Sempre recebo mensagens de pessoas que estão tentando mudar a mentalidade de parentes e amigos sobre consumismo, dívidas, poupança, finanças pessoais, investimentos e outros temas da educação financeira. Estas pessoas são leitores do Clube dos Poupadores que já estão colhendo os benefícios da educação financeira e querem que as pessoas que amam (esposas, maridos, filhos, pais e amigos) possam beneficiar-se também.
Veja o exemplo da última mensagem que recebi de uma leitora do Clube. É claro que vou preservar a identidade da leitora.
Gostaria de sugerir um artigo ensinando educação financeira para o casal ou como ensinar o parceiro(a) a mudar hábitos ruins na vida financeira.
No meu caso por exemplo, sou uma pessoa que tenho pouco conhecimento financeiro, aprendi com a família a não gastar tudo que ganho, poupando uma parte, que já é um início e recentemente tenho corrido atrás para aprender mais. Porém a família do meu namorado, é completamente desestruturada, tem uma boa renda mensal porém gastam tudo que recebem e todos já estão com nome sujo e várias dívidas. No momento eu e meu namorado não moramos juntos e estamos desempregados, porém os péssimos hábitos dele fazem com que eu me veja obrigada a emprestar dinheiro/cartão de crédito a ele quando realmente precisa porém fico sempre desfalcada por não receber. Tento constantemente ensinar a ele, melhores hábitos mas não vejo resultados. Como proceder numa situação dessas?
A mudança de maus hábitos é um processo possível quando a pessoa tem consciência do mau hábito, tem convicções fortes de que precisa mudar e tem força de vontade para promover a mudança. Quando a pessoa não tem consciência, não está convencido de que precisa mudar ou não tem força de vontade é praticamente impossível que qualquer esforço externo gere resultados.
O homem já descobriu como modificar a matéria, já descobriu como modificar o código genético dos seres vivos, mas ainda não descobriu como ajudar alguém que não quer receber ajuda. Ainda não sabemos como modificar a mentalidade, opiniões e hábitos de uma pessoa que não está disposta a mudar.
Desde a formação dos primeiros grupos humanos, quando vivíamos dentro de cavernas, as pessoas tentam mudar a mentalidade das outras. Com esse objetivo desenvolvemos a linguagem, a escrita, o papel, livros, rádio, televisão e internet. As religiões surgiram com seus mandamentos e os filósofos com suas teorias que depois se tornariam o que chamamos de ciência.
Infelizmente, nem os livros, nem as religiões e muito menos a ciência é capaz de mudar alguém que não quer mudar. É devido a essa característica humana que existem tantas guerras. Quando você tenta impor a sua visão de mundo, (de maneira forçada) isso se transforma em conflitos. Esses conflitos podem ter proporções familiares e, em alguns casos, podem ter proporções mundiais (gerando as guerras).
O único caminho para mudar a mentalidade de alguém é através da paciência. As pessoas não mudam com palavras lidas ou ouvidas. Elas só mudam com palavras vividas. Elas mudam depois que passam por suas próprias experiências e conhecem bons exemplos a serem seguidos. Isso leva muito tempo, muitas vezes pode levar uma vida inteira. Para quem acredita em múltiplas existências, pode demorar muitas vidas.
A origem desse problema esta na visão de mundo que cada um carrega. Cada pessoa tem uma coleção diferente de experiências que formam uma bagagem. No meio de uma multidão não existem duas pessoas iguais, pois cada uma carrega dentro de si uma bagagem de experiências, observações, informações e conhecimentos. Cada pessoa acaba enxergando o mundo de uma maneria totalmente diferente da outra.
Por mais óbvio que possa parecer a ideia de que não podemos gastar tudo que ganhamos, que devemos guardar um pouco para o futuro, que devemos acumular patrimônio e não dívidas, que devemos ter prudência, que devemos ter reservas, que devemos ser organizados financeiramente, existem pessoas que não acreditam em nada disso. Ela possuem várias crenças, motivos, desculpas, lembrança que justificam a maneira como enxergam a realidade. Muitas vezes as pessoas criam realidades paralelas.
O problema fica mais grave quando estas pessoas encontram muletas. As muletas são parentes e amigos que vão oferecer ajuda impedindo que a pessoa aprenda a andar com as próprias pernas. Impedindo que a pessoa sofra as consequências da visão de mundo que ela está carregando (sofrimento educativo).
Imagine como seria trágico se todos os pais resolvessem presentear os filhos pequenas com muletas quando estivessem aprendendo a andar. Sem experimentar e sem cair para poder levantar é impossível aprender a andar. As pessoas precisam aprender a andar com as próprias pernas e não com as muletas.
Já mostrei esse vídeo em outros artigos. É importante mostrar novamente para que você entenda que as pessoas que te rodeiam não compartilha a sua visão da mundo. Mudar essa visão de mundo é um processo demorado e trabalhoso. A pessoa precisa querer mudança e para desejar essa mudança ela precisa ter as próprias experiências. Só assim ela poderá validar ou refutar suas crenças.
Precisamos ter paciência para entender que nem todo mundo está preparado para uma mudança de mentalidade. A maioria dos meus amigos e parentes não sabe que realizo esse trabalho de educação financeira aqui no Clube dos Poupadores. Os poucos que sabem não entendem a magnitude. Não perco energia tentando ensinar para quem não quer aprender, convencer quem já está convencido, ajudar quem não deseja ajuda, falar para quem não quer ouvir. Isso só me transformaria em um chato. Se você tentar “catequizar” pessoas próximas sobre educação financeira, provavelmente fará papel de chato(a). As pessoas precisam estar preparadas para uma mudança mensal.
Já mostrei essa animação em artigos anteriores. Ela mostra como é importante ter as próprias experiências ou saber observar e considerar a opinião daqueles que já viveram ou observaram situações que você ainda não viveu.
Respondendo a dúvida da leitora:
1 – Você não pode mudar a mentalidade de todos os familiares do seu namorado. A única coisa que você pode fazer é apontar caminhos e dar bons exemplos. Você pode dizer que existem caminhos e que você segue esses caminhos. Através do seu testemunho e do seu bom exemplo é possível despertar o interesse real por mudanças nas pessoas. Para isso é necessário que essas pessoas estejam experimentando as consequências da visão tortuosa de mundo que possuem. É em momentos de crise que as pessoas fazem reflexões e reavaliam crenças e valores que as levaram até a realidade que estão vivendo hoje.
Se esse interesse não for despertado em quem realmente precisa mudar, todo o esforço será jogado fora. Os grandes sábios, filósofos e educadores que passaram pela Terra de forma pacífica apontaram caminhos, deram bons exemplos e testemunharam. Todos aqueles que tentaram impor mudanças, ideias e valores a quem não desejava mudanças, tiveram que fazer isso através das guerras.
2 – Você não deve se sentir obrigada a mudar ninguém. Você só pode mudar você mesma. Você só é responsável pelo seu processo de evolução. Por isso que a primeira infância é tão importante. Quando a criança é bem pequena é possível transmitir os valores que queremos cultivar nelas. Na adolescência ou na fase adulta é tarde demais, pois nessa fase só aprendemos com nossas próprias experiências. Precisamos “quebrar a cara.”
3 – Ao ser muleta de alguém que está aprendendo a andar, você irá atrapalhar o processo. É necessário que as pessoas tenham as próprias experiências para que possam validar ou não a visão de mundo que elas construíram dentro delas. Se a pessoa vive devendo, vive com problemas financeiros e você sempre está evitando que ela colha as consequências dessa visão de mundo, você está atrapalhando o processo de aprendizagem da pessoa. Você está criando um processo de dependência.
4 – Para não ser muleta de ninguém você precisa aprender a dizer não. Isso é fundamental nas relações entre amigos, namorados, casais, pais e filhos. Seria necessário um artigo completo para falar sobre a importância de dizer não. Aqui vai um vídeo que resume esse tema e conduz para uma reflexão:
5 – Um namoro serve como uma experiência para avaliar a compatibilidade entre duas pessoas. Normalmente as pessoas são atraídas por qualidades superficiais, mas é através do namoro que você irá avaliar a compatibilidade entre os valores e as qualidades mais profundas. É durante o namoro que você vai avaliar se a outra pessoa tem objetivos compatíveis com os seus, se ela tem nível ético, moral, emocional e até intelectual compatível com o seu. Como falei, somente você é responsável pelo seu futuro e ninguém pode forçar outras pessoas a mudarem. Acabar um namoro é mais fácil que acabar um casamento. Namoros servem para acabar, são fases transitórias que terminam com um casamento ou terminam com uma separação.
6 – É muito difícil constituir uma família com outra pessoa que possui uma relação desequilibrada com o dinheiro. O desequilíbrio se manifesta em dois extremos. Temos pessoas que poupam como se fossem eternas e as que gastam como se fossem morrer amanhã. Esses extremos são fontes de problemas. É importante ter a consciência sobre a necessidade desse equilíbrio, não só nas relações com o dinheiro, mas em todas as áreas da vida.
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