Uma grande agência de publicidade entrou em contato comigo por e-mail querendo conversar pessoalmente sobre um projeto que um dos maiores bancos do pais pretende realizar. O objetivo seria ensinar educação financeira para aqueles que a funcionária da agência chamou de “classes populares”. A agência precisa descobrir quais conteúdos essas classes populares precisam aprender para que se eduquem financeiramente. Eles me enviaram as perguntas e consultas que gostariam de fazer através de um contato pessoal.

Quem acompanha o Clube dos Poupadores sabe que este projeto não tem e não pretende ter parcerias com instituições financeiras. Já recusei inúmeras propostas e vou continuar recusando.  Já existem muitos educadores financeiros, sites, blogs e canais do Youtube patrocinados com estas instituições. Muitos destes educadores ganham muito dinheiro vendendo consultorias, palestras, conteúdo e até fazendo propaganda para grandes bancos e corretoras.

Eu sei que as respostas que darei para a agência não serão levadas em consideração. Minhas respostas não atendem aos interesses dos bancos, atendem aos interesses das famílias que muitas vezes se tornam vítimas dos bancos e das suas campanhas publicitárias. Por isso, resolvi responder as perguntas gratuitamente neste artigo sem expor o banco, a agência de publicidade e a funcionária que entrou em contato comigo.

Provavelmente essa agência entrará em contato com outros educadores financeiros que terão uma boa oportunidade de negócio oferecendo assessoria para o banco. Basta que ele diga aquilo que a agência e o banco querem ouvir e não aquilo que as famílias precisam aprender sobre educação financeira.

Segue as perguntas e as respostas:

Pergunta 1: Educação financeira é um assunto muito vasto. Na sua opinião, quando pensamos nas necessidades das classes populares, o que é mais importante informar?

Toda a vastidão da educação financeira gira em torno de 3 regras simples de falar, fáceis de entender e difíceis de fazer.

  1. Eduque-se para ganhar mais, poupar mais e investir melhor;
  2. Poupe gastando menos do que você ganha para construir patrimônio;
  3. Invista o que poupou e multiplique seu patrimônio através dos juros compostos;

Este é o tripé básico. Todos os outros assuntos orbitam esses três pilares. Quem investe em si mesmo buscando novos conhecimentos, novas habilidades, novas competências, consegue ganhar mais por hora trabalhada. Quem ganha mais pode poupar mais. Quem poupa não precisa do dinheiro do banco para realizar sonhos. Não precisa comprometer uma vida de trabalho pagando taxas e juros em empréstimos e financiamentos. Quem poupa tem dinheiro para investir. Quando você investe com inteligência pode multiplicar seu patrimônio através dos juros sobre juros. Quem segue essas regras prospera financeiramente.

Observe que a base de tudo está no investimento em educação que as pessoas fazem ao longo da vida. Quem investe na própria educação, rapidamente percebe como é importante educar-se financeiramente. É através da educação financeira que as pessoas escapam dos péssimos produtos financeiros que os grandes bancos oferecem para seus clientes mais leigos.

É por isso que o Clube dos Poupadores é comprometido com a educação e com todos aqueles que trabalham para educar as pessoas.  É uma bobagem esperar que os bancos e o próprio governo ofereçam alguma iniciativa séria de educação financeira. São justamente os bancos e o governo que mais lucram com a ignorância financeira das pessoas. São as classes mais populares que passam a vida inteira trabalhando para pagar juros, taxas e impostos para aqueles que lucram com a ignorância alheia.

 

Pergunta 2: Quais as dificuldades financeiras das classes populares?

As classes populares não entendem as três regras que acabei de citar e isso gera todos os demais problemas financeiros. É um problema cultural reforçado pelas campanhas de publicidade dos bancos. Infelizmente muitos publicitários talentosos são contratados por grandes instituições para promover “deseducação financeira” e desinformação financeira entre a parcela mais vulnerável da população.  Aqui no Clube dos Poupadores existe um intensivo trabalho de desconstrução de todas coisas que são ditas nas campanhas de publicidade que prejudicam a vida financeira das pessoas.

Por vários anos o governo e os grandes bancos estimularam o consumismo através do endividamento, do crédito fácil e rápido como se isso fosse a solução dos problemas financeiros das famílias mais pobres.

Responda: O que acontece quando você estimula pessoas sem educação financeira a assumirem enormes dívidas de longo prazo? Você coloca famílias em crise. Quando você estimula o crédito, você aumenta o bem-estar das pessoas temporariamente, isso é bom para eleger políticos populistas e aumentar os lucros das empresas que são “amigas” desses políticos. O problema é que esse sentimento de prosperidade por ter comprado um carro financiado, uma casa financiada e um monte de bugigangas parceladas dura pouco tempo. Um dia a renda das famílias fica toda comprometida, as pessoas param de comprar, ficam inadimplentes e a economia para de crescer. As pessoas precisam aprender que só enriquece aquele que trabalha muito, poupa muito e investe muito. Ninguém enriquece ou melhora de vida  se endividando muito. O que as campanhas de publicidade fazem é estimular as pessoas a gastarem o dinheiro que não possuem, acumulando dívidas para realizar desejos de consumo sem planejamento, sem poupança e investimento prévio.

 

Pergunta 3: Percebe mudanças para essa classe no atual cenário econômico do Brasil?

As pessoas estão acordando para a realidade da pior forma possível. Acumularam enormes dívidas acreditando em todos os estímulos que a publicidade dos bancos, das empresas e do governo exibiram nos últimos anos. Por falta de educação financeira as pessoas não planejam suas compras e se tornam vítimas fáceis diante de campanhas que estimulam o consumismo e o endividamento através de decisões por impulso. As estratégias de marketing são cada vez mais violentas e a população mais pobre é justamente a mais vulnerável.

Os mais pobres e a classe média estão com uma boa parte da renda familiar comprometida com o pagamento de juros de dívidas assumidas no passado. O pouco da renda que sobra para viver, mal consegue pagar o aumento do custo de vida. Se a inflação continuar crescendo sem controle, em breve, as pessoas terão que escolher entre comer ou pagar as parcelas das dívidas que assumiram nos bancos e nas empresas.

Para terminar de completar a tragédia da falta de educação financeira dos brasileiros, o desemprego está batendo na porta de muitas famílias.  As empresas estão demitindo e não existem vagas para aqueles que estão desempregados ou aqueles que só resolveram trabalhar agora. Se pelo menos as pessoas tivessem feito reservas para uma emergência…, mas isso não aconteceu. Ninguém estimula a poupança e o investimento. Todos estimulam o consumismo e o endividamento.  O Brasil é o país com uma das menores taxas de poupança do mundo.

 

Pergunta 4: A classe média brasileira teve acesso muito recente a bens de consumo, que antes não alcançavam. Mas o cenário é outro, e a classe não quer perder o que conquistou. Qual principal mudança de atitude pode melhorar a vida dessas pessoas?

A classe média teve acesso a estes bens através das dívidas. A mudança começa quando a pessoa percebe que precisa trabalhar mais e melhor para poder ganhar mais. É do dinheiro que ela ganha, e não das dívidas, que ela poderá adquirir todos os bens de consumo que deseja ter. Se ganha pouco para realizar seus sonhos, precisa ganhar mais. Para ganhar mais precisa estudar mais e trabalhar melhor. Não existe mágica. É mantendo um padrão de vida compatível com a renda que as pessoas poderão poupar mais para planejar as compras futuras sem precisar pagar taxas e juros para os bancos. É ganhando juros sobre juros que você vai multiplicar seu patrimônio e atingir a estabilidade financeira que todos precisam. Todo o resto divulgado nas campanhas de publicidade dos bancos e do governo é bobagem.

 

Pergunta 5: Pensando especificamente nos jovens das classes populares, o que é mais importante informar? Que atitude na gestão do dinheiro pode ajudar o jovem a transformar pra melhor a sua realidade e o seu futuro?

Os jovens das classes populares precisam entender com urgência que só podemos mudar nosso futuro através da educação e do trabalho. A pessoa que não sabe de nada, nada não é capaz de realizar um trabalho que agregue valor na vida das outras pessoas. Quem não agrega valor, não recebe valor da sociedade. Quem não investe na própria educação de forma continuada não consegue melhorar a própria realidade por não ser capaz de gerar impacto na realidade das outras pessoas. Um bom profissional, sempre será reconhecido, sempre será bem remunerado e terá um futuro promissor. É necessário que o jovem invista no seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional. Existem habilidades e conhecimentos que são mais valorizados que outros no mercado de trabalho. É da nossa riqueza interior que emana todas as demais riquezas, incluindo a financeira.

Os jovens também precisam saber que bancos só servem para nos pagar juros pelo dinheiro que poupamos e emprestamos para eles. Jovens precisam ser poupadores, investidores e empreendedores, nunca devem se tornar devedores. O jovem precisa saber que sonhos não devem ser realizados com o dinheiro emprestado pelos bancos. Sonhos são realizados com dinheiro do nosso trabalho, que poupamos e investimos para comprar aquilo que queremos de forma planejada. Os jovens precisam parar de acreditar nos comerciais das agências publicitárias que prestam serviços para os bancos. Elas sempre mostram famílias felizes realizando sonhos antecipados depois de terem comprometido uma boa parte da renda futura através do pagamento de juros. Jovens precisam ter paciência, precisam trabalhar mais e melhor e esperar o momento certo para comprar aquilo que desejam.

Somos responsáveis pelo nosso crescimento pessoal, profissional e financeiro. Ninguém é mais interessado no nosso crescimento do que nós mesmos. Não devemos esperar educação financeira de bancos ou do próprio governo. Existe um enorme conflito de interesses. Devemos procurar nossa própria educação financeira.

Educação incomoda:

Tenho certeza que a agência de publicidade que atende esse grande banco não vai utilizar estas informações. Nada do que escrevi atende os interesses dos bancos. A única educação financeira que realmente interessa aos bancos é aquela que ensina a pessoa a pagar os juros em dia e sem atrasos. É por isso que os bancos centralizam a sua educação financeira no controle de gastos. Os bancos querem que a pessoa gaste menos com supérfluos para sobrar dinheiro no final do mês para pagar a fatura do cartão e as prestações dos financiamentos. Os bancos precisam de pessoas trabalhando e poupando para pagar suas prestações em dia e assim sustentar as elevadas margens de lucro destas instituições.

Tenho certeza que este artigo me fez perder um bom contrato com esse banco, perdi a oportunidade de vender minha consultoria, perdi a oportunidade de preparar o material educativo do banco, perdi a oportunidade de fazer palestras e publicidades bem remuneradas. Dizem que oportunidades não se perdem. Alguém sempre acaba encontrando a oportunidade que você deixou passar. Com certeza algum outro educador financeiro irá encontrar essa oportunidade que deixei passar de propósito.

Por isso, quero agradecer todos os leitores que compram meus livros, todos os leitores que compartilham o conteúdo do Clube dos Poupadores entre amigos  nas redes sociais. Graças a vocês que mais de 250 mil pessoas diferentes estão acessando nossos artigos mensalmente.