Um leitor aqui do Clube dos Poupadores me pediu para comentar essa notícia aqui, com base em dados que os sites de notícia estão utilizando para produzir conteúdo repleto de falácias e sensacionalismos relacionados com questões financeiras. Sinta–se à vontade para procurar a notícia no Google.
Eu li a forma como os dados foram interpretados e identifiquei inúmeros problemas. Vou aproveitar essa situação para fazer alguns alertas aos leitores.
Apelo à emoção
A linguagem utilizada, como “1% mais ricos” e “40% mais pobres”, tem objetivo de evocar sentimentos de indignação, ódio e antagonismo entre classes sociais, principalmente contra a classe média, já que a reportagem chama de “rico” uma pessoa que tem uma renda mensal de R$ 20 mil, sem considerar que renda não é riqueza.
Chamar alguém de “rico” apenas com base na renda mensal é uma generalização enganosa. Riqueza está mais relacionada ao patrimônio e às reservas financeiras acumuladas (no decorrer de muito tempo) do que apenas à renda atual.
Uma pessoa pode ter uma renda mensal alta, como R$ 20 mil, mas também ter gastos elevados, dívidas substanciais e pouca ou nenhuma reserva financeira. Nesse caso, apesar da renda alta, ela não seria considerada verdadeiramente rica em termos de patrimônio líquido.
Narrativa de vitimização e falsa dicotomia
Ao enfatizar a disparidade entre “ricos” e “pobres”, eles tentam construir uma narrativa de que os pobres são vítimas de um sistema injusto e opressivo.
A divisão simplista entre “ricos” e “pobres” parece ter o objetivo de obscurecer a complexidade da social e econômica. A ênfase excessiva na desigualdade de renda parece ter o objetivo de distorcer a realidade. O percentual de pessoas que possuem qualificação profissional para receber elevados salários é naturalmente pequeno. O percentual de brasileiros que possuem renda elevada por terem o próprio negócio é pequeno. Infelizmente, o percentual de brasileiros que possui baixa escolaridade, baixa qualificação profissional é grande.
O percentual de pessoas que não trabalham, não empreendem e não estão fazendo nada para sair dessa situação de dependência, também parece ser pequeno. A notícia destaca os dados que corroboram a narrativa de desigualdade crescente, mas negligencia outras informações relevantes.
Ao citar o IBGE como fonte, a notícia pode sugerir uma autoridade irrefutável, mas fica evidente que a interpretação dos dados é sempre discutível e perigosa. A notícia tenta extrapolar conclusões sobre a desigualdade no Brasil com base apenas nos dados de renda, sem considerar outros fatores.
Por fim fica evidente o uso do viés de ancoragem. A ênfase nos percentuais mais extremos (1% mais rico e 40% mais pobres) tem o claro objetivo de ancorar a percepção do leitor em um determinado ponto de vista.
Tenha cuidado com as notícias
Existem muitos meios de comunicação que estão alimentando uma visão simplista e enganosa da realidade quando o assunto é dinheiro, renda, investimentos e economia. Frequentemente eles ignoram o fato de que a desigualdade pode ser um subproduto natural de um sistema onde as pessoas são recompensadas de acordo com suas habilidades, esforços e escolhas.
Se temos um sistema que recompensa habilidades, esforços e as escolhas pessoais de cada pessoa, não seria totalmente natural e justo que cada pessoa tivesse resultados diferentes? A renda e a quantidade de dinheiro que as pessoas acumulam estão desconectadas das habilidades, esforços e escolhas?
Além disso, ao sugerir que a intervenção governamental, por meio de programas de transferência de renda, é a principal solução para a desigualdade, esses veículos estão promovendo uma visão distorcida do papel do Estado na economia. Eles negligenciam o fato de que o verdadeiro motor do crescimento econômico sustentável e da melhoria das condições de vida é a iniciativa livre das pessoas que tomam decisões financeiras, abrem negócios, inovam e criam empregos oferecendo produtos e serviços que beneficiam todos.
Ao adotar uma narrativa de “ricos versus pobres”, esses jornais alimentam uma mentalidade de conflito de classes e ressentimento, em vez de promover uma compreensão mais profunda dos processos econômicos que levam à criação de riqueza e oportunidades para todos.
Além disso, ao ignorar os princípios fundamentais da economia, como a escassez de recursos, consequências das escolhas que fazemos com os recursos escassos e a importância dos incentivos individuais, esses veículos estão apresentando uma visão distorcida da realidade, que pode levar a população a tomar decisões erradas com relação a própria vida financeira.
Combata sua própria ignorância financeira
Situações assim não existiriam se as pessoas investissem na própria educação financeira. Provavelmente teríamos mais pessoas enriquecendo e chegando na classe média se os jornais mostrassem que o mundo do dinheiro funciona de uma forma bem específica.
Não sabemos até quando será possível opinar e refletir sobre esses temas livremente.
Eu recomento que você invista na sua educação financeira, eu já escrevi vários livros sobre esses assuntos. Pare de gastar tempo consumindo conteúdos superficiais sobre dinheiro e economia nos sites de notícias. Dedique seu tempo aprendendo como as coisas funcionam. Reduza a pobreza do mundo começando a combater a sua própria pobreza.
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Boa tarde, Leandro!
Hoje eu estava lendo o memorando growing the pie (disponível em: https://www.oaktreecapital.com/docs/default-source/memos/growing-the-pie.pdf?sfvrsn=423fab65_8), escrito por Howard Marks, e é incrível como podemos perceber facilmente como a ideologia socialista/comunista vem correndo as relações econômicas e sociais.
Penso que o seu texto dialoga bem com o do Howard Marks.
Obrigado por nos trazer mais esta significativa reflexão!
Continue com seu trabalho de educador, ele é sensacional!
Que o Senhor Deus aumente em você a prudência, a justiça, a fortaleza e temperança, a fim de você continuar exercendo com generosidade sua missão de educador financeiro!
Olá Gabriel. Obrigado por compartilhar. Vou deixar aqui, partes interessantes que encontrei nesse texto que você compartilhou:
1. Uma das principais razões por trás da capacidade do populismo de agitar as pessoas é a recepção favorável que a sua retórica recebe. “Eles têm demais.” “Fomos enganados.” “O sistema está fraudado.” “Eles chegaram onde estão trapaceando.” “Os ricos não pagam a sua parte justa.” Frases como essas encontram públicos receptivos entre pessoas que estão insatisfeitas com sua sorte, enquanto detectam o erro nestas declarações requer uma visão, um sentido de história e uma compreensão da economia que falta a muitas pessoas.
2. se pode atribuir ao capitalismo grande parte daquilo que fez dos Estados Unidos o que são hoje. Em suma, tomando emprestada a terminologia de Ray, o sistema capitalista conseguiu isto criando o maior bolo: o maior PIB total do mundo e um dos mais elevados PIB per capita. E só o capitalismo poderá fazer com que o bolo continue a crescer.
3. O fracasso dos sistemas não-capitalistas em produzir crescimento económico e prosperidade está bem documentado. Obviamente, porém, quando o bolo é dividido sob o capitalismo, nem todos recebem o mesmo tamanho pedaço.
4. Sob o capitalismo, é provável que vejamos fatias maiores do bolo irem, por exemplo, para aqueles que são mais inteligentes, mais talentosos e mais trabalhadores, mas também para aqueles que têm mais sorte ou nasceram ricos.
5. E o que querem os “populistas de esquerda”? Na maior parte, resultados “mais justos” e mais igualitários. Eles dizem relativamente pouco sobre a expansão do bolo, mas mais sobre a justiça na forma como ele é distribuído. A virtude inerente ao socialismo é a partilha igualitária das misérias.
6. Quando olhamos ao redor do mundo, vemos países que enfatizaram a partilha igualitária do bolo e outros que se preocuparam mais em expandir o bolo. Os participantes iguais incluem Cuba, a Coreia do Norte, a Venezuela e a URSS, enquanto os expansores, além dos EUA, incluem a Coreia do Sul, Hong Kong e Singapura. Em que grupo de países as pessoas geralmente vivem melhor? Em qual grupo você prefere viver?
7. O capitalismo não conhece nem se preocupa com a justiça no sentido de partilha igualitária. O que considera justo é a proposição de que as pessoas que têm maior capacidade ou trabalham mais devem poder ganhar mais. Esse potencial, afirma, proporciona incentivos ao trabalho árduo e recompensa aqueles que o realizam, resultando, em última análise, numa vida melhor para quase todos.
Muito boa essa analogia com os bolos. É bem isso… na cabeça de muitos (talvez da maioria), é melhor dividir igualmente um bolo velho, pequeno e mofado do que trabalhar para fazer um bolo maior e mais saboroso. Por isso que as coisas estão desse jeito. E quem resolve fazer o próprio bolo e melhorar a receita é visto como bandido, em vez de ser visto como exemplo. Muitas vezes a pessoa faz um bolo incrível, e depois vem alguém de fora e joga veneno em cima.
A inflação sempre foi algo ruim, mas esse aumento no M2 nos últimos anos é realmente assustador. Chega a nos fazer refletir até que ponto vale a pena poupar recursos que derretem a uma taxa elevada. Sigo poupando e investindo porque a alternativa é ainda pior. Mas acho que nunca chegarei no ponto de ficar tranquilo e pensar: “Ok, trabalhei bastante, estudei, investi, atingi a minha liberdade financeira e agora nada vai me levar de volta para a corrida dos ratos”. Acho que por precaução, mesmo que eu atinja a sonhada liberdade, sempre vou me sentir na obrigação de continuar trabalhando como louco, pois o risco de o Estado roubar (direta ou indiretamente) o meu patrimônio acumulado sempre vai existir.
Seus conteúdos ajudam muito na busca de conhecimento. A leitura é um privilégio. Obrigado! Parabéns!
No mundo atual:
– Uma coisa abominável (socialismo), que apresenta graves falhas (teóricas, práticas, econômicas, morais) é vista como uma coisa boa pela maioria da população.
– Uma coisa incrível (capitalismo), que apresenta ótimas qualidades (incentivo a trabalhar, a poupar, a criar bens e serviços de qualidade, a melhorar a vida das pessoas) é vista como algo horrível e que precisa acabar.
Fico pensando… será que realmente somos a espécie mais inteligente, como costumamos acreditar?
Olá Cintia. Somos uma espécie emocionada (no sentido engativo), que infelizmente acredita em mentiras com muita facilidade. É por isos que na Grécia de Platão, existia uma forte preocupação em demonstrar a importância do pensamento lógico e racional na sociedade em detrimento da retórica e das narrativas. Muitos povos já sucumbiram no passado por adotarem ilusões e parece que a história está se repetindo, mesmo com tanta tecnologia e conhecimento disponível.