Um leitor enviou a seguinte dúvida:

Gostaria de tirar uma dúvida com você a respeito dos títulos públicos/privados atrelados à inflação, q volta e meia o governo com corretoras/bancos emitem com taxas mais elevadas. Esse mês mesmo eles voltaram a emitir. É como se eles estivessem “adivinhando” deflação ou uma baixa inflação nos próximos meses?

Os títulos indexados à inflação, como Tesouro IPCA+ ou títulos privados como CDB, LCI, LCA CRI, CRAs, Debêntures atrelados ao IPCA, são negociados livremente no mercado secundário após sua emissão inicial. Esses títulos também sofrem a influência dos contratos futuros de DI, negociados livremente na bolsa de valores.

Dessa forma, as taxas de juros dos títulos prefixados e indexados ao IPCA ficam flutuando de acordo com a oferta e demanda por esses títulos.

Quando há muitos investidores querendo se desfazer desses títulos ou quanto menos investidores querendo comprar esses títulos, maior a oferta de títulos no mercado.  Com mais papéis sendo oferecidos, seus preços tendem a cair para atrair compradores.

Como você deve saber, quando os preços dos títulos caem, suas taxas de rendimento (taxa de juros real) sobem, pois compram-se por um valor menor e, dessa forma, no dia do vencimento você terá uma rentabilidade maior (já que o valor recebido pelos títulos é fixo).

Ou seja, quanto maior a oferta e menor a demanda por esses títulos indexados, maiores serão suas taxas de rendimento negociadas no mercado secundário.

Isso não significa que o governo ou os participantes do mercado estão “adivinhando” deflação ou baixa inflação futura. A flutuação das taxas ocorre simplesmente pelo mecanismo de oferta e demanda, refletindo as expectativas dos investidores sobre o retorno desejado desses ativos em relação aos demais investimentos disponíveis.

A inflação é parte da remuneração dos títulos indexados ao IPCA. Se você está pessimista com o futuro e não se sente confortável de comprar um título que paga IPCA + 3%, considerando sua percepção de risco com relação ao futuro, talvez você fique mais animado se a taxa for de IPCA + 6% ou IPCA + 7%. Se essa taxa não dá segurança, talvez você se sinta mais motivado a correr o risco se a taxa for IPCA + 10%.

Em resumo, as taxas mais elevadas que volta e meia são observadas nesses títulos não são definidas pelo governo antecipadamente, mas sim são resultado do livre mercado de negociação desses papéis entre investidores.

Uma maior demanda pelos títulos inicia um movimento de queda da taxa enquanto uma menor demanda faz a taxa tender a subir.

No caso do Tesouro Direto, as taxas que eles oferecem dependem das taxas dos juros futuros (contratos de DI) e taxas que os títulos estão sendo negociados entre os bancos.

Maior percepção de risco:

A sinalização recente do governo brasileiro de um potencial descumprimento das metas fiscais previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal (veja aqui) certamente gerou uma redução na demanda por títulos públicos indexados à inflação, fazendo com que seus preços caíssem e, consequentemente, suas taxas de rendimento subissem.

Os títulos públicos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA+, são vistos pelos investidores de um país como ativos seguros, pois além de protegidos contra a inflação, têm o respaldo do governo federal.

No entanto, quando o governo daquele pais sinaliza um possível descumprimento das metas fiscais, aumenta o risco de um futuro desequilíbrio nas contas públicas. Isso gera desconfiança nos investidores sobre a capacidade do governo de honrar seus compromissos de dívida no longo prazo.

O mercado pressiona para que esses títulos rendam taxas mais elevadas (no momento em que não se interessam por taxas menores), a fim de compensar o maior risco percebido de insolvência do emissor (governo). É um mecanismo de autoajuste das taxas para tornar esses papéis atrativos novamente para os investidores.

Portanto, o risco fiscal elevado sinalizado pelo governo reduz a demanda por seus títulos indexados à inflação, derruba seus preços e, consequentemente, aumenta as taxas negociadas no mercado secundário, como forma de compensar o risco adicional percebido.