A taxa rosa, imposto feminino, imposto das mulheres e pink tax são nomes que representam uma prática comercial comum e que as pessoas aceitam sem grandes questionamentos e reflexões. Diversas marcas de produtos e serviços possuem linhas femininas e masculinas onde a única diferença entre os produtos é a cor da embalagem e o preço.
A prática é antiga e mantida pelas empresas por um fato simples. A estratégia aumenta as vendas e os lucros. Parece existir uma falsa ideia de que alguns produtos femininos são mais caros que suas versões masculinas por serem especiais, por terem características diferenciadas ou até uma qualidade superior. Muitas mulheres pagam mais caro por falta de uma reflexão, por não dedicarem algum tempo prestando atenção nas alternativas idênticas que são produzidas para o público masculino ou sem uma definição clara de gênero.
Veja o exemplo tradicional dos aparelhos de barbear que se transformam em aparelhos de depilar. Tecnicamente fazem a mesma coisa.
Muitos culpam as empresas pelo problema, mas eu acredito que as empresas só aproveitam uma oportunidade. Elas entregam para as pessoas aquilo que elas estão dispostas a comprar, pelo preço que elas aceitam pagar. Se por algum motivo estranho as mulheres aceitam pagar mais caro, as empresas vendem mais caro. Simples assim.
Empresas com fins lucrativos são instituições que possuem um objetivo básico e existencial que é lucrar com a venda de produtos e serviços. Para isso, elas cobram sempre o maior preço que as pessoas estão dispostas a pagar. A decisão de comprar ou ignorar um produto é totalmente sua. O preço final de um produto é sempre aquele que está no limite em que as vendas começam a cair a cada R$ 0,01 mais caro.
As empresas gastam muito tempo estudando o preço ideal para o valor percebido dos produtos que vendem. Atualmente, preço não tem muita relação com custo de produção. Pouco importa o custo de produção. O que faz a diferença é quanto custa fazer você acreditar que um determinado produto vale mais do que o seu preço. Muitas vezes o investimento em marketing para elevar o valor percebido do produto é o que torna seu preço tão elevado. Preço e valor são coisas diferentes. O preço é o que você paga pelo produto e o valor percebido é o que você leva para sua casa.
No exemplo do vídeo abaixo, a empresa diz que conseguiu desenvolver o primeiro depilador desenhado para fazer você se sentir uma Deusa. Observe que certamente as pessoas estão mais dispostas a pagar caro para se sentirem Deusas. Quanto custa ser uma Deusa? Certamente custa mais caro do que apenas retirar os pelos das pernas com uma lâmina.
O senhor na foto abaixo é um dos três homens mais ricos do mundo. Ele possui muitas ações da empresa que fabrica aparelhos de barbear. Na frase abaixo ele esqueceu de falar dos pelos que estão nascendo 24h por dia nas pernas, axilas e partes intimas de todas as mulheres do planeta. Também esqueceu de falar que as vezes elas aceitam pagar mais caro para se sentirem Deusas.
É claro que podem existir outros fatores que possam fazer o barbeador rosa ser mais caro que o azul. Talvez a tinta rosa para o tingimento do plástico possa ser mais cara que a tinta azul. Talvez a quantidade de barbeadores azuis produzidos por dia seja maior que a produção do depilador rosa e isso reduza o custo por unidade. Eu acredito que o mais provável é que o motivo seja apenas uma estratégia de marketing. Talvez o preço menor do barbeador masculino faça a mulher acreditar que o produto masculino tem qualidade inferior.
Se as mulheres e os homens tomassem decisões racionais de consumo eles comprariam o barbeador ou depilador mais barato. Homens comprariam o depilador rosa para fazer a barba se ele estivesse mais barato e mulheres comprariam o barbeador azul para se depilarem se ele fosse o mais barato. O problema é que as pessoas compram movidas por impulsos emocionais. As empresas criam produtos e suas estratégias de marketing entregando aquilo que as pessoas querem receber.
Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que os produtos para mulheres custam, em média, 7% a mais do que seus similares masculinos. A categoria de produtos de higiene pessoal foi a com maior diferenciação, em 13% (fonte). No caso dos brinquedos, eles podem custar 20% mais quando estampam cores e personagens que agradam as meninas.
O Brasil é o terceiro maior consumidor de produtos de beleza no mundo e grande parte do mercado está voltado para o público feminino. As brasileiras assumem um custo fixo elevado para cultivar unhas, cabelos, sobrancelhas e outras partes do corpo dentro de padrões estéticos definidos por aqueles que lucram vendendo produtos e serviços. O pior é que a maioria aceita esses padrões sem qualquer reflexão sobre o que representa passar décadas trabalhando muito para isso.
Solução
Não adianta proibir a prática de preços diferentes para produtos femininos e masculinos. Existem lugares nos EUA, como na Califórnia (fonte) onde é proibido a empresa vender produtos com preços diferentes com base no gênero. Certamente existem produtos voltados para o público masculino e feminino que geram custos diferentes para as empresas e onde o preço diferente deve ser justo. Não é papel do governante julgar o preço justo de um produto. O consumidor deveria ter liberdade para fazer isso.
Esse tipo de problema deve ser resolvido por cada pessoa. Na França existe uma consumidora que resolveu fazer um blog para reclamar sobre a diferença de preços entre produtos masculinos e femininos (veja aqui). No topo do site ela diz o seguinte:
Na França, as mulheres ganham 24% menos que os homens. Eles ocupam 82% dos postos de trabalho. A renda média dos homens trabalhadores independentes é 40% maior do que as mulheres. Hoje, a aposentadoria das mulheres é inferior a 42% da dos homens. A comercialização de gênero através da segmentação do mercado entre homens e mulheres, cresce e impõe um imposto específico sobre as mulheres.
Ela só não entendeu direito que empresa nenhuma impõe nada. O fato da renda mensal das mulheres ser menor que a dos homens não tem nenhuma relação com o preço mais elevado dos produtos vendidos para elas.
A culpa não é do governo, da justiça ou do sistema capitalista. A culpa é de quem vive dentro do sistema capitalista sem entender como o sistema funciona. Se você não sabe nada sobre as regras do xadrez e tenta jogar com alguém que entende as regras, quem você acha que vai sair perdendo? O mínimo que devemos fazer para viver dentro do sistema é entender como ele funciona, como as empresas funcionam, como as estratégias de marketing funcionam e como o dinheiro funciona nas relações entre pessoas, empresas e governos. Se não entendemos que depiladores cortam pelos e que não podem fazer ninguém ser um Deus, teremos sérios problemas.
O que ocorre é que a sociedade não entende o poder que possui. A figura abaixo representa isso muito bem. Quando a sociedade se relaciona com instituições privadas, como empresas que possuem fins lucrativos, ela exerce sua liberdade através da escolha dos produtos que compra. É como se cada compra fosse um voto. Produtos e empresas mais votadas (que possuem mais compras) continuam vivas. Quando você compra um produto de higiene, beleza ou de vestuário mais caro por ser rosa, você está dando o seu voto que indica aprovação da iniciativa. A empresa venderá mais e continuará com a prática se você continuar comprando mais caro. É assim que o capitalismo deveria funcionar.
O mesmo vale quando a sociedade se relaciona com os governantes e as instituições públicas que eles controlam no sistema democrático. Você tem o governo que você escolhe através do voto. Se existem culpados pelos problemas que enfrentamos nas nossas relações com as instituições públicas e privadas, nós somos os culpados. Certamente a democracia e o capitalismo não são perfeitos, mas é o que temos hoje. Devemos entender as regras do jogo.
Você precisa entender que de um lado da mesa existem pessoas inteligentes que entendem como o dinheiro funciona, como a sua cabeça funciona e quais são as suas fraquezas que podem se transformar em oportunidades de negócio.
É sua responsabilidade conhecer mais suas fraquezas. É responsabilidade sua buscar o conhecimento e os bons hábitos para ter o controle da sua vida financeira. Se você não dominar a sua vida financeira, alguém (empresas e governos) vai dominar por você.
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