Você sabe como a indústria de alimentos fatura trilhões de dólares todos os anos explorando a ignorância alimentar e financeira das pessoas? É sobre isso que vamos falar nesse artigo.
Não é só a ignorância financeira que faz você perder dinheiro. A sua ignorância alimentar faz você perder muito dinheiro do início ao fim da sua vida. Para piorar, muitas vezes essa ignorância acaba resultando em doenças, gastos com medicamentos, tratamentos de saúde, perda de produtividade e até abrevia a sua vida.
O pior é que somos tão ignorantes com relação a maneira como os alimentos são produzidos e vendidos que acabamos cultivando, propagando e até estimulando os nossos maus hábitos alimentares entre os nossos filhos, amigos e parentes.
Antes de continuar assista ao vídeo logo abaixo:
Só que não é nada disso. O vídeo retrata franceses brigando por um pote de creme de avelã com cacau. Esses tumultos foram registrados em diversas localidades da França, ao mesmo tempo, dentro de lojas de uma rede de supermercados que oferecia desconto no preço de um famoso creme de avelã com cacau.
O funcionário de uma das lojas disse: “as pessoas entraram correndo, empurrando e quebrando coisas. Era como uma orgia. Quase chamamos a polícia” (fonte). A polícia chegou a ser chamada em algumas lojas da rede.
A rede de supermercados e a própria fabricante do creme, pediram desculpas publicamente pela confusão. Provavelmente as empresas não esperavam que as pessoas se comportassem como animais diante de uma promoção de creme de avelã.
Após a divulgação do desconto de 3 euros, através das redes sociais, as pessoas saíram das suas casas desesperadas até o supermercado mais próximo.
Para que você possa ter uma ideia sobre o que significa 3 euros, o salário mínimo na França é de 1.480,27 euros que seria algo em torno de R$ 5.800,00 (fonte). Na média, os franceses ganham mais do que um salário mínimo. O desconto de 3 euros faria alguém que ganha apenas 1 salário mínimo, na França, economizar o equivalente a 0,2% do salário mínimo local. Esses 0,2% de economia diante do salário mínimo brasileiro seria como brigar no supermercado por um desconto de R$ 1,90 ou 0,2% do salário mínimo de R$ 954,00.
Comportamento irracional
Não importa muito se a pessoa vive em uma cidade europeia desenvolvida, se estudou em boas escolas, tem uma boa renda e está com a barriga cheia.
A irracionalidade diante das promoções pode afetar qualquer pessoa que não pare alguns segundos para pensar racionalmente antes de tomar uma decisão de compra.
Não importa se a promoção é de creme de avelã ou de um automóvel. A irracionalidade diante de ofertas e promoções é generalizada.
Muitos permitem que as empresas influenciem e manipulem suas decisões de compra através de propagandas e estratégias de marketing. Nesse vídeo dos franceses, provavelmente, a maioria não parou para refletir se 3 euros de desconto realmente compensariam o esforço e todos os custos envolvidos.
As pessoas largaram suas casas e trabalho, gastaram tempo, enfrentaram trânsito, gastaram com estacionamento e ainda se envolveram em situações de estresse, brigas e descontrole emocional para economizarem 3 euros.
Quantas vezes você fez a mesma coisa e depois, quando parou para pensar, percebeu que o desconto e o produto adquirido não compensaram e não eram tão importantes? Quantas vezes você comprou algo movido por um impulso e depois se arrependeu?
O pior é que nem sempre temos conhecimento suficiente para o arrependimento. Muitas vezes a nossa ignorância nos faz valorizar produtos sem valor como determinado supérfluos alimentares que são totalmente dispensáveis.
Muitas vezes, por falta de uma simples reflexão, o barato acaba saindo muito caro.
Você sempre perde quando compra qualquer coisa movido pela emoção, sem um julgamento racional.
Muitas vezes as pessoas compram produtos que não precisam na busca por um sentimento falso de vitória, de ter obtido algum tipo de vantagem, prêmio ou bônus. As pessoas que elaboram as estratégias de vendas das empresas conhecem essas fraquezas e as exploram.
Valorizar o que não tem valor
A capacidade de manipulação das empresas sobre as nossas decisões de consumo vai muito além dos preços e promoções. Elas conseguem fazer com que você valorize produtos que não possuem real valor.
É incrível como aceitamos as ilusões sobre o valor daquilo que as empresas produzem e vendem.
Preço é aquilo que você paga por um produto. Valor é aquilo que você leva para casa. A arte de ganhar dinheiro através da indústria de alimentos está da capacidade da indústria cobrar um preço elevado por coisas que não possuem valor elevado.
Vamos pegar o exemplo desse creme de avelã com cacau. Poderia citar muitos exemplos, mas preciso escolher apenas um para escrever o artigo.
Muitos relacionam o creme de avelã famoso com a imagem de um alimento nobre. Ele é visto como algo especial capaz de “gourmetizar” qualquer receita e a vida de quem o come.
Sabemos que avelã e cacau são alimentos caros, quando são puros, e aceitamos pagar mais por eles. O problema é que nem sempre o que existe dentro da embalagem é exatamente aquilo que você imagina e que aparece destacado na embalagem.
Quando olhamos as letras miúdas dos ingredientes em algum lugar escondido do rótulo, descobrimos a grande arte de faturar trilhões da indústria de alimentos.
Toda a indústria de alimento investe na construção da imagem que as pessoas possuem sobre os seus industrializados através das campanhas de marketing e publicidade.
Toda a comunicação é emocional. Raramente se fala sobre o que realmente estão vendendo, sua composição e os valores nutricionais.
Quando você compra um creme de avelã com cacau, provavelmente imagina que quase todo o conteúdo da embalagem é avelã e cacau.
No caso do creme de avelã do vídeo, a maior parte do que existe dentro do pote é açúcar e óleo de palma. Avelã e cacau aparecem em quantidades ridiculamente pequenas. Observe a ilustração desenvolvida por uma entidade alemã.
Observe na figura acima a quantidade de açúcar. Você deve saber que açúcar é um ingrediente barato. É fácil imaginar como é lucrativo vender açúcar pelo preço da avelã.
Outro ingrediente barato que existe em grande quantidade dentro do pote de creme de avelã é o óleo de palma.
O óleo de palma é um dos óleos vegetais mais baratos que existem no mundo (fonte). Imagine a lucratividade que é vender o óleo mais barato do mundo pelo preço que costumam cobrar pela avelã e cacau. Segundo o site da empresa, a avelã representa apenas 13% do produto.
Nada disso é segredo. No rótulo é possível ver os ingredientes. Eles são listados em uma ordem que segue a maior quantidade para a menor quantidade. Como o açúcar e o óleo de palma aparecem no início da lista isso significa que os dois representam a maior quantidade do conteúdo da embalagem.
A mesma estratégia de vender açúcar e óleo barato por preços elevados é adotada em outras indústrias de alimentos. Você também paga muito caro pelo açúcar e gordura vegetal que representam o maior volume da maioria dos sorvetes, chocolates e doces. A gordura vegetal barata também está fazendo volume nas margarinas, molhos de salada, bolos, tortas, panetones, ovos de páscoa, biscoitos, alimentos fritos e processados.
Vale lembrar que o óleo de palma é o mesmo óleo de dendê, só que o óleo de dendê preserva as características naturais do óleo enquanto o outro passa por processos químicos que retiram o odor, sabor, cor e nutrientes. Com isso, esse óleo barato pode ser utilizado para produzir marcas caras e sofisticadas de produtos alimentícios, cosméticos e até produtos de higiene e limpeza.
Qualidade percebida
Muitas indústrias trabalham dia e noite procurando meios de reduzir o custo dos ingredientes sem comprometer o sabor, textura e a percepção de qualidade.
Para isso, existem aromatizantes e produtos químicos que garantem a cor, textura e aparência dos produtos artificialmente.
Para a indústria, o importante é fazer você acreditar que está comprando algo de qualidade, ou seja, o que importa é a qualidade percebida e não a verdadeira qualidade. Quanto maior o valor que eles conseguem fazer você perceber, mais caro podem cobrar, mais caro você aceita pagar.
O fato é que muitas vezes você permite que as empresas introduzam na sua cabeça a ideia de que os seus produtos possuem grande valor. Você acredita nas propagandas e demais estratégias de marketing e vendas.
Vender uma combinação de ingredientes baratos, como se fossem produtos nobres, é um grande negócio. Sua ignorância alimentar é uma grande oportunidade de negócio.
É importante lembrar que não é papel da indústria cuidar da sua saúde. Você é que deve cuidar da sua saúde.
Não espere que os governos cuidem da sua saúde. Pesquise quais são as indústrias que mais patrocinam as campanhas dos políticos no Brasil e no resto do mundo. Use sua imaginação. Os políticos que fazem e modificam as leis querem continuar recebendo apoio dessas indústrias nas eleições futuras.
Pesquise também quais são as indústrias que patrocinam aquelas pesquisas que aparecem na imprensa mostrando que consumir determinado alimento pode fazer bem para a sua saúde. As indústrias que patrocinam essas pesquisas costumam ser as mesmas que compram publicidade nas revistas, jornais e TVs que divulgam essas pesquisas.
Você é que deve escolher os produtos avaliando a qualidade e os ingredientes. A indústria de alimentos vai cuidar dos lucros dela e você precisa cuidar da sua saúde e do gasto inteligente do seu dinheiro com a sua alimentação.
Quando estiver fazendo compras, lembre-se: alimentos de verdade não precisam de propaganda e muitas vezes não precisam de uma marca. Você não vai encontrar comerciais na televisão motivando você a comer frutas, verduras, cereais, peixes frescos, carne in natura, ovos frescos, etc.
Devemos buscar informações sobre os alimentos que consumimos, pois, o dinheiro que gastamos nesses alimentos é um investimento feito na nossa saúde. Um dia iremos sentir na pele os ganhos ou perdas desse tipo de investimento.
Acredito que o uso inteligente do nosso dinheiro não se limita a escolher bons investimentos ou aproveitar as boas promoções e ofertas que aparecem no comércio. O uso inteligente do seu dinheiro vai muito além disso.
As empresas vendem aquilo que a ignorância alimentar das pessoas demanda, cobrando o preço que elas aceitam pagar.
Se as pessoas tomarem decisões mais inteligentes no momento de escolher aquilo que consomem, as indústrias naturalmente irão se adaptar. Uma população consciente exige mais qualidade e a indústria passa a oferecer mais qualidade.
O que devemos realmente combater é a ignorância em todas as suas formas. Devemos investir em livros, cursos e outras fontes de conhecimento.
Dica: Segue a dica de uma aula gratuita online (visite aqui e clique no botão laranja), que é uma demonstração de um curso sobre alimentação forte, que eu já fiz e recomendo.
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