Nesse artigo, quero mostrar um tipo de erro que alguns sites de notícias e influenciadores tentam propagar sobre o funcionamento dos juros no Brasil. A ideia é responder esse comentário que um leitor deixou no artigo anterior sobre o Banco Central e os juros.

Bom dia ! Recentemente li um artigo no qual simplesmente se alegava que juros altos impedem o Brasil de crescer, e que o presidente do banco central era o culpado por não “querer” baixar os juros!

Existe uma enorme diferença entre a taxa básica de juros (Taxa Selic), definida pelo Banco Central a cada 45 dias, e os juros futuros que você encontra nos títulos prefixados, títulos indexados ao IPCA e em todo tipo de empréstimos bancários oferecidos para as pessoas e empresas.

A taxa de juros básica, a Selic, determinada pelo Banco Central, influencia diretamente o custo do dinheiro no curto prazo. A sua influência nos juros de longo prazo (prefixados e indexados ao IPCA) ocorre de forma indireta e muitas vezes de forma inversa por refletir as expectativas sobre o futuro da economia. Exemplo: é possível observar na história casos de queda nos juros futuros quando o Banco Central resolveu aumentar a Selic. Também existem casos na história de uma alta nos juros futuros quando o Banco Central resolveu reduzir a Taxa Selic.

Basta imaginar que juros baixos diante de uma inflação persistente ou um governo que só pensa em gastar mais do que arrecada resultará em inflação elevada no futuro e juros elevados no futuro.

A ideia de que somente a Selic define os juros futuros é uma simplificação que ignora a complexidade do mercado financeiro.

Juros Futuros e Expectativas do Mercado.

Os juros futuros são, na verdade, uma projeção das expectativas do mercado sobre a trajetória futura da economia, incluindo inflação, crescimento econômico e políticas monetárias.

Quem é o mercado? O mercado é composto por todas as pessoas e empresas que estão tomando decisões sobre o que fazer com o próprio dinheiro. O grande investidor que toma decisões envolvendo bilhões de reais e o pequeno investidor que aplica R$ 10 na poupança, fazem parte do mercado.

O juro futuro é aquele que você observa nos investimentos prefixados e indexados ao IPCA (IPCA + juros). O juro futuro também está em todos os empréstimos que os bancos oferecem. É esta taxa que os consumidores, investidores e empresários observam quando estão diante de uma decisão sobre o que fazer com o dinheiro no futuro. Essa taxa futura não é definida diretamente pelo Banco Central.

Estes juros são definidos pelo mercado através da negociação de títulos públicos, como as Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B), que são indexadas ao IPCA, e pelas Letras do Tesouro Nacional (LTN), que são prefixadas. Esses são os verdadeiros nomes dos títulos Tesouro IPCA+ e Tesouro Prefixado que você encontra no Tesouro Direto. Grandes investidores, bancos, fundos, seguradoras e estrangeiros negociam esses títulos o tempo inteiro. Todas as semanas, o governo (Tesouro Nacional) realiza a venda desses títulos em leilões, dos quais só essas grandes instituições podem participar. Quem aceita receber a menor taxa de juros ganha os leilões. Logo depois, esses títulos passam a ser negociados livremente entre essas instituições e essa oferta e demanda de títulos que vai definir seu preço e, por consequência, sua taxa.

Na bolsa de valores brasileira existem contratos de DI futuro que são acordos de compra ou venda da taxa de juros efetiva até a data de vencimento do contrato. Basicamente, você está “apostando” se a taxa de juros vai subir ou cair no futuro. É uma forma de proteção contra as flutuações das taxas de juros.  Os principais investidores de contratos de DI Futuro são geralmente instituições financeiras (bancos), investidores profissionais (gestores de fundos e seguradoras) para proteger suas carteiras contra movimentos inesperados nas taxas de juros e estrangeiros. Os gráficos desses contratos são ótimo para acompanhar os juros prefixados em tempo real. Aqui no Clube dos Poupadores temos links para gráficos de DI futuro, veja aqui.

O otimismo com relação ao futuro do Brasil faz o investidor aceitar taxas cada vez menores por esses títulos. Um pessimismo crescente com relação ao futuro da economia, das contas públicas, da inflação, câmbio e outros, faz o investidor repudiar títulos com taxas baixas. No péssimo, o investidor só aceita correr o risco se as taxas forem maiores, ou seja, se os títulos estiverem custando menos.

Papel do Banco Central.

Embora o Banco Central não defina diretamente os juros futuros, suas ações e comunicações têm um impacto significativo sobre eles e isso está relacionado com otimismo e o pessimismo do mercado com relação ao futuro.

Ao ajustar a Selic, o Banco Central influencia as expectativas de inflação. Se o mercado acredita que o Banco Central será bem-sucedido em controlar a inflação, isso pode levar a uma redução nos juros futuros. Por outro lado, se houver dúvidas sobre a eficácia ou a determinação do Banco Central, os juros futuros podem subir.

Não é só a Selic que interfere nas expectativas do mercado. Exemplos: A percepção de que o Banco Central não será independente para tomar decisões técnicas com relação aos juros é um fator que modifica as expectativas do mercado. A escolha de um presidente do Banco Central que demonstra ser alguém que irá apenas acatar as ordens dos políticos que o escolheram para o cargo é um fator que interfere nas expectativas do mercado com relação ao futuro.

Determinação dos juros Futuros.

A determinação dos juros futuros envolve a interação de vários fatores. Vou listar alguns:

  • Expectativas de Inflação: Se as pessoas que compõem o mercado (eu, você e todo mundo) esperam que a inflação aumente, os juros futuros tendem a subir.
  • Risco País: A percepção de risco do país influencia os juros futuros. Instabilidade política, fiscal ou econômica pode aumentar o risco percebido e, consequentemente, os juros futuros. Perceba que existem infinitas situações e eventos que podem gerar instabilidade a qualquer momento.
  • Oferta e Demanda por Títulos: A oferta e demanda por títulos prefixados e indexados ao IPCA no mercado secundário determinam os preços desses títulos e, portanto, os juros futuros.

Concluindo…

Tenha muito cuidado com os atuais jornalistas, influenciadores e pessoas que se dizem especialistas. Desde o dia que comecei a escrever sobre educação financeira (mais de 10 anos), eu nunca vi tanta bobagem, mentiras e desonestidade intelectual nos grandes sites de notícias. Eu não sei se fazem isso por ignorância ou por desonestidade. O pior é que são os mesmos grupos que pregam o controle das redes sociais e que acusam os outros de propagar notícias falsas. Na prática, eles acusam os outros daquilo que eles fazem diariamente.

Portanto, é simplista e desonesto culpar exclusivamente o Banco Central pela manutenção de juros altos, pois como vimos, os juros futuros são os que realmente interferem na vida dos consumidores, investidores e empreendedores.

A taxa Selic é apenas uma das ferramentas para influenciar as expectativas das pessoas sobre o futuro. Os juros futuros são definidos por uma complexa rede de expectativas de mercado e condições econômicas.

A eficácia da política monetária em influenciar essas expectativas depende de inúmeros fatores, muitos dos quais estão além do controle direto do Banco Central.

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