A diferença entre as pessoas mais ricas e as mais pobres não se limita ao número de dígitos que elas possuem em suas contas bancárias. A quantidade de dinheiro que cada um tem costuma ser uma consequência e não uma causa das diferenças. É por isso que muitos ricos vão a falência e poucos anos depois recuperam o que perderam, enquanto muitas pessoas humildes ficam ricas (exemplo: ganhando em loterias) e poucos anos depois retornam para a situação financeira difícil que se encontravam.

A grande causa da diferença entre ricos e pobres estaria em seus hábitos diários, segundo Tom Corley, autor do livro “Change Your Habits, Change Your Life: Strategies that Transformed 177 Average People into Self-Made Millionaires” ou alguma coisa do tipo “Mude seus hábitos, mude sua vida: Estratégias que transformaram 177 pessoas comuns em milionários” (pelo próprio esforço).

Durante 5 anos o autor pesquisou a vida de 177 milionários buscando identificar hábitos comuns entre eles. O autor acredita que se as pessoas cultivarem esses hábitos poderão melhorar sua situação financeira. Ele acredita que a prosperidade financeira não depende somente de quanto você ganha ou da estratégia que você utiliza para investir dinheiro. Segundo o autor, os seus hábitos diários determinam se você será uma pessoa rica, pobre ou presa na classe média durante a vida.

O que é ser rico e pobre:

É importante definir o que o autor Tom Corley classifica como uma pessoa pobre ou rica. Para ele, rico é aquela pessoa que tem uma renda anual acima de US$ 160.000,00. Isso significa US$ 13.333,33 por mês. Com o real valendo R$ 3,50 isso seria R$ 560.000,00 por ano ou R$ 46.666,66 por mês. Já as pessoas que ele chama de pobres são aquelas que ganham menos de US$ 35.000,00 por ano ou R$ 122.500,00 por ano que seria como ganhar R$ 10.208,00 líquidos por mês. Já a classe média seria alguém que ganha entre R$ 10 mil e R$ 46 mil. Para a nossa realidade brasileira o que ele chama de pobre é a nossa classe média.

Veja alguns hábitos que ele destaca no livro e tente refletir sobre a sua realidade atual e o que você planeja para o seu futuro.

Hábito do jogo:

Entre os 177 milionários investigados por Tom Corley, nenhum conquistou riqueza de forma fácil e rápida. A conquista do sucesso financeiro costuma ser um processo lento, que exige iniciativa e muito esforço das pessoas. Ele identificou que as pessoas que buscam formas rápidas de ganhar dinheiro estão perdendo tempo e se iludindo.

No seu estudo, 77% das pessoas pobres fazem apostas esportivas ou em loterias regularmente. Por outro lado, 94% das pessoas mais ricas nunca perderam tempo e dinheiro apostando em loterias. Já escrevi um artigo sobre esse mau hábito do brasileiro que é gastar tempo e dinheiro em jogos de loteria.

Hábito de beber muito:

As pessoas mais pobres exageram nas bebidas alcoólicas durante toda a vida. Segundo autor, existe uma grande diferença entre beber um copo de cerveja ocasionalmente e transformar isso em um hábito. Infelizmente eu conheço pessoas que são sóbrias de segunda até às 18:00 de sexta-feira e bêbadas nos demais dias. Posso garantir que não são as pessoas mais bem-sucedidas que conheço, muito pelo contrário. O autor do livro diz que quem tem o mau hábito de beber regularmente diminui suas chances de sucesso financeiro.

Ele diz que 50% das pessoas mais pobres pesquisadas por ele bebiam mais de dois copos de bebida alcoólica por dia”. Oitenta e quatro por cento dos milionários em seu estudo bebiam menos do que isso.

O autor também justifica que beber muito pode afetar a sua memória e capacidade de pensar com clareza. Além disso, você desperdiça saúde e dinheiro consumindo bebidas que podem gerar inúmeras sequelas e mais despesas e perda de tempo resolvendo os problemas que o álcool pode gerar. Isso vai de um acidente de trânsito até demissões do emprego e divórcios.

O mau hábito de consumir bebidas alcoólicas cresce com o passar dos anos aumentando os prejuízos e problemas em todas as áreas da vida. Só quem ganha com isso são pessoas como o Jorge Paulo Lemann, sócio da Ambev e homem mais rico do Brasil. Enquanto você bebe Brahma, Skol e Antarctica, ajuda Lemann a aumentar seu patrimônio em R$ 3,6 milhões por hora (fonte).

Se você não bebe, parabéns. Se você bebe, controle esse seu mau hábito e faça o favor de mostrar para seus filhos que é um mau hábito. Se você bebe muito, é bom refletir sobre as consequências futuras em todas as áreas da sua vida, incluindo a financeira.

Amy morreu em 2011, com 28 anos, por ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.

Hábito de conviver com pessoas tóxicas:

O autor chama as pessoas com pensamentos negativos de “pessoas tóxicas”. São aquelas pessoas que ligam para você para reclamar do cônjuge, reclamar do chefe, reclamar do trabalho, reclamar da saúde, reclamar do governo, reclamar dos familiares, reclamar do passado, do presente e do futuro.

Se você parar para refletir, vai perceber que você possui vários “amigos de reclamação”. São pessoas que gostam de reclamar das mesmas coisas que você reclama. Vocês marcam encontros para colocar as reclamações em dia. Você sente saudade quando fica muito tempo sem reclamar com seu amigo de reclamação.

Faça um teste. Tente conversar de forma consciente da próxima vez que se reunir com seus amigos. Vigie e observe quais são seus amigos de reclamação.

O autor diz que 80% das pessoas mais ricas, que fizeram parte do estudo, desenvolveram o hábito de se associarem com outras pessoas positivas e que tinham o que ele chamou de “espírito de sucesso”. Quantas pessoas você conhece que conversam com você sobre o sucesso que estão conquistando na vida? Quantas pessoas falam empolgadamente sobre um livro que estão lendo ou sobre alguma coisa que estão estudando? Quantas compartilham com você os bons resultados que estão conquistando no emprego ou em um empreendimento? Quais amigos falam sobre planos de abrir um negócio, planos para prosperar profissionalmente, financeiramente ou intelectualmente? Quantos motivam você a seguir o mesmo caminho de prosperidade? Eu aposto que você conhece poucas pessoas assim. Por isso que a prosperidade tende a ser um caminho solitário se você não buscar novos amigos.

Os mais prósperos não se afastam totalmente dos amigos “tóxicos”, eles apenas gerenciam sua exposição e conseguem perceber, de forma consciente, a comunicação negativa das pessoas. Isso permite evitar a influência negativa sem necessariamente precisar se afastar das pessoas negativas.

Apenas 4% das pessoas mais pobres, que participaram do estudo do autor, possuem amizades com indivíduos positivos com “espírito de sucesso”. Noventa e seis por cento dos mais pobres cultivam amizades com “indivíduos tóxicos”. O autor diz que, para ser bem-sucedido, é bom cercar-se de pessoas que também querem ou já são bem-sucedidas.

Hábito de assistir muita TV:

Setenta e sete por cento dos mais pobres do estudo assistem mais de 1 hora por dia de televisão. Sessenta e sete por cento dos milionários assistem menos de 1 hora de TV por dia. Segundo o autor, os ricos se divertem buscando conhecimento e educação. Eles trocam a televisão pela leitura, meditação, exercício e qualquer atividade ligada com a auto-educação (livros, cursos, vídeo-aulas, palestras, etc) e fazem isso por diversão, não por obrigação.

O autor diz que os mais ricos possuem o hábito de aproveitar o tempo de forma produtiva enquanto as pessoas mais pobres estão sempre buscando passatempos (formas de perder tempo).

Hábito do pensamento negativo:

O autor diz que “O sucesso de longo prazo só é possível quando você tem uma perspectiva positiva”, ou seja, quando você é otimista com relação ao futuro. Ele diz que o maior problema das pessoas é que elas são completamente inconscientes sobre seus pensamentos, positivos ou negativos. Ele diz que se todo mundo parar para “ouvir os próprios pensamentos”, de forma consciente, seria possível perceber que grande parte das coisas que pensamos durante o dia são coisas negativas e pessimistas.

Eu entendo que esses pensamentos são a base dos nossos atos. Se você está sempre pensando negativamente sobre tudo, suas decisões serão sempre baseadas nestes pensamentos. Vou dar um exemplo bem simples sobre investimentos. As pessoas sentem tanto medo de investir fora da Poupança que mesmo sabendo que estão perdendo dinheiro (baixa rentabilidade), elas preferem perder dinheiro.

Existe o medo de sair da poupança, o medo de aprender novas formas de investimento, o medo de investir fora dos grandes bancos, a preguiça de aprender mais sobre o mundo dos investimentos e por ai vai. Isso é apenas um exemplo sobre os investimentos dos brasileiros (já falei sobre isso nesse artigo). Esses pensamentos negativos e pessimistas não afetam só os investimentos. Afeta as decisões de consumo, a vida profissional e familiar.

Hábito de procrastinar:

A procrastinação é o nome bonito de “empurrar com a barriga”. O mau hábito vem de cima, basta ver o que o governo costuma fazer com questões importantes relacionadas com a economia e com a política. O autor diz que existem muitas pessoas talentosas que não conseguem prosperar na vida por culpa do hábito da procrastinação. Você deve conhecer muita gente que costuma empurrar todos os problemas com a barriga. Sempre deixam as decisões para quando é tarde demais. Outro autor que já estudou os mais ricos, Napoleon Hill, dizia que as pessoas mais ricas são justamente aquelas que tomam mais decisões.

O autor diz que se você refletir bem vai perceber que a sua situação financeira hoje seria bem melhor se você não tivesse empurrado alguns problemas com a barriga.

Como escritor, ocupa as primeiras posições no ranking dos livros mais vendidos no mundo. Vendeu, até hoje, um total de 218 milhões de livros, em mais de 150 países , tendo suas obras traduzidas para 66 idiomas.

Hábito de agradar todo mundo:

As pessoas sentem muito medo de tomar decisões para evitar as críticas. Outro problema é que, com medo de receberem críticas, as pessoas não costumam pedir um feedback das outras. Se você nunca perguntar para o seu chefe como está o seu desempenho no trabalho e o que ele acha que deveria melhorar, você só vai descobrir que existia um problema depois que for demitido.

O mesmo vale para um profissional liberal ou um empresário. Se você não pede a opinião dos seus clientes, funcionários e fornecedores com medo das críticas, você só vai perceber o problema depois que o prejuízo for irrecuperável. Falta de feedback sempre aparece na conta bancária da sua empresa.

É muito importante aprender a ouvir as críticas de uma forma construtiva, mesmo que as críticas sejam destrutivas. É a forma rápida e barata de aprender com os próprios erros e fazer ajustes importantes para o seu crescimento profissional e financeiro. É o feedback das pessoas que ajudam a identificar se você está no caminho certo.

Toda crítica é boa. O que você faz com a crítica é que pode ser uma coisa boa ou uma coisa ruim.

Ofender-se com críticas é ruim e inútil. Ninguém deve ter o poder de modificar o seu humor. Se as pessoas que te criticam possuem esse poder, é você que entrega esse poder para elas, ou seja, é você que permite.

As pessoas mais ricas gostam de pedir feedback dos clientes, fornecedores, patrões, chefes, etc. A frase abaixo é do Bill Gates, um dos homens mais ricos do mundo. Se ele pensa assim, por qual motivo você deveria pensar diferente?

Hábito Overspending

É o hábito de gastar excessivamente ou gastar mais do que a sua renda mensal permite. É outro mau hábito que vem de cima para baixo. Vivemos em um país onde os políticos dificilmente entendem que só podem gastar aquilo que arrecadam ou que só podem prometer quando existe dinheiro para cumprir a promessa. Depois que mentem e até cometem crimes fiscais para gastar mais do que arrecadam, reclamam das críticas da sociedade (que é quem paga o pato).

O autor do livro identificou que 95% dos mais pobres, que fizeram parte do estudo, costumam fazer dívidas para subsidiar um padrão de vida acima do que a sua renda seria capaz de permitir. São pessoas que constroem um mundo fantasioso no presente comprometendo a renda futura com o pagamento de taxas e juros de empréstimos e financiamentos. Escrevi um artigo recente sobre a maldição financeira dos funcionários públicos que reflete esse problema.

Quando você gasta mais do que ganha, você não consegue acumular patrimônio, não consegue realizar sonhos planejados, não consegue acumular recursos para a aposentadoria, fica mais tempo do que deveria dependente do emprego, fica dependente do INSS e fica fora de oportunidades profissionais e de negócios que podem surgir justamente quando você não tem dinheiro para aproveitá-las.

Gastando mais do que você ganha e colocando a formação do seu patrimônio em segundo plano, segundo o autor, você estará “construindo pobreza no longo prazo, sem esperança de escapar desse destino”.

Hábito de trabalhar naquilo que você odeia:

É evidente que você não vai conseguir prosperar profissionalmente e financeiramente se você odeia o trabalho que faz todos os dias. Também parece evidente que alguém apaixonado pelo trabalho que realiza, vai conseguir colher mais frutos no decorrer dos anos.

Você está no seu emprego. Falta 1 hora para o horário de ir para casa. Você resolve usar algum passatempo (sem o seu chefe perceber) para chegar logo o momento de ir embora. Em algum lugar, alguém apaixonado pelo trabalho que faz, vai aproveitar essa 1 hora para trabalhar mais e provavelmente vai chegar um pouco mais tarde em casa, não por necessidade, mas pelo gosto de fazer um bom trabalho. É inevitável que os seus resultados financeiros sejam diferentes dos resultados financeiros de quem gosta do trabalho que faz.

Segundo o autor do livro, trabalhar naquilo que você odeia, não só vai deixá-lo estressado e insatisfeitos com a vida, mas também irá afetar suas chances de prosperar financeiramente (enriquecer).

As pessoas financeiramente mais bem-sucedidas, trabalham em atividades que são suas grandes paixões. Algumas seriam capazes de fazer o que estão fazendo até se não fossem remuneradas. Você já deve ter ouvido a frase: “Faço o que gosto e ainda sou remunerado por isso”.

O autor diz que a paixão pelo trabalho que fazemos pode fazer nosso desempenho ser melhor do que o desempenho de pessoas tecnicamente mais preparadas, mais inteligentes e com habilidades que não temos.

Qualquer vantagem que seus colegas de trabalho ou seus concorrentes possuem serão superadas por você se eles odeiam o que fazem e você é apaixonado pelo que faz.

A paixão pelo que você faz transforma o seu trabalho uma diversão. A paixão pelo seu trabalho é fonte de energia, fonte de persistência, fonte de inspiração, fonte do foco necessário para superar as falhas, erros e rejeição. Pessoas apaixonadas pelo que fazem levantam quando tropeçam, superam obstáculos e todas as armadilhas que separam o seu presente de um futuro próspero.

Já as pessoas que não gostam do que fazem, sempre encontram uma desculpa para trabalhar menos, ganhar menos e prosperar menos.

Personagem de uma série infantil que foi exemplo de educação financeira de milhões de crianças brasileiras nas últimas décadas. Ótimo para o sucesso financeiro do Silvio Santos ao vender Tele-Sena e o antigo Baú da Felicidade.

Hábito do rebanho:

Adoramos fazer parte do rebanho. Adoramos fazer as coisas da forma que todas as pessoas fazem. Adoramos quando nossa vida é parecida com a vida dos nossos amigos e parentes. Eu já conheci uma pessoa que dizia não querer prosperar na vida. Ela acreditava que isso iria afastar seus melhores amigos e até os seus parentes mais humildes. É como se o fato dela prosperar financeiramente fizesse ela se tornar um indivíduo diferente no rebanho e isso produziria um incômodo.

O autor diz que o sucesso profissional e financeiro faz você se diferenciar na multidão. A maioria das pessoas busca paz de espirito naquele estilo de vida que é familiar e comum. É por isso que hesitam fazer qualquer coisa que as tirem dessa zona de familiaridade (zona de conforto).

Os mais ricos não se importam com o destaque na multidão. Não se sentem desconfortáveis diante de amigos e parentes mais humildes. Também são pessoas que não se importam com as incertezas. São pessoas que preferem novos desafios e entendem que isso representam riscos que devem ser superados. Superar desafios gera satisfação e não desconforto. O autor diz que a busca da riqueza requer que você assuma riscos.

A busca pela segurança no rebanho, segundo o autor, é o que faz a minoria das pessoas do mundo atingirem um nível elevado de prosperidade financeira. A grande verdade é que as pessoas preferem uma renda segura (a  maioria), mesmo que seja baixa, e buscam isso no emprego assalariado e nos direitos trabalhistas fornecidos por quem assume mais riscos (que é a minoria).

Minhas conclusões:

Para que um dia você possa trabalhar com aquilo que você gosta, provavelmente terá que trabalhar por algum tempo em alguma atividade que não gosta muito. No lugar de gastar boa parte do que você ganha para compensar o trabalho chato que você fez durante o mês, seria melhor criar um plano para poupar, investir e um dia poder trabalhar naquilo que você ama fazer.

Tem muita gente que passa o fim de semana todo bebendo ou fazendo compras nos shoppings utilizando como desculpa: “Eu mereço, eu passei a semana me sacrificando naquele trabalho chato e agora eu devo me presentear com tudo de bom, não importando o preço”. Se você pensa assim seria interessante fazer uma reavaliação sobre sua estratégia.

Emprego chato é uma solução de curto prazo para um problema de longo prazo. O consumismo só remedia, não cura seu desconforto.

O autor do livro classificou os mais ricos como aqueles com renda acima de R$ 560.000,00 por ano. Dificilmente, no Brasil, você conseguirá esses resultados através dos salários de um emprego privado ou público. Isso não significa que você não deva reavaliar seus hábitos imediatamente.

As pessoas mais ricas, que fizeram parte do estudo, não adquiriram esses hábitos depois de conquistarem uma renda mensal acima de R$ 50.000,00. É justamente o contrário. Elas primeiro mudaram hábitos negativos e cultivaram hábitos positivos. Os resultados financeiros foram as consequências por terem atingido sucesso profissional acima da média (e fora do rebanho) nos seus empregos ou nas suas empresas.

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