Se você tem medo de abrir conta em corretora de valores para investir seu dinheiro, leia esse artigo. Em um passado distante eu também enfrentei esse medo do desconhecido. Posso afirmar que existem dois caminhos para curar esse medo e quero motivar você através dos problemas que tive que superar no passado.

Você não pode ficar parado na primeira fases:

Existem três importantes fases na vida de um pequeno investidor. A primeira é o dia em que ele abre sua primeira conta bancária. A segunda acontece quando ele abre sua primeira conta em uma corretora de valores. A terceira é quando ele adquire os conhecimentos necessários para tomar suas decisões de investimento sem depender de assessorias, consultorias e opiniões dos outros.

É provável que a sua primeira conta tenha sido aberta em um dos cinco grandes bancos (Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco ou Santander). Para a alegria do governo, banqueiros e seus acionistas, quase 80% de todo dinheiro dos brasileiros estão investidos nestes bancos de grande porte.

Provavelmente suas primeiras economias foram aplicadas na poupança. Depois de algum tempo, à medida que acumulava recursos, você se interessou por outros investimentos do mesmo banco como fundos e CDB. Se você tinha o hábito de conversar com o gerente da sua conta no grande banco, possivelmente acabou sendo induzido a adquirir péssimos produtos financeiros como títulos de capitalização e planos de previdência privada mal remunerados.

O divisor de águas na vida do pequeno investidor acontece no dia que ele toma a decisão de abrir uma conta para investimentos dentro de uma corretora de valores independente. Não estou falando da corretora vinculada ao grande banco onde você possui conta. Essa corretora provavelmente cobra taxas que desestimulam qualquer investidor iniciante. Estou falando de corretoras que não possuem nenhuma ligação com os grandes bancos. É no dia que o pequeno investidor abre sua conta na corretora que uma janela de oportunidades se abre. São oportunidades que não existem dentro dos grandes bancos para os pequenos investidores.

No meu caso pessoal, isto aconteceu ainda quando era jovem e ainda cursava a faculdade. Foi cursando a cadeira opcional de “Mercado de Capitais” no curso de bacharelado em Administração de Empresas que acordei para uma nova realidade. Investidor de verdade não investe através de grandes bancos. Os grandes investidores e aqueles que estão conquistando os melhores resultados possuem contas dentro das corretoras de valores. São nas corretoras que as grandes fortunas se formam e são diariamente movimentadas.

Nos meus primeiros anos utilizando minha primeira conta bancária, em um grande banco, fui induzido pelo meu gerente a fazer péssimos investimentos. Logo no início, fui vítima de um título de capitalização oferecido como condição para facilitar a abertura da minha conta corrente.

É claro que o banco não exigia fazer o título de capitalização como condição para a abertura da conta, mas aquele gerente que me atendeu resolveu utilizar essa estratégia (mal-intencionada) para bater a meta de vendas de títulos de capitalização que o banco certamente estava impondo a ele.

Pouco tempo depois fui convencido a fazer um péssimo plano de previdência privado. As taxas eram absurdamente elevadas e a rentabilidade era pior do que a poupança. Nas simulações que o gerente fez o plano parecia maravilhoso. Naquele tempo, muitos educadores financeiros renomados, com vários livros publicados, recomendavam essas verdadeiras bombas que são os planos de previdência privada abertos oferecidos pelos grandes bancos.

Eu sinceramente não sei como alguns gerentes de banco conseguem colocar a cabeça no travesseiro depois de um dia de trabalho. Bater as metas que seus patrões estabelecem é o mesmo que caminhar sobre uma linha tênue que faz fronteira com a imoralidade. O mesmo vale para muitos educadores financeiros mais antigos que induziram milhões de brasileiros a fazerem péssimos investimentos através dos seus livros, propagandas e palestras patrocinadas por bancos.

Até hoje lembro do rosto do meu primeiro gerente dentro daquele grande banco. Se hoje estou aqui motivando pessoas a aprenderem mais sobre investimentos, para que tomem decisões conscientes e sem depender da opinião dos outros, devo isso ao meu primeiro gerente. Foi ele que me ensinou qual é a principal função dos gerentes de banco semelhantes a ele:

  1. Defender os interesses daqueles que pagam seu salário e seus direitos trabalhistas;
  2. Bater todas as metas de venda estabelecidas por seus superiores, custe o que custar. Se não fizer isso não será promovido e nem bonificado.
  3. Aumentar os lucros do banco, mesmo que isso signifique prejudicar o retorno financeiro dos seus clientes;
  4. Mostrar claramente as vantagens dos produtos do banco e deixar que você descubra as desvantagens lendo as letras minúsculas e incompreensíveis do contrato.
  5. Só oferecer informações quando você perguntar, mesmo quando ele percebe que você não perguntou por ignorância;

É claro que não podemos generalizar. Certamente existem bons gerentes trabalhando nos bancos, mas tenho a impressão que bons gerentes de banco ficam pouco tempo no emprego. Defender os interesses dos clientes significa deixar de lado os interesses do banco. Gerente que não mostra resultado (batendo as metas estabelecidas pelo banco) é rapidamente demitido. A fila anda e do lado de fora existem muitos desempregados dispostos a trabalhar com “sangue no olho e faca nos dentes” pelos interesses do banco.

Se você leu o livro “Sonho Grande“, que conta a história de um dos homens mais ricos do Brasil e do mundo, deve ter percebido que é através de funcionários do tipo “workaholic” e com sangue no olho que as empresas prosperam. Nem sempre existe a preocupação se os produtos e serviços oferecidos são realmente bons para os clientes. É por isso que além de dono de banco ele se tornou dono da maior fábrica de cerveja e refrigerante do mundo e da segunda maior rede de fast-food do mundo.

Na cabeça de alguns empresários a ignorância das pessoas é uma oportunidade de negócio. Não importa se estamos falando de ignorância financeira ou ignorância alimentar. Para eles, se produtos financeiros ruins, bebidas alcoólicas, refrigerantes e sanduíches fazem mal para as pessoas, isso é um problema das pessoas.

Temos que assumir que realmente o problema é de cada um de nós. A educação financeira e alimentar da sua família é um problema seu e não dos outros. Enquanto você demandar por produtos financeiros ruins, bebidas e alimentos ruins, eles vão continuar satisfazendo sua necessidade e lucrando com isso. Empresas não obrigam ninguém a comprar nada, elas só satisfazem a demanda das pessoas.

Deve ser movido por sentimento de culpa que o personagem principal do livro criou uma fundação que apoia projetos de educação. Ele mesmo acredita que crianças bem-educadas, quando chegarem na vida adulta, vão consumir menos bebidas alcoólicas, menos refrigerantes, menos comidas de fast-food e menos produtos financeiros ruins.

Segundo passo

Ter uma conta bancária é o primeiro passo, de preferência uma conta digital sem custos. O segundo passo é abrir uma conta em corretora de valores. Se você pretende crescer como investidor é fundamental que você perca o medo de investir fora dos grandes bancos. Os produtos que os grandes bancos oferecem possuem custos elevados e rentabilidade pequena. Você está limitando sua capacidade de fazer seu dinheiro render mais.

Os bancos costumam separar seus clientes por quantidade de recursos investidos. Se você é um pequeno investidor, o banco só vai oferecer investimentos com baixa rentabilidade e elevadas taxas administrativas. Se você é um investidor de maior porte, eles vão oferecer agências com nomes elegantes e investimentos com rentabilidades ligeiramente maiores e taxas ligeiramente menores. O problema é que nada se compara ao grande número de oportunidades, taxas e rentabilidades que você encontrará em qualquer corretora.

Já vem ocorrendo no Brasil um fenômeno chamado “desbancarização”. Clientes de agências glamourosas, feitas para impressionar pessoas sensíveis aos apelos do marketing, começaram a perceber que o café cappuccino servido nessas agências estava custando caro de mais. Do que adiante andar por ai com cartões de crédito chiques que utilizam nomes elegantes como personnalité, prime, estilo e van gogh, se os resultados dos seus investimentos não correspondem a esse glamour todo? Foram esses clientes que começaram a perceber que não existe cappuccino de graça e que dentro das corretoras e nos bancos de médio porte, acessíveis por estas corretoras, era possível aumentar a rentabilidade dos seus investimentos. Quando você tem centenas de milhares de reais ou milhões de reais investidos, qualquer diferença de 0,10% na sua rentabilidade gera uma diferença enorme com o passar do tempo.

Recentemente duas grandes corretoras (XP Investimentos e Rico) cortaram suas taxas para tornar o investimento através das corretoras ainda mais atrativo. No caso da XP eles cortaram a tarifa que era cobrada para fazer transferências (TED) da sua conta na corretora para sua conta no banco. Isso permite que você tenha acesso ao seu dinheiro quase que imediatamente e sem custos. Eles também zeraram a taxa de custódia.

O mesmo aconteceu com a taxa administrativa que a corretora XP cobrava anualmente de quem investia em títulos públicos do Tesouro Direto. Enquanto clientes de grandes bancos pagam 0,50% de taxa anual para investir em títulos públicos, nas corretoras com isenção de taxa administrativa esse custo é zero. Alguém com 1 milhão investido em títulos públicos pagaria R$ 5.000,00 por ano de taxa através de um grande banco. Nas corretoras com taxa zero (existem várias corretoras) você pode usar esse dinheiro para fazer alguma coisa mais proveitosa. Da próxima vez que você for em uma agência bancaria premium tomar um cappuccino com sua gerente, saiba que esse cappuccino pode estar custando muito caro.

Bancos Pequenos e Tesouro Direto com taxa zero

No passado as corretoras só eram procuradas por investidores de renda variável, aqueles que são menos conservadores e aceitas riscos maiores em troca de retornos maiores na bolsa de valores. As corretoras independentes sempre tiveram taxas melhores que as corretoras vinculadas aos grandes bancos.

Atualmente esse fenômeno também ocorre nos investimentos de renda fixa, preferidos pelos investidores mais conservadores. As principais corretoras independentes possuem parcerias com diversos bancos e financeiras.  Através destas corretoras podemos fazer investimentos de renda fixa como CDB, LCI, LCA, LC, CRI e CRA emitidos por inúmeras instituições. Existem centenas de opções de investimento nestes bancos de médio porte que podem ser acessados através das corretoras. Também existe uma grande variedade de prazos e formas de remuneração que podem ser pós-fixadas, prefixadas, IPCA+juros ou IGPM+juros.

Tenho um artigo onde ensino como você pode consultar os investimentos oferecidos pelas principais corretoras do Brasil, visite aqui. Compare a rentabilidade e a variedade de investimentos disponíveis nas corretoras com o que você tem disponível dentro do banco onde você tem conta.

Qual corretora escolher?

Existem várias corretoras e cada uma tem sua especialidade, vantagens e desvantagens. Tenho um artigo onde ensino como você pode avaliar as corretoras com foco na renda fixa e tesouro direto. Você poderá utilizar o mesmo modelo para escolher a sua corretora. Recentemente eu atualizei este artigo, já que ocorreram grandes mudanças nas tarifas cobradas pelas grandes corretoras, visite aqui.

Perdendo o medo:

Você vai perder o medo de investir através de corretoras através de dois caminhos: Informação e experiência própria. O que mais funciona é a experiência própria. Eu recomendo que você abra sua conta na sua corretora preferida e faça um investimento inicial bem pequeno para se sentir mais seguro.

Depois observe e compare os resultados com o investimento do seu banco. Com o passar dos meses, você vai acumular experiência e isto trará a segurança necessária para eliminar o medo do novo.

Para curar o medo do desconhecido é importante se nutrir de informações como estas:

  1. Corretoras são instituições financeiras como qualquer outra. Passam pelos mesmos controle que um banco deveria passar. Não se abre uma corretora com a mesma facilidade que se abre uma lanchonete.
  2. Toda corretora que está em operação foi autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil. Elas fazem parte do Sistema Financeiro Nacional, atuando na intermediação das negociações entre investidores e aquelas entidades que fornecem investimentos como títulos privados, títulos públicos, valores mobiliários, ações, debêntures, fundos imobiliários, entre outros.
  3. Corretoras são fiscalizadas pelo Banco Central e CVM (Comissão de Valores Mobiliários), sendo obrigadas a contratar auditoria independente. A CVM tem uma área de orientação e defesa do investidor, veja aqui, onde é possível abrir reclamações e iniciar processos administrativos contra as corretoras.
  4. Para quem usa a corretora para investir em ações a BM&FBOVESPA possui um Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (MRP), que assegura aos investidores o ressarcimento de até R$ 120 mil por prejuízos causados pela ação ou omissão das corretoras tanto no que diz respeito aos negócios realizados em mercados de bolsa, como no que diz respeito aos serviços de custódia. O mecanismo cobre, ainda, prejuízos decorrentes de intervenção ou liquidação extrajudicial da instituição (falência). Para saber mais visite aqui.
  5. Quando você investe em outros bancos através das corretoras esse investimento fica garantido pelo Fundo Garantidor de Créditos, até o limite de R$ 250 mil por instituição financeira. Se o banco onde você investiu pela corretora quebrar, existe essa garantia do FGC. Para saber quais investimentos são cobertos e como funciona visite aqui.
  6. Existem várias corretoras que já trabalham com o CETIP Certifica. Este serviço é uma certificação que comprova o registro, na Cetip, da aplicação do cliente, identificando o CPF ou CNPJ (se for empresa) em determinados investimentos de renda fixa. Se você pedir para a corretora investir uma quantidade do seu dinheiro em um CDB, LCI, LCA, CRA, CRI e LF de algum banco ou instituição, ela fará o investimento e registrará a operação na CETIP. Todos os meses a corretora permitirá que você acessa o certificado emitido pela CETIP que lista todos os investimentos feitos pela corretora que estão vinculados ao seu CPF. Para saber mais visite aqui.
  7. Atualmente as corretoras oferecem um número de conta e agência para que você faça TED ou DOC transferindo dinheiro entre sua conta bancária e a conta na corretora. Quando a operação é feita por TED o dinheiro cai na sua conta em poucos minutos. Várias corretoras não cobram mais a taxa para fazer TED. Isso significa que você não precisa deixar dinheiro parado na corretora caso não queira reinvestir imediatamente.

Outra coisa que devemos observar é que grandes investidores utilizam as corretoras para reduzir seus custos nos investimentos. São justamente os pequenos investidores e as pessoas mais leigas que continuam pagando taxas absurdamente elevadas nos grandes bancos. Para grandes investidores qualquer diferença de 0,10% de taxa ao ano já significa uma grande quantidade de dinheiro que poderia ser gasta de forma mais inteligente.

Onde está o perigo das corretoras?

Nem tudo são flores. O maior perigo que existe nas corretoras está na relação de dependência entre o investidor e os funcionários ou agentes das corretoras. Da mesma forma que os gerentes dos bancos são remunerados ou premiados quando conseguem convencer você a fazer um investimento, funcionários das corretoras e seus inúmeros agentes também são remunerados e premiados pelo seu desempenho.

A diferença é que nas corretoras as opções de investimento oferecidas para os clientes se encontram listadas em seus sites. Você não precisa da ajuda de ninguém para fazer seus investimentos na sua casa, através do seu computador. Isto nem sempre acontece nos bancos. É comum a existência de investimentos que só os gerentes podem oferecer, se acharem isso conveniente.

Quando abri minha primeira conta em corretora recebi o telefonema de um “assessor de investimentos”. Eu tive que explicar para ele que não precisava de qualquer tipo de assessoria. Esclareci que estava investindo na minha educação financeira justamente por acreditar que sou a melhor pessoa para tomar decisões sobre meu dinheiro. Esclareci que só utilizaria a assessoria dele para tirar dúvidas sobre investimentos e que ele não perdesse o tempo dele tentando me influenciar a tomar decisões de investimento. Ele entendeu o recado e não ficou insistindo em manter contatos constantes comigo periodicamente.

É exatamente isso que recomendo que todos os meus leitores façam antes de abrir conta em corretora. Invista na sua educação para não depender da opinião dos outros. De nada adianta trocar um gerente de banco por um assessor ou funcionário de corretora se os dois estiverem treinados para influenciar nas suas decisões de investimento com foco em gerar mais retorno para a instituição onde trabalham.

Você precisa se educar para ter condições de conversar de igual para igual com estas pessoas. Você vai perceber que ao demonstrar seus conhecimentos o nível da conversa será totalmente diferente.

A maioria das reclamações que vejo envolvendo a relação entre investidores e corretoras está na dependência ou nos vínculos que se formam entre o investidor e os assessores e funcionários da corretora. É claro que existem bons profissionais e bons assessores, mas certamente quando eles são muito bons para você acabam não gerando os resultados que poderiam gerar na empresa onde trabalham. Infelizmente as empresas instituições estimulam seus funcionários a agirem como verdadeiros vendedores, embora as pessoas acreditem que eles são consultores. Quem presta consultoria de investimentos cobra muito caro para dar opiniões gratuitamente. Se você não estiver pagando para receber conselhos é provável que quem está aconselhando vai ser remunerado pelo conselho que deu.

Como educador financeiro só posso dar a única e a melhor de todas as recomendações: Estude! Só você ganha com seu estudo. É estudando que você vai se tornar um bom investidor. É estudando que você não irá permitir que ninguém tome decisões sobre o que você deve ou não fazer com seu próprio dinheiro. Se você já dedicou muito tempo aprendendo a ganhar dinheiro através da sua profissão, não custa nada dedicar tempo aprendendo a cuidar do seu dinheiro. Eu não posso dizer que não custa nada. Investir sem saber o que você está fazendo pode custar muito caro.

O Clube dos Poupadores é o resultado da minha jornada em busca de conhecimentos que pudessem me transformar em um pequeno investidor livre, consciente e capaz de tomar minhas próprias decisões de investimento sem me deixar influenciar por terceiros. Durante essa longa jornada, que ainda não terminou, eu dedico parte do meu tempo compartilhando as coisas que estou aprendendo através dos artigos escrevo semanalmente e dos livros que já lancei sobre o assunto (conheça aqui).

Compartilhe este artigo com aquele seu amigo que ainda sentem receio de sair da zona de conforto. O medo do novo, do desconhecido e a falta de conhecimento custam muito caro no mundo dos investimentos. Faça os grandes bancos saírem da zona de conforto também investindo na sua educação financeira.