Será que você está dando muito valor para produtos e marcas que na prática não possuem nenhum valor? Será que aquilo que você valoriza realmente agrega algum valor na sua vida?
Todos nós cultivamos e cultuamos marcas e produtos que fazem mal para o nosso bolso e em alguns casos, fazem mal para nossa saúde. Nos deixarmos influenciar pelas indústrias que lucram com o culto ao consumo e não pensamos muito antes de jogar nosso dinheiro fora. Comprar determinados produtos se tornou um verdadeiro ritual de auto-enganação e de ilusão coletiva.
Podemos encontrar um bom exemplo no culto ao consumo de determinadas bebidas alcoólicas como vinhos e whiskys. Recentemente a indústria da cerveja também vem introduzindo o hábito de consumo das chamadas “cervejas especiais”, normalmente importadas, e que são comuns e baratas em seus países de origem, mas que aqui, são vendidas 10 vezes mais caras.
Faz mal para o seu bolso
Certa vez um amigo me disse (todo orgulhoso) que tinha adquirido o hábito de tomar uma dose de whisky todos os dias ao chegar do trabalho. Para ele se tornou um ritual de relaxamento, um remédio para tratar o estresse de um dia cansativo de trabalho.
Então perguntei para ele: Quem disse que whisky tem função terapêutica? O relaxamento pode ser obtido ouvindo música, fazendo exercício, assistindo um filme, praticando algum hobby ou batendo papo com os amigos.
Existem muitas formas de relaxar que não dependem do whisky. Então ele me perguntou se eu nunca tinha visto nos filmes ou nas novelas, aqueles empresários bem sucedidos chegando em casa depois de um dia cansativo, se servido de uma boa dose de whisky para relaxar em um sofá confortável.
Ele associou a imagem de um empresário bem sucedido com o hábito de beber whiskys caros depois de um dia estressante de trabalho. Diariamente ele mergulha na ilusão de que é feliz e bem sucedido bebendo como se estivesse em um filme.
Toda vez que você vê algum ator no cinema ou na televisão consumido álcool, não tenha dúvida que do outro lado existe um contrato de publicidade e profissionais qualificados trabalhando para embutir na sua vida um mau hábito que lhe custará parte da sua saúde e uma grande parte do seu dinheiro no longo prazo.
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Este meu amigo rapidamente adquiriu o hábito de beber todos os dias. Isto passou a representar um custo fixo mensal entre R$ 100,00 e R$ 200,00 só de whisky. Hoje ele já não se contenta com o whisky mais barato e se sente uma pessoa especial quando possui um whisky de R$ 800,00 ou quando compra uma garrafa de R$ 3.000,00. Infelizmente, por se orgulhar de suas aquisições, ele costuma compartilhar as fotos de suas garrafas mais caras em redes sociais e através do mecanismo do contágio social acaba influenciando amigos e parentes a assimilarem seus valores tortuosos.
Infelizmente é um mau hábito, não só para o bolso dele mas para a saúde. O que ele gasta com whisky e outras bebidas poderia ser melhor aproveitado em outras atividades de lazer que podem se transformar em hábitos saudáveis. Esta pessoa que me refiro não é rica, não possui recursos sobrando para esbanjar (jogar fora). Se trata de uma pessoa jovem de classe média que deveria planejar o futuro evitando ostentações desnecessárias. O dinheiro que ele gasta com pouca inteligência, hoje, é o mesmo que vai fazer falta amanhã e que provavelmente o levará a assumir dívidas (financiamentos) para adquirir coisas que realmente importam.
A legislação brasileira, através do decreto 6871 permite que o álcool etílico potável seja misturado com diversos tipos de bebida como vodcas e o whisky. O próprio whisky pode ser legalmente misturado com álcool potável, água e corantes para literalmente iludir as pessoas (Art. 55 do Decreto 6871). Legalmente é possível misturar 30% de wisky verdadeiro com álcool e água e mesmo assim vender com o nome de whisky por preços absurdos. Isto significa que muito do preço que as pessoas pagam pelo whisky é na verdade água e álcool barato. Até quando você avalia as características químicas do produto, percebe que aquilo que as pessoas dão valor, na prática não tem valor.
O mesmo problema acontece com aqueles que adquirem o hábito de consumir vinho durante as refeições. São pessoas que acreditaram naquela duvidosa ideia de que consumir uma taça de vinho durante as refeições faz bem para o coração. Na verdade o que faz bem para o coração é o consumo de frutas. O agricultor não tem o mesmo poder econômico do produtor de bebidas alcoólicas para patrocinar novelas, filmes e reportagens na TV sobre os benefícios daquilo que vendem.
E o hábito de beber vinho durante as refeições é pior (financeiramente) já que as garrafas dos vinhos considerados de boa qualidade são caras e o consumo de todo seu conteúdo pode ocorrer em um único jantar.
Quando o consumo ocorre dentro de restaurantes o estrago econômico é ainda maior. Observe que existe uma diferença muito grande entre consumir bebida alcoólica eventualmente e consumir regularmente introduzindo este consumo na sua vida como um hábito, que inclusive pode se transformar em uma dependência química ou estimular as pessoas da sua casa a se tornarem dependentes no futuro.
Se você tem o mau hábito de consumir bebidas alcoólicas regularmente e não se importa com o mau que isto pode provocar na sua saúde, tente calcular o mau que está fazendo para suas finanças pessoais. Faça um levantamento de quanto você gastou com bebidas nos últimos 12 meses.
Dependendo da marca do whisky, vinho ou da cerveja importada que você consume, além da regularidade de consumo, estes gastos podem ultrapassar a cada das dezenas de milhares de reais por ano.
Este dinheiro poderia ser utilizado para realizar outras atividades de lazer, atividades culturais, mais saudáveis e prazerosas. Se você possui filhos, os seus hábitos de consumo e o valor que você dá para estes rituais que envolvem a bebida alcoólica são transferidos para as crianças como valores que elas futuramente também vão cultuar, muitas vezes com exagero durante a adolescência. E certamente estes valores serão transferidos para seus netos.
A mesma ideia se aplica ao vício do cigarro. Felizmente o consumo do cigarro já é tratado como um problema de saúde pública, os anúncios publicitários são proibidos e o consumo oficialmente desestimulado. Eu torço para que no futuro o mesmo aconteça com o consumo de toda e qualquer bebida alcoólica, principalmente aquelas que a publicidade vincula ao luxo, status e poder econômico, quando na verdade são apenas drogas licitas produzida e vendida por uma indústria que lucra bilhões prejudicando as pessoas e a sociedade.
Consumo de marcas
Outro hábito que faz você perder muito dinheiro é consumo de produtos de marca, principalmente os produtos de moda, beleza, e estética. Isto tem relação com o falso valor que você dá para determinadas marcas e por acreditar em benefícios fantasiosos que muitas prometem oferecer.
Nada agrava mais a pobreza, que a mania de querer parecer rico.
“Marques de Maricá”
Na maioria das vezes, o consumo de produtos de marcas caras está relacionado ao nosso desejo de parecer ser rico, parecer ser importante, parecer ter mais valor que as outras pessoas, parecer ser especial. Também está relacionado com a necessidade de aceitação. Se você convive com pessoas que valorizam determinadas marcas, tende a querer consumir as mesmas marcas porque acredita que desta forma será melhor aceito e bem visto por aquele grupo. E realmente isto acontece. Existem pessoas que escolhem amigos e companhias, não pelo que elas são, mas sim pelos que elas podem comprar. Este mecanismo, estimula a comprar diversos tipos de produto.
Recentemente visitei Parque Nacional do Iguaçu em Foz do Iguaçu/Paraná, um lugar que atrai muitos turistas estrangeiros interessados nas belezas das Cataratas do Iguaçu. Vi poucos brasileiros nas Cataratas se comparado ao que encontrei na Ciudad del Este/Paraguai comprando produtos de marcas importadas para parecerem ser o que não são.
Na sala de embarque do aeroporto, fiquei observando as pessoas que faziam fila para embarcar em um voo de Foz para o Rio de Janeiro. Existiam muitos estrangeiros na fila e comecei a observar o que me fazia ter certeza que uma determinada pessoa na fila era brasileira e outra estrangeira.
Os estrangeiros se vestiam de forma mais simples e confortável. Utilizavam bermudas folgadas e cheias de bolsos, chinelos confortáveis, usavam mochilas no lugar de bolsas, camisas e camisetas sem o logo de marcas famosas, não ostentavam marcas luxuosas, não usavam bolsas de couro, sapatos e tênis caros e não tinham smartphones nas mãos. Já os brasileiros que estavam na fila eram facilmente identificados porque eram exatamente o oposto.
Se você supervaloriza marcas famosas, seria interessante começar a rever seus valores. Até que ponto você está se deixando influenciar pelos hábitos de consumo dos seus amigos e com isto sacrificando a sua qualidade de vida e a sua segurança financeira? Será que ostentar um luxo é realmente importante e vai fazer diferença na sua vida? Viver aprisionado ao desejo de sempre estar na moda não é angustiante? Passar a vida toda trabalhando exaustivamente para pendurar objetos caros no corpo ou amontoá-los dentro de casa não seria trabalhar inutilmente? Mudar estes valores pode significar sair de uma vida angustiante para uma vida mais leve e livre.
Se existe uma camisa de R$ 30,00 que cumpre sua função de vestir, não faz sentido acreditar que vale a pena pagar R$ 300,00 por uma camisa idêntica, que cumpre a mesma função, mas que carrega uma marca de luxo. Talvez as camisas (a barata e a cara) tenham sido produzidas na mesma fábrica em algum país distante como a Malásia, Vietnam, Indonésia, China ou mesmo no Peru.
Grandes marcas costumam ser apenas marcas. Elas compram seus produtos de fabricantes genéricos em diversos países do mundo, muitas vezes escolhem regiões onde não existem leis trabalhistas e nem leis de proteção ambiental com objetivo de maximizar os lucros.
Imagine quanto você teria economizado nos últimos anos se tivesse optado por substituir produtos de marcas caras por produtos comuns. Talvez você tivesse mais dinheiro poupado para realizar um sonho de consumo realmente importante, útil e mais durável.
Também poderia ter poupado mais para investir em outras atividades de lazer, atividades culturais, cursos, livros e viagens com foco cultural. O que realmente é capaz de agregar valor na sua vida?
Conheço pessoas que já visitaram diversos países, mas com o principal objetivo de fazer compras de produtos caros e exclusivos (que excluem os que não podem comprar). É uma pena conversar com estas pessoas e perceber que só sabem falar sobre os lugares onde fizeram compras. Visitaram lojas famosas e esqueceram de visitar os museus famosos.
Parecer ser rico é muito fácil, basta gastar tudo que você consegue poupar comprando bebidas, perfumes e roupas de luxo para mostrar para seus amigos que você tem dinheiro sobrando para gastar com coisas que não tem importância.
Já a riqueza patrimonial está relacionada com aquilo que você é capaz de poupar e não com aquilo que você gasta para mostrar. Existe ainda a riqueza intelectual e cultural. A maior de todas as riquezas é a intelectual e cultural porque é dela que se origina todas as outras riquezas, inclusive a financeira. Ela também atrai pessoas interessantes que enriquecem suas experiências na vida.
Quanto você é rico de experiências, informações, conhecimentos e sabedorias é capaz de ver aquilo que os outros não conseguem ver. Todos nós estamos diante de inúmeras oportunidades para desenvolvimento pessoal, financeiro e profissional. Pessoas de mentalidade pobre não conseguem ver estas oportunidades e não estão prontas para aproveita-las. Quando você é mentalmente rico, é capaz de valorizar as coisas que realmente tem valor, e estas coisas não custam muito dinheiro, na maioria das vezes, as coisas mais valiosas são gratuitas.
Jaime Tardy publicou um livro chamado “The Eventual Millionaire” após entrevistar 100 milionários. Ela descobriu diversas ideias erradas que temos das pessoas ricas financeiramente. Uma destas ideias erradas que temos é que os milionários são grandes gastadores. A primeira imagem que as pessoas têm das pessoas ricas é de que elas vivem em mansões luxuosas e dirigem carros esportivos. Porém, elas podem ser pessoas comuns, elas podem seus vizinhos ou até ser um colega do seu trabalho que aparenta viver uma vida simples. O investidor Warren Buffett (um dos homens mais ricos do mundo), por exemplo, mora em uma casa que ele comprou em 1958 por US$ 31.500,00. Na maioria dos casos, os milionários chegaram onde eles estão exatamente porque praticam hábitos de poupança e vivem de forma comedida. Eles aprendem a fazer escolhas de consumo inteligentes. Existe outro livro chamado No “Millionaire Teacher” (Professor Milionário) onde Andrew Hallam explica como ele conseguiu economizar mais de US$ 1 milhão trabalhando como professor.
Na verdade a independência financeira não depende de quanto você ganha, mas de como você anda gastando seu dinheiro e de como você investe o que poupa. Veja os livros que recomendo para quem pretende aprender a investir. Vela a lista aqui.
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