Vou mostrar neste artigo como você pode monitorar as taxas de juros longos e a sua relação com outros investimentos como bolsa de valores, títulos públicos e títulos de renda fixa emitidos por bancos.

Primeiro vamos entender o prêmio

Podemos entender a taxa de juro pelo lado de quem tem dinheiro e de quem precisa de dinheiro.

Se você é um(a) investidor(a) o juro será um tipo de prêmio que você receberá pelo risco de ficar sem o seu dinheiro por algum tempo.

Se você precisa do dinheiro de alguém, o juro será um custo ou uma espécie aluguel do dinheiro.

A decisão do investidor sobre onde investir está relacionada com o prêmio que será pago pelo risco. Os investidores sempre buscam o maior prêmio pelo menor risco. O dinheiro se movimenta pelo mundo todos os dias movido por esse princípio. Existem investimentos dos mais variados tipos com riscos e prêmios diferentes pagos na forma de juros, dividendos, valorização (ganho de capital) etc.

Aqui no Clube dos Poupadores temos um mapa dos investimentos que mostra os “prêmios pagos” nas últimas décadas. Veja que cada investimento tem um desempenho diferente com o passar do tempo. Eventos econômicos, políticos e até naturais modificam as percepções dos investidores sobre os riscos modificando a demanda pelos ativos e isso alteram os juros, o valor das moedas, ações, títulos, fundos imobiliários etc.

Cabe ao investidor escolher o maior prêmio possível pelo menor risco possível dentro das suas expectativas sobre o futuro.

Investimento com o menor risco

Para julgar se um investimento oferece um bom prêmio pelo risco é necessário saber quanto você recebe  se decidir não correr riscos ou correr o menor risco possível.

Os investimentos menos arriscados, na moeda de um país, são os títulos públicos. Os títulos públicos com juros pós-fixados são os menos arriscados e por isso possuem os menores juros. Quando você investe por um prazo maior precisa olhar os juros prefixados. Os investimentos que pagam uma taxa fixa ou taxa fixa + inflação possuem vencimentos longos e quanto mais longo for a data do vencimento maior será o risco e maior o prêmio pelo risco.

Podemos dizer que o juro pago pelo governo para ficar com o seu dinheiro por um tempo é um tipo de prêmio pelo risco que você corre de ter confiado neste governo.

Diante disso, todos os outros investimentos, mais arriscados que os títulos públicos pós-fixados e prefixados, precisam pagar prêmios maiores que remunerem esse risco adicional.

Quando as taxas de juros dos títulos públicos de um país sobem, isso obriga o investidor a verificar se os investimentos de maior risco ainda compensam. Isso inclui as taxas de juros futuros que alteram os preços e taxas de títulos prefixados com vencimentos mais longos.

Os juros de outros países também afetam os juros do nosso país. Podemos dizer que os títulos públicos emitidos por países desenvolvidos são os investimentos de menor risco ou de risco mais próximo de zero (embora não exista risco zero).

Você deve concordar que é menos arriscado emprestar dinheiro (através da compra de títulos públicos) para um país que representa a maior economia do mundo e tem o poder de imprimir dólares (EUA) do que emprestar o seu dinheiro para um país como o Brasil, Argentina, Rússia, Turquia, México, África do Sul e outros emergentes.  Então é natural que esses países emergentes ofereçam juros maiores (prêmios maiores) que compensem o risco adicional.

Agora imagine o que acontece quando o país que oferece o menor risco possível em títulos públicos começa a oferecer juros cada vez maiores.

A demanda por títulos mais arriscados de outros países começa a cair e você já deve saber que quando a demanda cai os preços dos títulos públicos caem e isso significa que os juros pagos por eles sobem. Na renda variável os investidores também passam a exigir mais dividendos e maior potencial de ganhos (valorização das ações) para comprar ações ou manter as ações que possuem.

Aqui no Clube dos Poupadores é possível consultar gráficos que mostram a tendência dos juros nos EUA. Logo abaixo temos os juros de títulos com vencimentos em 10 anos até a primeira semana de março de 2021, mas você pode verificar gráficos mais atualizados no futuro visitando: Gráficos Treasuries 10 anos.

A área amarela no gráfico acima representa a crise iniciada em 2020. Perceba que a taxa já estava em queda desde 2018 nos EUA permitindo uma redução dos juros em diversos países. Juros em queda representa investimentos de menor risco com menor remuneração. Com isso o investidor passa aceitar prêmios menores para assumir mais risco, elevando a demanda e, por consequência, os preços de todos os ativos de maior risco. Já quando os juros iniciam uma trajetória de alta temos o efeito contrário.

Logo abaixo temos os juros futuros de 10 anos no Brasil, EUA e Alemanha (representando a Europa). Perceba que existia uma tendência de queda dos juros que foi interrompida depois do pior momento da crise.

 

Os preços das ações e de outros investimentos de renda variável são afetados com mudanças na trajetória dos juros.

Juros em baixa resulta em ações, fundos imobiliários, ouro e outros ativos em alta, principalmente os mais especulativos.

Juros em alta resulta em ações em baixa, principalmente as ações de empresas mais especulativas, que não apresentam bons resultados e dependem de juros baixos para se manterem atrativas. O mesmo ocorre com fundos imobiliários que apresentam um desempenho ruim.

Nos períodos de transição geralmente ocorre muita desorientação. A charge logo abaixo brinca com a situação, pois os investidores sempre tentam tomar decisões antecipadas sobre os efeitos futuros dos juros e da inflação sobre os preços dos ativos de maior risco.

Alta dos juros futuros no Brasil

Existe a taxa básica de juros definida pelos bancos centrais de cada país, que no Brasil é chamada de Taxa Selic, que define qual será a remuneração dos investimentos pós-fixados como poupança, Tesouro Selic, CDB, LCI e LCA pós-fixados.

Sobre essa taxa básica existem “prêmios” que vão definir os juros futuros que encontramos em investimentos de juros prefixados como o Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA. Essas taxas futuras não são definidas pelos bancos centrais. Elas são definidas por negociações de contratos futuros de juros nas bolsas.

Aqui no Clube dos Poupadores temos uma página com gráficos que permitem monitorar as taxas do juro futuro negociadas no mercado. São essas taxas que vão refletir nos preços dos títulos Tesouro Prefixado, Tesouro IPCA e outros investimentos prefixados oferecidos por bancos. São essas taxas futuras que refletem nos financiamentos de imóveis, empréstimos para empresas, empréstimos para pessoas e nos cálculos que os investidores fazem quando consideram comprar, vender ou manter ações, fundos imobiliários ou qualquer ativo arriscado em um determinado prazo.

Os ativos de maior risco possuem preço justo e atrativo quando a remuneração (prêmio) que oferecem compensa o risco.

Logo abaixo você tem o comportamento da taxa do contrato futuro de juros (DI) com vencimento em 2026. Essa taxa vai interferir nos preços de todos os títulos prefixados e até nos preços que os investidores aceitam pagar por ações e outros ativos de renda variável com alvo em 2026.

Você pode entender essa taxa como o prêmio que o mercado está exigindo hoje, diante das expectativas e riscos sobre o futuro que são percebidas hoje, para aceitar correr o menor risco possível para realizar um investimento que vence em 2026.

Quanto mais o futuro parece arriscado, maior tende a ser o juro futuro e por consequência menor os preços dos títulos prefixados e até mesmo os preços das ações e outros ativos de renda variável.

Quando títulos de baixo risco, como os prefixados, remuneram mais, as ações e outros investimentos de maior risco se tornam menos atrativas, como se estivessem caras para o que oferecem de risco, principalmente ações de empresas sem bons fundamentos, muito endividadas ou em fase de crescimento com grande dependência de um cenário de juros baixos (dinheiro barato). A alta dos juros pode resultar em quedas generalizadas na bolsa criando oportunidades para adquirir ações de empresas sólidas que oferecem bons resultados financeiros e dividendos. É muito importante aprender a avaliar os fundamentos das empresas.

No exemplo acima podemos perceber que entre o início de 2021 e o início de março de 2021 os juros futuros subiram de 6% ao ano para 8,11% para vencimento em 2026. Dois dias depois a taxa caiu para 7,29%. Quem investe em ações, fundos imobiliários e outros ativos vai considerar os preços desses ativos em relação ao potencial de ganho que eles oferecem ao ano até 2026. Por este motivo os juros futuros e o desempenho das ações estão correlacionados de forma inversa.

No gráfico acima eu adicionei os movimentos do índice Bovespa (linha preta) no gráfico que mostra o juro futuro, ou seja, juro prefixado que vence em 2026. Observe que existe uma espécie de “espelhamento” (imagem inversa) entre o movimento dos juros futuros e o movimento da bolsa de valores, ou seja, temos uma correlação negativa onde a bolsa tende a cair (ou frear o seu movimento de alta) quando os juros futuros sobem e tende a subir quando os juros futuros caem. Eventualmente os gráficos podem se mover no mesmo sentido, mas não dura muito tempo.

Conclusão

Juros futuros em alta no Brasil e no exterior representam uma maior percepção de risco ou uma expectativa negativa sobre o futuro como: inflação em alta, dólar em alta e, por consequência, alta da taxa básica (Selic) para combater essa inflação e desvalorização da moeda.

Prêmios maiores nos investimentos de baixo risco reduzem o interesse por investimentos de maior risco até que os preços desses investimentos se ajustem.

Observar os gráficos de juros futuros no Brasil e juros futuros nos EUA nos oferece uma percepção sobre o sentimento dos investidores com relação ao futuro. Esses sentimentos mudam diariamente, mas podemos observar períodos maiores para identificar alguma tendência.

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