Se você tem a impressão de que a sua carteira de investimentos “anda em círculos“, ou seja, sempre é uma questão de tempo para você perder boa parte dos ganhos e retornar para a “estaca zero”,  provavelmente você tem uma carteira de investimentos que se comporta como um “coelho”.

Se isso de alguma forma te incomoda, provavelmente a sua carteira é incompatível com o seu perfil ou com a sua estratégia. Você precisa entender como isso funciona para fazer alguns ajustes.

Todos os dias recebo muitas mensagens de leitores dos meus livros. O pequeno trecho da mensagem abaixo me motivou a escrever este artigo por se tratar de um conceito importante e pouco comentado.

“Olá Leandro. Após ler seu livro sobre como montar uma carteira diversificada eu comecei a ver o quanto fui mal informado por assessores de investimento e influencers. Minha carteira tem características de coelho…. estou tentando corrigir esses erros…”.

Para que você entenda o que significa uma carteira com características de coelho vou deixar aqui um pequeno trecho de um dos primeiros capítulos do meu livro sobre carteira de investimentos:

Neste momento do nosso estudo devemos perceber que não adianta concentrar os nossos investimentos em ativos que geram grandes ganhos ao mesmo tempo que geram grandes riscos de perdas (volatilidade). 

O ideal será montar uma carteira composta por investimentos que trabalham em equipe para produzir ganhos minimizando perdas através da redução da volatilidade da carteira. A volatilidade deve ser compatível com o risco que aceitamos correr. Cada pessoa tem um nível de tolerância ao risco que precisa ser respeitado. Teremos um capítulo inteiro sobre isso.

É muito importante que os ganhos da sua carteira principal de investimentos sejam os mais contínuos e estáveis possíveis, mesmo que sejam ganhos menores (no curto prazo).

Em outras palavras, é melhor que a sua carteira de investimentos se comporte como uma tartaruga que avança devagar e sempre (sem parar e sem recuar) do que como um coelho que se movimenta rapidamente, mas as vezes fica parado e até recua antes de continuar sem constância e sem direção.


No livro sobre carteiras eu apresento um exemplo educativo sobre a importância do estudo da volatilidade na sua carteira de investimentos. Vou falar sobre esse exemplo agora.

Nós, que somos pequenos investidores, nos concentramos muito nos retornos dos investimentos. Não avaliamos a relação entre o retorno oferecido e o risco corrido em cada investimento para obter esse retorno. A grande verdade é que nem todo retorno compensa o risco.

Coelhos, assim como alguns investimentos de renda variável, são voláteis, velozes, sem constância e sem direção. Com a mesma violência que se movem em um sentido se movem no sentido contrário anulando todo o movimento. Já as tartarugas são lentas, mas constantes (sem parar e sem recuar).

Uma carteira de investimentos mais conservadora, que se movimenta como uma tartaruga, também deve contar com investimentos voláteis de renda variável. Só que esses investimentos devem ser bem selecionados e aplicados em doses específicas.

Considerando que a sua carteira de longo prazo combina renda fixa (pós-fixada, prefixada e indexada ao IPCA) e renda variável (ações nacionais e estrangeiras, ETFs, BDRs, moedas, fundos imobiliários) você precisa dosar quanto de renda variável você deve introduzir na carteira para que ela faça o seu patrimônio crescer continuamente no longo prazo (mesmo que lentamente) até que exista volume suficiente para um movimento exponencial.

No longo prazo, quem opera como uma velha e sábia tartaruga, monta uma carteira de investimentos com o objetivo de reduzir a volatilidade (menores variações bruscas no rendimento da carteira). O mais importante é fazer o patrimônio da carteira crescer devagar e sempre por muito tempo, atravessando crises e dificuldades.

Primeiro você deve desenvolver a capacidade de não se importar com o coelho. Com isso você dará menos atenção para alguns influenciadores. O coelho vai correr na sua frente, vai rir de você e vai zombar da sua carteira de investimentos. Isso dura até a próxima crise, pois nesse momento o coelho ficará atordoado, cambaleando em todas as direções enquanto você caminha com o mínimo de danos.

No livro eu ofereço um simulador de volatilidade para ilustrar a situação de forma didática. Aqui eu desenvolvi um simulador simplificado de volatilidade (veja aqui), para você que ainda não leu o livro sobre carteiras possa entender o problema que envolve a volatilidade. Vou explicar como a simulação funciona logo abaixo para que você possa experimentar e tirar as suas próprias conclusões.

Sempre que você apertar no botão “Atualizar” nessa página aqui, terá um novo gráfico com o retorno de duas carteiras de investimentos hipotéticas que vamos chamar de “carteira do coelho” e a “carteira da tartaruga”. Nos campos amarelos existem algumas configurações. Vamos considerar que a carteira do coelho é composta por investimentos de renda variável que juntos possuem uma volatilidade história que vai de -4% ao mês até +4% ao mês (assim como está digitado por padrão nos primeiros 2 campos amarelos).

Já a carteira da tartaruga é composta por uma combinação equilibrada de renda variável e renda fixa. O objetivo dessa combinação foi reduzir a volatilidade e fazer com que perdas na renda variável fossem compensadas por ganhos na renda fixa e por investimentos de renda variável de correlação inversa ou descorrelacionados (geralmente investimentos dolarizados). Com isso temos uma carteira que historicamente rende de 0% até 2%.

Sempre que você clicar em “atualizar” uma tabela com o retorno de 36 meses será gerada aleatoriamente (por sorteio), mas respeitando os limites de volatilidade de -4% até 4% na carteira do coelho e de 0% a 2% na carteira da tartaruga. Esses retornos estão em uma tabela separada que está oculta, mas que é acessível na planilha Excel que temos no livro. A ideia aqui é simular duas carteiras que possuem ativos de renda variável e que por este motivo sofrem as variações caóticas de curto prazo, mas em faixas diferentes de volatilidade.

Clicando em “atualizar” inúmeras vezes você verá que a volatilidade da carteira do coelho produzirá fortes movimentações de alta de um mês que provavelmente serão anuladas totalmente ou parcialmente nos meses seguintes.  Será necessário clicar em atualizar muitas vezes para que ocorra alguma resultados onde o coelho vence a tartaruga (situações raras). Na maioria das vezes o movimento será lateralizado ou com leve tendência que pode ser de alta ou de baixa.

Agora experimente reduzir o retorno mensal máximo da carteira da tartaruga de 2% para 1% e mesmo assim serão poucas as vezes que o coelho vencerá a tartaruga mesmo com retornos de até 4% contra até 1%. Agora experimente reduzir o máximo que a carteira da tartaruga pode atingir de 1% para 0,50% e ainda existirá uma dificuldade para o coelho vencer a tartaruga consistentemente.

É muito comum encontrar na imprensa e entre influenciadores o destaque para grandes movimentos de alta em determinados ativos, mas nunca falam sobre a volatilidade dos ativos e as pessoas não procuram se informar sobre ela. É claro que existem ativos que seguem tendências de alta consistentes, com baixa volatilidade, mas geralmente apresentam pequenas altas mensais e por isso não chamam atenção dos que buscam grandes audiências para seus conteúdos em sites e canais que falam sobre investimentos.

Na figura abaixo temos uma foto que tirei de um dos resultados que tive ao configurar o retorno do coelho de -4% até 4% e da tartaruga de 0% até 0,50%.

Geralmente são nesses grandes movimentos de alta, que logo retornarão para as médias, que muitas notícias motivam o investidor com menos conhecimento a comprar ativos que historicamente são muito voláteis. Sempre é importante avaliar a volatilidade dos ativos que estamos adicionando na nossa carteira.

Faça você mesmo as suas próprias alterações no simulador e clique em atualizar. Você logo vai perceber a importância de se construir uma carteira de investimentos que tenha o mínimo possível de retornos negativos. No livro eu também falei sobre o nível de perda que podemos aceitar para manter a carteira saudável. Mostrei diversas ferramentas para que você possa montar “carteiras virtuais” e fazer suas próprias simulações, como se estivesse em um laboratório.

O lema de uma boa carteira de longo prazo deve ser: “devagar e sempre”. Para isso é necessário conhecer a volatilidade de cada investimento que você pretende fazer e se existe correlação entre eles. Depois é fundamental aprender a fazer as simulações através de diversas ferramentas prontas ou planilhas. A carteira perfeita para investimentos de longo prazo combina renda fixa e renda variável com o objetivo de reduzir perdas e reduzir a volatilidade, mesmo que isso limite os ganhos. Os ganhos devem ser lentos, mas consistentes. A volatilidade deve ser compatível com o seu perfil.

Veja que se a carteira do coelho sofresse uma variação histórica de -2% até 4% o resultado seria bem melhor,  mas ainda ele teria dificuldade para superar o retorno da tartaruga tendo como limites 0% até 2% de variação.

Existem diversos outros parâmetros nos quadros acima do gráfico do simulador que posso explorar em artigos futuros, pois são temas que exigem uma certa base e nem todos os leitores dos artigos estão no mesmo nível de conhecimento. Quanto mais aprofundo o tema, menos atrativo ele se torna para o leitor esporádico de artigos.  No livro sobre carteiras eu tenho mais espaço que nos artigos para transmitir esse conhecimento de forma detalhada  sobre volatilidade e a relação de risco/retorno, seguindo uma ordem de ensino que vai do básico ao avançado.

O patrimônio que mantemos na nossa principal carteira de investimentos, que é a nossa carteira de longo prazo, deve ser capaz de se manter vivo por muitas décadas. Geralmente é o dinheiro que guardamos para atingir uma maior independência financeira, quando nos livramos do trabalho remunerado como obrigação e passamos a ter o trabalho como uma opção. Muitas vezes a paciência é confundida com preguiça.

Isso não significa que você não possa ter a sua carteira de coelho, com um valor menor exposto a níveis maiores de risco. Certamente você terá algumas histórias emocionantes para contar, mas você deve entender que de tempos em tempos essa carteira sofrerá diante de grandes crises.

O coelho aproveita o momento (curto prazo) enquanto a tartaruga aproveita a longevidade (longo prazo). São carteiras diferentes para objetivos diferentes e está tudo certo. O erro seria misturar as coisas e seguir recomendações de investimentos de pessoas que não conhecem você, sua realidade e os seus objetivos.

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