comprar 1000 ações desse banco?
O preço das ações das empresas sofre variações a cada segundo. Os dividendos também sofrem variações. É por isso que chamamos os investimentos em ações de renda variável.
Você poderia ter comprado ações dessa ou de qualquer outra empresa pagando os mais variados preços. Quem compra ações com o objetivo de ganhar dividendos, passa a vida inteira comprando ações e na maioria das vezes usa os dividendos para comprar ações e não o dinheiro do próprio bolso. O gráfico logo abaixo mostra o preço da ação da controladora desse banco entre 2001 e 2019.
As pessoas que receberam R$ 1.001,89 do banco para cada 1000 ações que possuem, poderiam ter comprado essas ações no passado pelos mais variados preços. Algumas pagaram R$ 0,61 por ação, outros pagaram R$ 4,70, R$ 7,28 ou até mais de R$ 13. No longo prazo (décadas) o custo de aquisição das ações se torna insignificante, quando você investe em ações de empresas que crescem e distribuem lucros por muitas décadas.
Se o preço médio que uma determinada pessoa pagou ficou na casa dos R$ 7 por ação, ela teria adquirido as 1000 ações por um custo médio de R$ 7.000,00 e ao receber esses R$ 1.001,89 ela poderia considerar que fez os seus R$ 7.000,00 renderem 14,31% em 2018. Se outra pessoa tivesse adquirido essas 1000 ações por R$ 2.000,00 (por ter pago uma média de R$ 2 por ação) seu retorno em 2018, ao receber R$ 1.001,89, seria de 50,09%.
Dessa forma, esses R$ 1.001,89 pagos pelo banco em 2018, para todas as pessoas que tinham suas ações, representou uma rentabilidade diferente para cada investidor, pois cada pessoa comprou ações pagando preços diferentes.
Agora imagine se essas pessoas pegassem esses R$ 1.001,89 recebidos em 2018 e comprassem mais ações e repetissem isso durante vários anos. Logo elas teriam uma grande quantidade de ações que foram compradas utilizando os dividendos pagos pelo próprio banco, fruto dos lucros gerados pelo trabalho dos funcionários e clientes do banco.
Tudo isso é pago pelas pessoas que trabalham para pagar taxas bancárias e juros por empréstimos e financiamentos. Se essas pessoas utilizarem esses empréstimos para comprar eletrodomésticos, imóveis, roupas, bebidas, viagens e tudo que o mundo do consumo oferece, elas provavelmente vão gerar lucros para diversas outras empresas que também possuem ações negociadas na bolsa. Muitas dessas empresas também distribuem lucros para todos que possuem ações.
Talvez aqui esteja a grande diferença entre as pessoas que enriquecem e as pessoas que empobrecem com o passar do tempo.
- As pessoas passam a vida trabalhando por um salário fixo gerando lucros para os acionistas das empresas onde trabalham.
- Quando recebem o salário, gastam tudo no consumo gerando lucros para os acionistas de outras empresas que produzem e vendem produtos e serviços.
- Quando gastam tudo que ganham, buscam dinheiro emprestado gerando lucros para os acionistas dos bancos e investidores de renda fixa desses bancos.
- Agora que estão endividadas, elas precisam trabalhar ainda mais permitindo que os acionistas de todas essas empresas possam trabalhar cada vez menos.
As pessoas que enriquecem não precisam trabalhar cada vez mais, pois quando investem o dinheiro que possuem, alguém do outro lado estará disposto a trabalhar mais por esse dinheiro para pagar juros, lucros, dividendos e outras fontes de renda passiva.
As pessoas que enriquecem ganham juros dos bancos. As que empobrecem pagam juros aos bancos.
As pessoas que enriquecem recebem lucros das empresas. As pessoas que empobrecem geram os lucros das empresas.
Você nunca verá nada sobre isso sendo ensinado nas escolas, nos programas da televisão ou nos canais engraçados do Youtube que falam sobre investimentos.
Tudo isso funciona melhor quando a maioria fica trabalhando para pagar juros e gerar os lucros que as empresas e os bancos distribuem entre os acionistas. Quanto mais distrações, diversões e bobagens, mais as pessoas ficam anestesiadas enquanto fazem todo o sistema funcionar.
Se você chegou no final do artigo e entendeu como o sistema funciona, parabéns. É importante entender como as coisas funcionam e escolher onde você vai ficar no meio disso.
No dia 01 de maio, feriado onde as pessoas não trabalham para comemorar o dia do trabalho, será o lançamento do meu novo livro sobre como investir na Bolsa através da análise dos fundamentos das empresas. Minha sugestão é que você comemore o dia do trabalho fazendo alguma coisa para que você possa mudar de lado nesse jogo. Gostando ou não do sistema, o sistema vai continuar funcionando como sempre funcionou e você obrigatoriamente estará dentro dele, pois não temos como fugir.
Você pode se tornar sócio de grandes empresas e ter o direito de receber os dividendos que elas distribuem frequentemente entre os seus acionistas ou pode ignorar tudo isso e continuar do lado onde todos estão.
Querendo ou não, você já está fazendo parte desse jogo. Está trabalhando todos os dias, está pagando contas, pagando juros, deixando o seu dinheiro nos bancos rendendo muito pouco. Você gera o lucro do sistema, mas não participa da distribuição dos lucros. Trabalhador, consumidor e pagador de impostos você já é. Agora falta aprender sobre como se tornar sócio das melhores empresas da bolsa que lucram e distribuem esses lucros todos os anos entre os seus acionistas.
Se não é possível viver fora do sistema, que pelo menos você seja sócio dele.
Obs: como educador, a única recomendação de investimento que faço é o investimento na sua educação. Todos os exemplos servem apenas para ilustrar e tornar o conteúdo didático.
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