Vou mostrar por qual motivo algumas pessoas dizem que dinheiro traz felicidade enquanto outras dizem que dinheiro não traz felicidade. Na verdade, essas duas ideias estão presentes dentro de todos nós e ao mesmo tempo.
É como se existisse uma metade sua querendo gastar todo o seu dinheiro agora e uma outra metade querendo guardar esse dinheiro para o futuro. A primeira quer sentir todas as experiências agradáveis que esse dinheiro pode proporcionar ainda hoje. A segunda quer investir esse dinheiro para atingir objetivos maiores amanhã.
O Pedro Calabrez, pesquisador de Neurociências Clínicas da UNIFESP, chama essas duas metades em conflito de: Eu Experiencial e Eu Projetivo. Veja qual dos dois está dominando sua vida e qual pode gerar frustrações e alegrias hoje e no futuro.
Eu Experiencial: é a sua metade que quer ser feliz agora, neste instante, não importa o amanhã. Esse Eu experiencial adora a ideia de ser feliz hoje e deixar a conta para pagar quando chegar a fatura do cartão de crédito no mês seguinte. Ele não se importa em comprar uma viagem dos sonhos para pagar em 24 vezes com juros, mesmo que isso comprometa objetivos maiores no futuro. Você vai no restaurante planejando comer uma lasanha e acaba comprando aquela “lagosta ao thermidor”, um clássico culinário em um prato que só serve uma pessoa e que custa mais de R$ 200,00. O seu Eu experiencial também lembra você de tirar uma foto do prato para registrar o prazer momentâneo no Instagram e no Facebook. O Eu experiencial quer a experiência e o prazer imediato. Para ele, as consequências é um problema para ser resolvido no futuro. É claro que não existe problema em investir em experiências, o problema é quando isso vira rotina comprometendo seus planos futuros.
Vale lembrar que nem todas as boas experiências, que fazem você feliz hoje, exigem muito dinheiro, mas é inegável que ter dinheiro sobrando aumenta seu leque de opções de experiências.
Eu Projetivo: Aqui é o seu lado que olha para o futuro e para o passado. Esse é o seu lado que determina metas e objetivos na sua vida. É o que pensa grande. O que entra em conflito com o Eu experiencial para que ele abra mão de pequenas extravagâncias do agora para construir um futuro melhor. A felicidade do Eu projetivo está nas conquistas que você vai colecionando no decorrer da vida. Ele será feliz quando olhar para o passado de vitórias e superações gostando daquilo que está vendo. O Eu projetivo quer olhar o passado e enxergar valor em tudo que você fez e construiu.
É importante lembrar que nem todos os objetivos que você traça na vida necessitam de muito dinheiro, mas é inegável que ter dinheiro aumenta o leque de objetivos e acelera suas conquistas.
Frustrações nos dois lados:
Observe que esses lados diferentes entendem a felicidade de uma maneira diferente. O que torna seu Eu experiencial feliz não é necessariamente a mesma coisa que torna o seu Eu projetivo feliz. Isso gera muitos conflitos. Quando você termina de aproveitar os prazeres da sua lagosta ao thermidor e suas fotos no Facebook não recebem mais likes, seu Eu projetivo aparece olhando para o passado e o futuro. Ele começa a criticar o Eu experiencial que deveria ter comido a lasanha e não comprometido objetivos futuros que agora estão R$ 200,00 mais distantes.
O contrário também acontece. O Eu experiencial critica quando você deixa de ser feliz agora, deixa de aproveitar momentos felizes e únicos, vivendo fora do presente ao pensar somente no futuro. Nas duas situações de conflito você termina frustrado e infeliz. É aquele sentimento de felicidade incompleta que até os mais ricos sentem.
É por isso que muitas vezes as pessoas com muito dinheiro refletem e concluem que dinheiro não é tudo. Na verdade, quando você tem todo dinheiro necessário para ter boas experiências, existe um vazio no Eu projetivo que busca um proposito, um sentido, uma história de valor para a sua vida. Já quando você atinge todos os seus objetivos, talvez olhe para trás com arrependimento por não ter realizado pequenos sonhos quando ainda era jovem, saudável ou quando ainda tinha tempo sobrando.
Caminho do meio:
O caminho é encontrar o ponto de equilíbrio entre ser feliz hoje e garantir sua felicidade amanhã. Somente assim você será feliz pelo lado experiencial e projetivo. A satisfação plena é resultado desse equilíbrio. É importante olhar para dentro de você para encontrar o ponto de equilíbrio, que é único, cada pessoa tem o seu. Assista o vídeo complementar:
Minha crítica ao vídeo:
O Pedro Calabrez diz que “A sociedade é muito boa em garantir felicidade para o Eu projetivo”. Ele diz que desde o nosso nascimento a sociedade coloca objetivos predefinidos na nossa cabeça que seriam: “Você deve entra na escola para fazer uma faculdade, para conseguir um bom estágio e um bom emprego. Só então você poderá ganhar muito dinheiro, ter filhos e ficar rico.” Ele faz essa observação criticando o Eu projetivo sem perceber que o problema não está no Eu projetivo, mas está no fato da sociedade querer impor seus objetivos e realizações.
Aceitar o padrão de felicidade imposto pela sociedade para o seu Eu projetivo, com metas, objetivos e sentido da vida padronizados é tão ruim quanto impor para o Eu experiencial que somente “lagosta ao thermidor” é a fonte suprema de felicidade experiencial.
Quando a sociedade impõe quais são as experiências boas para que você se sinta feliz e quando ela determina quais metas e objetivos você deve seguir para ser feliz, ela está tirando de você a verdadeira chave da felicidade que é a LIBERDADE.
Inclusive, o verdadeiro objetivo da educação financeira não tem relação com ter mais dinheiro, mas sim com ter mais liberdade. Ter mais dinheiro é apenas um meio para ter mais liberdade de escolha dentro do mundo capitalista onde vivemos. A liberdade é o mais importante.
Se você se sente forçado a gostar de lagosta ao thermidor, pois é isso que os seus amigos classificam como ter uma experiência feliz, então você não é livre para fazer suas escolhas.
Eu pessoalmente não gosto de lagosta e já provei vários pratos com lagosta para chegar nesta conclusão. Não tenho nenhum constrangimento em dizer que, para o meu Eu experiencial, existem muitos frutos do mar baratos e abundantes que me deixam mais satisfeitos. O gosto dos outros não deve influenciar os meus gostos e as minhas experiências. Isso é a liberdade.
O mesmo vale para o Eu Projetivo. Quando terminei o ensino médio, muitos dos meus amigos começaram os preparativos para fazer um vestibular para conseguir um bom emprego com carteira assinada ou um bom emprego através de um concurso público. Eu nadei contra a maré, abri minha própria empresa (dentro do meu quarto) e somente 5 anos depois entrei na faculdade. A diferença é que já estava bem-sucedido financeiramente e profissionalmente. Foram 5 anos de muitas críticas que entravam em um ouvido e saiam pelo outro, pois o meu Eu projetivo era livre para fazer o que acreditava ser certo, mesmo que isso fosse contra o “padrão da sociedade”.
Gratidão:
Para satisfazer o seu Eu experimental é importante ter gratidão por tudo que você conquistou até aqui. Sem isso, você dificilmente se alegrará com o seu atual emprego, sua casa, suas conquistas, seus amigos e familiares. Também é importante ser capaz de enxergar beleza e satisfação nas pequenas coisas. Tem muita gente que acredita que a felicidade está em ter dinheiro e não em usar o dinheiro com meio para ser mais livre e ter mais opções de escolha. Normalmente são pessoas que amontoam muitos objetos e bens sem um verdadeiro proposito a não ser ter e mostrar que tem. Essas pessoas terão o vazio gerado por uma vida sem um propósito de valor.
Reflita sobre quais são as experiências que deixam o seu Eu experiencial feliz e quais são as metas, objetivos e conquistas que deixam ou deixarão seu Eu projetivo feliz.