Quem não gostaria de faturar R$ 300 por dia investindo na bolsa de valores? Seria o mesmo que ganhar uma renda extra de R$ 6.600,00 por mês operando apenas 22 dias por mês. Imagine poder gastar esse dinheiro todos os meses da forma que você quiser.  Isso seria a renda dos sonhos de muitos brasileiros, pois é muito próxima do rendimento médio dos 10% mais ricos do nosso país (fonte).

Agora imagine ganhar essa renda sem precisar sair de casa, sem enfrentar o trânsito até o seu trabalho, sem estresse com padrões, chefes e clientes. Você nem precisaria ficar em casa para trabalhar. Você poderia viajar enquanto faz seus investimentos diários na bolsa através de qualquer notebook conectado na internet. Que sonho maravilhoso!

Mas agora chegou o momento de acordar, pois não existem sonhos de graça. Todos querem o sonho realizado, desde que seja fácil, rápido e grátis (sem esforço), poucos querem pagar por ele, ou seja, poucos querem o esforço da conquista.

Vamos entender

Dois professores da FGV (Fundação Getúlio Vargas) resolveram provar que é praticamente impossível ganhar dinheiro na bolsa fazendo operações diárias com o objetivo de viver disso (como uma profissão).

Eles conseguiram acessar um banco de dados da Comissão de Valores Mobiliários com a atividade completa de todas as pessoas físicas que começaram a investir na bolsa negociando ativos chamados de “Minicontrato Futuro de Ibovespa“, também conhecido por “mini índice” e  “Futuro Míni de Taxa de Câmbio de Reais por Dólar Comercial“, também conhecido como “mini dólar”. Obs: seria ótimo se a CVM liberasse todos os dados que ela possui para todas as pessoas e não só para grupos específicos de entidades e pessoas. A Bolsa poderia fazer o mesmo.

Esses dois ativos são muito utilizados por pessoas físicas que fazem investimentos de curtíssimo prazo, ou seja, compram e vendem esses ativos no mesmo dia ou até várias vezes no mesmo dia. A atividade de compra e venda de ações e outros ativos negociados na bolsa, no mesmo dia, é chamada de day-trading. Quem tenta ganhar a vida dessa forma é chamado de day trader.

O objetivo dos professores pesquisadores da FGV era descobrir se realmente compensa largar o seu emprego, vender o seu negócio e largar tudo que você está fazendo para poder viver de day-trading.

Resultado da pesquisa

Das 19.696 pessoas que começaram a fazer day-trade por mini índice entre 2013 e 2015; dessas,  1.558 pessoas (7,9%) persistiram por mais de 300 dias de negociações, tentando de fato viver de day-trading, 91% tiveram prejuízo, 9% tiveram lucro (143 pessoas). Apenas 13 pessoas obtiveram lucro médio diário acima de R$ 300,00 que as colocariam com renda próxima da renda dos brasileiros mais ricos do país.

No caso dos investimentos em mini dólar foram analisados os investimentos de 14.748 pessoas que começaram a fazer day-trade entre 2013 e 2015. Dessas pessoas, 1.131 passaram pelo primeiro ano e continuaram a fazer day-trade. Dessas, 83% teve prejuízo e 17% (192 pessoas) teve ganhos. Somente 16 pessoas conseguiram ganhar mais de R$ 300 por dia. Baixe o estudo completo aqui, ou então aqui.

Vejo dois grandes problemas na pesquisa:

O primeiro problema é não saber o motivo da desistência das pessoas. Elas podem ter desistido logo no começo por perceberem que day trading não é uma forma fácil de ganhar dinheiro. É uma atividade trabalhosa como qualquer atividade profissional diária.

Mais de uma década atrás eu mesmo desisti da ideia de operar diariamente. Logo percebi que era uma atividade profissional como outra qualquer. Vi que seria necessário comprometer uma boa quantidade de tempo operando, estudando e praticando. Eu já tinha uma atividade profissional e gostava do que fazia. Eu tinha uma empresa e conclui que meus ganhos seriam maiores se dedicasse esse tempo e esse esforço no meu próprio negócio de renda variável (minha empresa era o meu maior investimento de renda variável). Passei a investir na bolsa com objetivos mais longos e isso exigia uma quantidade pequena de tempo por mês para estudar meus investimentos.

A pesquisa mostrou (através de um gráfico) que muitos participantes eram empresários, engenheiros, advogados, médicos, etc. Na última vez que paguei pelos serviços de uma médica, vi ela ganhando meus R$ 300 em apenas 30 minutos de consulta. Só faria sentido ela se tornar day trader se resolvesse investir nessa nova profissão, da mesma forma que investiu para se tornar uma médica que ganha muito bem por dia trabalhado.

A pesquisa também mostrou que foram os aposentados que investiram por mais dias, ou seja, provavelmente eles são os que tiveram o melhor desempenho. Eu já falei sobre a melhor idade para investir. Com a idade conquistamos muitas habilidades e atributos difíceis de encontrar na juventude e isso deixa o aposentado em vantagem. A pesquisa mostrou que os estudantes são os que menos persistem e logo depois temos os médicos. Veja o gráfico que retirei da pesquisa:

Com alguma liberdade de interpretação, vou cometer um grande pecado. Vou generalizar interpretando o gráfico acima. No topo da lista dos que desistiram primeiro temos os estudantes. Estudantes são jovens sem muita paciência, querem tudo muito rápido, vivem como se a vida fosse curta, acham que sabem muito quando sabem pouco, falta humildade e controle emocional (fazem muita bobagem por impulso) e falta dinheiro para perder enquanto aprendem. Eu já fui jovem e sei como é difícil, mas o bom é que essa fase passa logo. Já escrevi sobre investimentos milagrosos para os jovens aqui.

Depois dos estudantes temos os médicos. Os bons médicos descobrem rapidamente que a sua hora trabalhada vale muito dinheiro e logo desistem do day-trading. Eles só precisam construir uma boa reputação e depois deixar de aceitar os planos de saúde para ganhar mais por hora trabalhada.

Bons economistas também ganham bem, mas ficam com muita vergonha quando perdem dinheiro na bolsa, principalmente se possuírem mestrado, doutorado e PhD. A faculdade de economia não ensina a ganhar dinheiro, mas os amigos e familiares dos economistas não sabem disso e existe a cobrança. Na verdade, o ensino superior não ensina ninguém a ganhar dinheiro. Eu conheço alguns economistas pessoalmente que não são bons exemplos quando o assunto é ganhar dinheiro, poupar e investir. Também existem médicos que fumam, que sofrem de sedentarismo e não são bons exemplos quando o assunto é saúde.

Diretores de empresa, microempresários e advogados também percebem rapidamente que o conhecimento que possuem permite ganhar mais dinheiro, com menos risco, do que poderiam ganhar investindo de forma especulativa na bolsa.

Aqui termina minha livre interpretação dos dados da pesquisa, que inclui o pecado da generalização. Toda generalização é perigosa, inclusive essa.

Outro grande problema dessa pesquisa é que não sabemos quantas dessas pessoas realmente investiram tempo aprendendo (livros, cursos, treinamentos, etc.) e quantas tiveram a paciência e a disciplina para treinar diariamente com valores muito pequenos para ganhar experiência e controle emocional.

Eu conheço o investidor pessoa física brasileiro. Já li e respondi dezenas de milhares de emails e comentários de leitores do Clube dos Poupadores desde a criação do site em 2013. Eu conheço o imediatismo das pessoas, a falta de paciência, persistência e a enorme preguiça que as leva a procurar atalhos.

Existe muito conteúdo na internet transmitindo a ideia de que é possível ganhar dinheiro na bolsa sem precisar estudar e praticar. Esse conteúdo diz que bastaria seguir as recomendações de investimentos dos funcionários das corretoras, dos jornalistas que entrevistam especialistas (que trabalham em fundos, bancos e corretoras), dos youtubers patrocinados por corretoras e bancos, dos vendedores sensacionalistas de relatórios de investimentos e até de recomendações de pessoas estranhas que se escondem por trás de fotos e nomes falsos em redes sociais e fóruns que falam sobre investimentos. Quantas dessas pessoas que desistiram ou tiveram o prejuízo apontado no estudo da FGV tentaram ganhar dinheiro na bolsa através de atalhos? Eu imagino que foram muitas.

Eu acredito que esses 9% que tiveram resultados positivos na pesquisa foram os poucos que investiram com seriedade no estudo e na prática diária da técnica. Através das estatísticas de visitantes do Clube dos Poupadores eu posso observar que somente 10% dos visitantes dedicam o tempo necessário para ler os artigos que acessam, do início até o fim. Pelo número de leitores gratuitos que tenho e o número de leitores que compram os meus livros no site, eu percebo que temos entre 1% e 2% de pessoas realmente comprometidas. É essa minoria que se esforça mais do que a maioria que consegue bons resultados em todas as áreas da vida. Eu acredito que o baixo comprometimento acontece em todas as áreas onde o sucesso exige estudo, persistência, paciência e força de vontade.

Custa caro chegar no topo

Quando aconteceu aquela tragédia no Flamengo que vitimou diversos jovens que sonhavam “viver de futebol”, li algumas reportagens sobre o grande número de crianças brasileiras que estão investindo em escolinhas de futebol com o objetivo de viver profissionalmente do esporte. Em um desses grandes clubes de futebol, mais de 800 crianças por ano passavam por suas escolinhas espalhadas pelo país.

Dessas 800 crianças, somente 4 por ano (0,5%) conseguiam atingir um certo nível de preparo e desempenho para passar por determinados testes de seleção. As poucas crianças aprovadas nos testes chegavam nas divisões de base. Dessas, somente 10% conseguem se tornar jogadores profissionais de futebol.

Quando estão no futebol profissional ainda precisam enfrentar uma dura realidade. Mais de 80% dos jogadores do futebol brasileiro ganham até R$ 1 mil por mês e 96,08% não passam de R$ 5 mil (fonte).

Isso certamente acontece em muitas práticas esportivas profissionais e até mesmo em muitas profissões. São poucos que conseguem chegar no topo, pois o preço para chegar no topo sempre é alto.

Eu consigo ver muitas semelhanças entre a prática esportiva e os investimentos feitos com profissionalismo. Nas duas você precisa de dedicação diária para estudar e treinar. E nessa fase de treinamento você não vai ganhar dinheiro, você provavelmente só vai perder dinheiro, como ocorre com todos os meninos e meninas que gastam anos e muito dinheiro treinando em escolinhas sem ganhar nada.

Nas atividades esportivas, de investimento e de empreendedorismo você precisa ter muito controle emocional e precisa buscar o autoconhecimento para dominar a técnica em todas as situações. Nessas atividades, você precisa aprender a ganhar e aprender a perder mantendo seu equilíbrio emocional nas duas situações.

Eu acredito que o controle emocional quando ganhamos é mais importante do que quando perdemos. Quanto mais você ganha no decorrer do tempo, mais confiante fica. Quanto mais confiante, maior será sua exposição ao risco. Isso acontece no esporte, nos investimentos e no empreendedorismo.

Já vi muitas histórias de investidores e empreendedores que quebraram quando estavam se sentindo muito confiantes ao ponto de abandonarem o controle de risco. O estudo e os cuidados devem crescer enquanto crescemos nessas áreas. Nunca devemos considerar que já sabemos tudo.

Quando a confiança está exagerada, você passa a fazer operações mais arriscadas do que faria no início quando se considerava iniciante. Isso justifica o fato de as perdas serem cada vez maiores com o passar do tempo (como mostrou a pesquisa). É o autoconhecimento e autocontrole que vai separar uma dúzia de investidores que conseguem viver da day-trading (com ganhos acima de R$ 300 por dia) de todos os outros milhares vão desistir no meio do caminho amargando algum prejuízo. No mundo dos investimentos e do empreendedorismo, são poucos que que vão atingir o nível profissional de atletas como Neymar, Messi ou Cristiano Ronaldo (que são os jogadores de futebol mais bem pagos do mundo).

No futebol e no empreendedorismo, os grandes ficam famosos. No mundo dos investimentos, os que conseguem os melhores resultados são investidores que vivem no anonimato. Enquanto a maioria perde tempo contando vantagem na internet (nas redes sociais e fóruns), os investidores que conseguem bons resultados estão concentrados nos seus estudos e na prática diária.

Recebo muitas mensagens de leitores perguntando se compensa largar tudo que estão fazendo para viver de day-trading. Compensa tanto quanto largar tudo que você está fazendo para se tornar um grande jogador de futebol, uma grande modelo, um grande ator, uma grande cantora, um grande empresário, uma grande profissional em alguma área que você sonha trabalhar.

Viver de investimentos, de forma profissional, exige a mesma dedicação que você teria para se tornar um grande profissional em qualquer atividade.

A pesquisa da FGV foi realizada utilizando dados de um momento desfavorável (entre 2012 e 2015). A economia sofria os efeitos negativos das políticas econômicas do último governo que sofreu impeachment. A situação era tão drástica que logo o país mergulharia na mais longa crise econômica do século. Era o pior cenário para quem estava começando.

Depois do impeachment vivenciamos uma grande tendência de alta da bolsa movida pelo início de uma recuperação econômica. Nessa situação, até os mais leigos e iniciantes conseguem ganhar dinheiro sem esforço e conhecimento. Aqui temos uma situação muito perigosa relacionada com o excesso de confiança.

Heróis vão surgir por todos os lados

Veja uma mensagem que recebi de um leitor do Clube dos Poupadores recentemente. Ela é bem parecida com todas as outras que recebo perguntando sobre viver como day trader.

“Boa noite e parabéns pelo belo trabalho, acompanho você e seus artigos a aproximadamente 4 anos, comecei investir em renda fixa graças ao aprendizado lendo seus artigos, tenho um amigo que está ganhando bastante dinheiro investindo em day trader, gostaria de ler um artigo seu sobre o assunto. Grato pela ajuda”.

Você terá cada vez mais amigos falando que estão ganhando um bom dinheiro na bolsa, principalmente se a economia continuar se recuperando e a bolsa mantiver a tendência primária de alta. Isso não significa que essas pessoas estão preparadas para ganhar dinheiro na bolsa com consistência por muito tempo.

Além dos seus amigos e parentes, muitos gestores de fundos de ações e multimercado vão aparecer na imprensa como verdadeiras celebridades. Muitos tiveram resultados medíocres no período difícil da última crise. Com a recuperação da economia, juros baixos e altas na bolsa, muitos estão surgindo na mídia como heróis por terem superado o índice Bovespa e o CDI (que atualmente está ridiculamente baixo).

Nem seus amigos e nem os gestores dos fundos estão fazendo milagres. Eles apenas estão aproveitando um momento favorável. Esse momento favorável na economia e na bolsa torna o aprendizado menos arriscado e mais agradável. É como aprender a velejar. Quando os ventos e as condições climáticas são favoráveis, fica mais agradável e estimulante aprender, mas só mesmo na tormenta que você saberá se aprendeu tudo que deveria.

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