Vou mostrar nesse artigo como você pode fazer simulações de rentabilidade entre CDB pós-fixado e o Tesouro Selic através do simulador que temos aqui no Clube dos Poupadores. Veja o simulador no endereço: “Simulador Tesouro Selic x CDB pós-fixado“.
Vale destacar que tudo que desenvolvo e compartilho aqui no Clube são ferramentas e estudos que faço para o meu uso, como pequeno investidor. Espero que isso motive você a fazer os seus próprios estudos.
Primeiro é importante entender que só compensa investir em um CDB pós-fixado se a rentabilidade do mesmo for superior a que podemos encontrar no Tesouro Selic.
Essa diferença superior nos ganhos deve ser entendida como um “prêmio de risco”.
Mas que risco seria esse que exige um prêmio quando investimos no CDB e não no Tesouro Selic? Vamos entender agora.
Um CDB é um título privado, emitido por um banco. O Tesouro Selic é um título público, emitido pelo Tesouro Nacional, que é o caixa do governo do nosso país.
Ao investir em um CDB, você emprestará o seu dinheiro para um banco em troca de juros. Ao investir em um título Tesouro Selic, você emprestará o seu dinheiro para o governo brasileiro.
O grande risco envolvido nessas operações de “empréstimo” é o de inadimplência.
Devemos entender que é mais fácil um banco quebrar, criando dificuldades para pagar o que deve, do que o governo de um país quebrar.
Enquanto os bancos possuem apenas recursos próprios para garantir o pagamento de suas dívidas, o governo tem como garantia de pagamento de suas dívidas o “bolso de cada brasileiro”, ou seja, nossos recursos, que recolhe através de cobrança de impostos (de pagamento obrigatório).
O governo também tem controle sobre a moeda do país, podendo produzir dinheiro (ou o equivalente a isso) para pagar tudo que deve em moeda local.
Dessa forma, um título público como o Tesouro Selic é entendido pelo mercado financeiro como sendo o investimento de renda fixa, pós-fixado, de menor risco de crédito entre todos os outros oferecidos no país.
Qualquer outro investimento deve oferecer rentabilidade superior ao que podemos obter no Tesouro Selic e essa rentabilidade adicional deve ser entendida pelo investidor como um “prêmio de risco”. Até os investimentos de renda variável, teoricamente devem oferecer ao investidor uma expectativa de ganho superior ao que ele teria investindo em títulos públicos sem riscos de mercado.
Dessa forma, ao investir em um CDB pós-fixado é necessário que você exija ganhos acima do Tesouro Selic, que compense o maior risco que você estará exposto ao emprestar dinheiro para um banco.
Se esse CDB pós-fixado tiver uma data de vencimento, ou seja, não existir liquidez diária que permita recuperar seu dinheiro a qualquer tempo, o prêmio pelo risco deve ser ainda maior.
Se esse CDB for emitido por um banco de médio ou pequeno porte que possui situação financeira frágil, em comparação com instituições de maior porte, o prêmio exigido pelo investidor deve ser ainda maior.
Infelizmente, é comum encontrar bancos (principalmente os grandes) oferecendo CDB pós-fixado com juros menores do que o Tesouro Selic. Também é raro encontrar CDB pós-fixado de bancos grandes com boa rentabilidade (com no mínimo 100% do CDI) com liquidez diária.
Isso acontece por um motivo simples. As pessoas aceitam receber menos nesses investimentos e naturalmente os bancos aproveitam essa situação como uma oportunidade. Cabe ao pequeno investidor se educar financeiramente para ser mais exigente em suas escolhas.
Assim como os bancos cobram taxas e juros maiores de devedores com perfil mais arriscado, nós, como investidores, devemos cobrar dos bancos juros maiores e taxas menores quando emprestamos dinheiro para eles.
No Brasil, ainda temos um problema que nem todos comentam. Nós não podemos comprar títulos públicos diretamente do Tesouro Nacional.
Entre o pequeno investidor e o Tesouro existe um intermediário que é a B3 (empresa de capital aberto que operacionaliza a bolsa de valores e outros serviços do mercado financeiro). Essa intermediação é cobrada através de uma taxa de custódia que já foi de 0,40% ao ano. Depois ela foi reduzida para 0,30% e no início de 2018 caiu para 0,25%. Nos ciclos de queda dos juros básicos da economia (Taxa Selic), essa taxa cobrada sobre todo o valor investido representa uma grande perda para o pequeno investidor no longo prazo.
Veremos na simulação que a cobrança dessa taxa de 0,25% degrada a rentabilidade de títulos públicos como o Tesouro Selic. Isso faz o investidor exigir juros maiores nos demais investimentos como prêmio de risco.
Exemplo:
Vamos imaginar alguém que tenha acesso a um CDB pós-fixado de um banco pequeno que paga 100% do CDI com liquidez diária. Essa pessoa também pode adquirir um Tesouro Selic 2025 que paga 2,90% ao ano + 0,03% de taxa de compra. O valor investido na simulação será de R$ 100 mil com prazo até 01/03/2025, que é o vencimento do Tesouro Selic 2025. Utilizamos esse simulador aqui, onde você poderá fazer outras simulações. Veja como ficou a nossa simulação:
A leitura do resultado:
Ao simular o investimento de R$ 100 mil no Tesouro Selic que paga 2,90% ao ano ou em um CDB pós-fixado que paga 100% do CDI, sendo o CDI (Taxa DI) de 2,90% ao ano, você receberia um total bruto de R$ 114.825,90 no Tesouro Selic e 114.661.19 no CDB Pós-fixado quando chegasse o dia 01/03/2025.
Logo de cara podemos perceber que em valores brutos (sem descontar impostos e taxas) o Tesouro Selic obteve uma rentabilidade maior que a rentabilidade do CDB Pós-fixado, mesmo tendo os dois a taxa de 2,90 ao ano. A diferença foi de R$ 164,91 a mais para o investimento no Tesouro Selic. Essa pequena diferença é devido ao valor de 0,03% que preenchemos no campo “Taxa de Compra do Tesouro Selic”.
Ao acessar a tabela que mostra a rentabilidade anual dos títulos públicos (veja aqui) você vai encontrar algo parecido com a figura logo abaixo. Observe que a rentabilidade anual do Tesouro Selic é apresentada como sendo de SELIC + 0,03%. Isso significa que a rentabilidade será a Taxa Selic Diária (que é ligeiramente menor que a Meta da Taxa Selic) + uma taxa que pode ser positiva ou até negativa. No caso do nosso exemplo a taxa é positiva de +0,03%, ou seja, além da SELIC o título pagará um “bônus” de 0,03% ao ano.
Só que ainda precisamos descontar o imposto de renda sobre o rendimento e a taxa cobrada pela B3 de 0,25% sobre todo o valor investido. Dessa forma encontraremos o total líquido.
No exemplo da nossa simulação o imposto cobrado no Tesouro Selic foi de R$ 2.223,89 e no CDB pós-fixado foi de R$ 2.199,18. Esse imposto foi calculado sobre o rendimento bruto que você teve. A alíquota foi de 15%, pois se trata de um investimento que durou mais de 720 dias corridos. Como mostra a tabela logo abaixo, a alíquota do imposto de renda depende da duração do investimento.
Se você investiu R$ 100 mil e recebeu R$ 114.825,90, isso significa que seu rendimento ou lucro foi de R$ 14.825,90 no Tesouro Selic. Somente sobre esse valor é calculado o imposto de renda de 15%. Quando você calcula 14.825,90 x 15% encontra a quantia 2.223,885 que arredondamos para R$ 2.223,89.
Já a taxa de 0,25% cobrada anualmente pela B3, como taxa de custódia, é calculada sobre todo o valor investido. Eles transformam a taxa de 0,25% em uma pequena taxa diária e “provisionam” ou calculam a taxa diariamente, acumulando o valor até a cobrança que ocorrerá 2 vezes por ano. No exemplo, o simulador fez um cálculo aproximado de quando seria esse custo. O valor ficou em R$ 1.285,28.
Observe que os 15% de imposto de renda sobre o rendimento gerou um custo de R$ 2.223,89 enquanto a taxa de 0,25% (que parece pequena) vai retirar do pequeno investidor o valor de R$ 1.285,28.
Agora que temos o desconto do imposto e da taxa, descobrimos que o total líquido que iremos receber no final do investimento ficou em R$ 111.316,74 no Tesouro Selic e R$ 112.462,01 no CDB Pós-fixado. Agora o CDB pós-fixado está ganhando do Tesouro Selic, pois ele não é penalizado pela taxa de 0,25% que só existe nos títulos públicos.
Dessa forma, nosso lucro líquido ficou em R$ 11.316,74 para o investimento no Tesouro Selic e R$ 12.462,01 para o investimento no CDB pós-fixado que rende 100% do CDI para uma taxa DI de 2,90%.
O simulador nos mostra que nossa rentabilidade anual líquida será de 2,27% no Tesouro Selic e 2,48% no CDB pós-fixado. Nossa rentabilidade total entre o início do investimento e o seu fim em 2025 será de 11,32% no Tesouro Selic e 12,46% no CDB Pós-fixado.
Considerando que 100% do CDI é 2,90%, podemos observar no simulador que recebemos o equivalente a 78,12% líquidos do CDI investindo no Tesouro Selic e 85,84% líquidos investindo no CDB pós-fixado. Esse resultado é interessante para a comparação com o investimento em LCI e LCA, pois esses dois investimentos são parecidos com o CDB, quando são pós-fixados, mas possuem a vantagem de serem isentos e imposto de renda. Qualquer LCI ou LCA que estivesse pagando mais do que 85% do CDI teria melhor desempenho que os dois investimentos que simulamos aqui (por serem isentos de imposto de renda e isentos de taxa de custódia). Só que devemos considerar a inexistência de LCI e LCA com liquidez diária. Será necessário aguardar uma data de vencimento e aqui estamos simulando o Tesouro Selic e o CDB pós-fixado com liquidez diária.
No final da simulação temos a informação de que o investimento no CDB pós-fixado irá nos oferecer 0,22% pontos percentuais ao ano a mais quando comparamos com o Tesouro Selic. Podemos entender que recebemos 0,22% ao ano de prêmio de risco. O nosso prêmio pelo risco de investir no CDB pós-fixado de um banco, no lugar de investir no Tesouro Selic emitido pelo governo, será de R$ 1.145,27 durante todo o investimento.
Agora perceba que os R$ 1.285,28 que pagaremos para a B3, na forma de taxa de custódia de 0,25% sobre todo o investimento, é maior do que o prêmio que receberemos pelo risco de investir no CDB pós-fixado que é de R$ 1.145,23. Isso significa que se essa taxa de 0,25% não existisse, o Tesouro Selic ofereceria rentabilidade superior ao do CDB pós-fixado que paga 100% do CDI que simulamos aqui. As instituições financeiras seriam obrigadas a oferecerem CDBs com juros maiores. O Tesouro Selic seria suficiente para superar a rentabilidade de muitos fundos de renda fixa que se limitam ao trabalho de investir em títulos como Tesouro Selic.
Observe que dos R$ 14.825,90 de lucro bruto que temos no Tesouro Selic, após descontar o imposto de renda de R$ 2.223,89, nos oferece um lucro líquido R$ 12.602,01. Só que o custo com a taxa de B3 nos leva 10,19% desse lucro, pois R$ 1.285,28 dividido por 12.602,01 multiplicado por 100 representa 10,19%.
Em resumo, podemos dizer que o Tesouro Selic é o investimento de renda fixa de menor risco de crédito. Poderia ser mais rentável que os CDBs que pagam 100% do CDI, se o Tesouro Direto fosse realmente direto, sem a existência de intermediários entre o Tesouro Nacional e o pequeno investidor que cobram taxas de custódia elevadas (para a atual realidade dos juros no Brasil).
Bancos de médio porte que pagam 110%, 120% ou até mais de 140% do CDI normalmente são bancos que possuem mais dificuldade para captar recursos por serem entendidos como instituições de maior risco. É importante que o investidor entenda o prêmio pelo risco que está recebendo e que evite investir mais do que R$ 250 mil em cada instituição de menor porte, para que fique coberto pela garantia do FGC.
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