Uma boa parte dos investidores brasileiros são ultraconservadores. Para eles, a rentabilidade dos investimentos é o que menos importa. Os mais radicais guardam dinheiro em casa. Alguns imobilizam boa parte patrimônio em terrenos e imóveis. Muitos deixam grandes quantias paradas na conta corrente.

Os ultraconservadores menos radicais até aplicam algum dinheiro na poupança, mas fazem isso com medo, pois para eles até a poupança oferece risco.

Das poucas pessoas que guardam e investem algum dinheiro no Brasil, 88% só confiam na caderneta de poupança. Somente 5% investe em títulos privados (CDB, LCI, LCA etc.) e só 4% investe em algum tipo de fundo.

Somente 3% possui investimentos em Títulos Públicos, que são considerados os investimentos mais seguros que podemos fazer em moeda local (R$). Já entre os investimentos de maior risco, somando aqueles que investem em ações e moedas estrangeiras, temos somente 2%. O curioso é que esses números são de 2019, onde já temos uma internet repleta de informações sobre investimentos, livros e cursos acessíveis para todos (fonte). Provavelmente a situação já foi muito pior alguns anos atrás.

Até para ser um investidor conservador é necessário algum preparo. Considerando que investidores conservadores deveriam fazem investimentos seguros que rendem mais do que a poupança, como títulos privados (CDB, LCI e LCA), títulos públicos (Tesouro Selic, Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+) ou fundos que investem nesses títulos, o número de investidores conservadores é muito pequeno. Provavelmente eles não passam de 5%.

Se você acredita ser muito conservador, vamos falar sobre uma carteira conservadora.

Eu desenvolvi uma ferramenta online (gratuita) onde você poderá fazer testes e descobrir se é um investidor conservador, moderado ou agressivo (veja o teste aqui). Se você não entende bem o que é uma carteira de investimentos, leia esse artigo primeiro.

Carteira conservadora

Recentemente eu desenvolvi e publiquei aqui no Clube dos Poupadores um simulador de carteira de investimentos, veja aqui.

O objetivo desse simulador é permitir que você observe o impacto na rentabilidade da sua carteira quando você diversificar seus investimentos. A ferramenta é muito simples, mas permite experimentar formas diferentes de distribuir o seu dinheiro nos diversos tipos de investimentos que existem.

Vou apresentar aqui algumas simulações para motivar você a fazer as suas próprias simulações (visitando aqui).

Vamos imaginar uma pessoa que tem R$ 100.000,00 investidos na poupança. Vamos adotar a rentabilidade mensal de 0,3434% para a poupança. O Banco Central divulga a taxa aqui. Podemos converter essa taxa em uma taxa anual que será de 4,1995%. Você pode fazer conversões de taxas equivalentes visitando aqui.

Vamos fazer essa primeira simulação adotando o número 4,20% ao ano supondo que o investidor aplicará R$ 100.000,00 em 1 ano. Visite o simulador de carteira de investimentos, clicando aqui. Ele preenchido ficará dessa forma:

Esse investidor ultraconservador da nossa simulação, que aplicou R$ 100 mil na poupança, terá R$ 4.200,00 de rendimento gerado pela rentabilidade da poupança estimada em 4,20% em um ano. Se os juros caírem nos próximos 12 meses a rentabilidade anual será menor que a simulada e se os juros subirem ela será maior. Você pode considerar isso na simulação utilizando taxas maiores ou menores.

Agora vamos imaginar que esse investidor ultraconservador resolva trocar a poupança que rende 4,20% ao ano por investimentos de renda fixa pós-fixados que pagam o equivalente a 100% da Taxa DI (CDI). Veja a taxa DI atual visitando aqui.

Nas corretoras é possível encontrar CDBs de diversos bancos que pagam mais de 100% da Taxa DI. O livro que escrevi sobre Como Investir em CDI, LCI e LCA é todo baseado na busca e seleção dos bancos que oferecem as melhores taxas que podemos encontrar nas corretoras. Não é difícil encontrar CDB que paga 110%, 115% ou até 120% do CDI.

Abrir conta em uma corretora é simples como preencher um formulário e clicar em um botão para enviar. Como corretoras só oferecem investimentos (não oferecem empréstimos) a aprovação do cadastro é quase imediata.

A vida do investidor conservador se divide em duas fases: antes de abrir conta em uma corretora independente e depois da abertura da conta. O universo de possibilidades aumenta muito quando você investe através de corretoras quando comparamos com os limitados (e ruins) investimentos oferecidos pelos 5 grandes bancos: Banco Amarelo e Azul (bancos públicos) e Banco Laranja e os dois Bancos Vermelhos.

Vamos simular uma carteira com 80% rendendo o equivalente a um CDI de 5,90% ao ano e 20% em títulos públicos como o Tesouro Prefixado rendendo 6,80% ao ano. Você encontra as taxas dos títulos públicos visitando aqui. Aqui no Clube temos uma página com gráficos e histórico de todos os títulos, visite aqui. Vou usar no exemplo a taxa do Tesouro Prefixado 2015 que vi no dia que o artigo foi escrito. Faça suas simulações com as taxas que você encontrar no dia que você simular.

Veja que na simulação acima tivemos uma rentabilidade de 6,08% na carteira no ano. Observe que 80% do total investido (R$ 80 mil) foram aplicados em investimentos pós-fixados com rentabilidade de 5,90%, que seria o equivalente a 100% da Taxa DI quando a simulação foi feita. Os outros 20% (R$ 20 mil) renderam 6,80% ao ano em um título público como o Tesouro Prefixado. O rendimento final foi de R$ 6.080,00 onde 77,63% desse resultado (R$ 4.720,00) foi graças ao pós-fixado que rendendo 5,90% ao ano e 22,37% desse resultado (R$ 1.360,00) foi graças ao Tesouro Prefixado que rendeu 6,80% ao ano.

Descontando 15% de imposto de renda sobre esses R$ 6.080,00 teríamos R$ 5.168,00 de rendimento líquido (5,17%). Isso representa R$ 968,00 de ganho acima da rentabilidade da poupança simulada na carteira anterior. É como se você ganhasse de presente mais 2 meses de rendimentos equivalentes ao da poupança. Na prática, o investidor conservador perde dinheiro todo ano (sem saber disso) ao deixar de lado oportunidades oferecidas pela própria renda fixa, que possuem o mesmo nível de segurança da poupança.

Como a cobrança do imposto de renda sobre o rendimento dos títulos públicos e privados (recolhido automaticamente pelo banco/corretora) só ocorre no vencimento, o valor que seria pago de imposto continua investido rendendo juros sobre juros por vários anos. No final, o ganho anual seria ainda maior pelo adiamento do pagamento do imposto. Além disso, existem investimentos de renda fixa isentos de imposto de renda como o LCI e LCA que pagam taxas próximas de 100% do CDI.

Agora vamos fazer uma nova simulação investindo uma parcela maior em prefixados e uma pequena parte em renda variável:

Em países onde os juros da renda fixa são muito baixos é comum a presença de pequenos investimentos em renda variável na carteira de investidores conservadores.

Vamos fazer uma simulação desse tipo colocando 60% do valor investido em pós-fixados, 35% em prefixados e 5% em renda variável que pode ser em ações, fundos de ações, ETF, fundos imobiliários ou um conjunto desses investimentos (em uma carteira de renda variável criada paralelamente).

Esses 5% que iremos simular representam R$ 5 mil. Vamos imaginar uma rentabilidade de 20% para a renda variável em 1 ano. Você pode simular taxas menores ou maiores, mas aqui está uma justificativa par a taxa de 20%: quando esse artigo foi escrito a Bolsa acumulava 15,84% de alta entre janeiro e julho de 2019, medido pelo índice Bovespa (veja aqui).

O índice que mede o desempenho as Small Caps (empresas menos capitalizadas negociadas na Bolsa) passava de 27% no mesmo período. O índice que mede o desempenho das empresas que pagam dividendos passava de 21% e o índice que mede o desempenho dos fundos imobiliários passava de 13%.

Em 2018, que foi um ano conturbado pelas eleições, a Bolsa subiu 15%. Em 2017 a alta foi acima de 26% e em 2016 foi acima de 38%. Observe um estudo gráfico que elaborei. Cada caixa amarela representa 1 ano de variações no índice Bovespa (que mede o desempenho das ações mais negociadas.

Na nossa simulação o resultado da carteira foi de 6,92%. O investimento em renda variável resultou em rendimento adicional de R$ 1.000,00. No total, o rendimento anual da carteira foi de R$ 6.920,00 sendo que 14,45% desse resultado (R$ 1.000,00) foi graças ao risco corrido pelo investidor ao aplicar 5% do que tinha em ações ou algum investimento de renda variável capaz de render 20% em 12 meses.

Quanto você pode perder?

A melhor parte desse tipo exercício está na simulação de possíveis perdas. No mundo dos investimentos de renda variável, os ganhos são ilimitados, mas as perdas se limitam ao que você investiu.

Vamos imaginar que os 5% que destinamos para a renda variável tenha uma rentabilidade próxima do índice que mede o desempenho da Bolsa (Índice Bovespa). Poderia ser um fundo de ações que tenta replicar ou superar o índice. Poderia ser uma ETF ou uma carteira de investimentos em diversas ações onde o seu objetivo é superar o índice.

Primeiro vamos olhar o que de pior ocorreu no passado para simular o pior que pode acontecer no futuro caso o passado negativo se repita. Na tabela que preparei logo abaixo, podemos observar que entre 2000 e 2018 o índice Bovespa fechou com rendimento negativo 8 vezes.

Uma das piores crises internacionais, que derrubou bolsas no mundo inteiro, ocorreu em 2008. Naquele tempo o índice Bovespa recuou -41,25% em 1 ano para depois se recuperar com uma alta de 82,70% em 2009.

Podemos imaginar que, na pior das hipóteses, corremos o risco de perder algo próximo de 40% dos R$ 5.000,00 investidos na simulação. Também podemos simular o que aconteceu em 2013, 2014 e 2015 que foram anos de agravamento daquilo que se tornaria uma das piores crises econômicas que o país já viveu.

Considerando a possibilidade de uma segunda pior crise internacional, você correria o risco de perder 40% dos R$ 5.000,00 investidos na nossa simulação que destina 5% do patrimônio para a renda variável.

Depois de grandes perdas ocorrem grandes períodos de recuperação e você teria a opção de manter seus investimentos para recuperar o que foi perdido. Foi o que ocorreu em 2009 e sua alta de 82,70%. O crescimento que tivemos nos últimos 3 anos (entre 2016 e 2018) não deixa de ser uma recuperação das perdas que tivemos nos anos anteriores.

Na simulação acima temos o que aconteceria com a carteira de investimentos conservadora com R$ 5.000,00 investidos em renda variável com uma perda de -40% provocada por uma grave crise internacional. O ano terminaria com uma rentabilidade positiva de 3,92% no total da carteira.

Faça uma simulação onde você terá -100% de perda dos R$ 5.000,00. O resultado da sua carteira seria um ganho de 0,92%, pois a queda na renda variável seria insuficiente (mesmo com a perda total) para consumir todo o ganho da renda fixa. Isso significa que a renda fixa impediria a rentabilidade negativa da carteira com essa configuração.

Agora vamos ver a simulação logo acima. Em 2015, quando a Bolsa fechou em queda pela última vez (-13,30%) a Taxa Selic e o CDI renderam algo próximo de 13% no acumulado do ano. Se você simular 95% do seu patrimônio em uma renda fixa pós-fixada com taxa de 13% ao ano e uma perda de -13,30% na Bolsa seu resultado seria positivo em 11,68%. Se a parcela investida na Bolsa fosse de 10% e a perda de -13,30 o seu resultado final seria de 10,37%. Se você perdesse o total dos 10% investidos na Bolsa, com a taxa de 13% na renda fixa você ainda fecharia o ano com sua carteira positiva em 1,70%.

Podemos dizer que uma carteira conservadora equilibrada pode prevenir rentabilidade negativa na carteira, mesmo com perda total do que foi investido na renda variável, pois os ganhos na renda fixa poderiam cobrir as perdas na renda variável. Isso mostra a importância de fazer suas simulações para encontrar a melhor carteira para o tipo de risco que você aceita correr.

Agora vamos imaginar uma situação positiva. Vamos simular o que ocorreria com sua carteira investindo 5% em renda variável que reflete o desempenho da Bolsa em um ano com rendimento de 40% (como já ocorreu no passado).

Na simulação acima colocamos 50% do total investido em pós-fixados, 45% em prefixados com juros fixos de 6,8% e apenas 5% na renda variável supondo uma forte alta na bolsa de 40% como aconteceu em 2007 no final de um ciclo de 5 anos de alta. Nossa carteira teria um ganho de 8,01%. Isso representa 135,76% do CDI. Observe que dos R$ 8.010,00 de rendimento a renda variável gerou R$ 2.000,00 ou 24,97% do resultado comprometendo 5% do total investido.

Por fim, é importante destacar a importância de entender o funcionamento de títulos públicos como o Tesouro Prefixado. Nas simulações utilizamos uma taxa de 6,80%, mas ela só seria garantida se o investidor esperasse o vencimento do título. Antes do vencimento a taxa e o preço do título sofre variações diariamente isso assusta muito o investidor que compra títulos públicos sem entender o seu funcionamento. Como demonstrei nesse artigo, títulos como o Tesouro Prefixado podem gerar ganhos muito acima ou perdas bem abaixo do que foi prometido se você considerar o preço de venda antecipada. Não invista em Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA sem entender o que você está fazendo. Recomendo a leitura do livro Como Investir em Títulos Públicos ou os diversos artigos que já escrevi sobre títulos.

Concluindo

É muito importante que você perceba que este artigo não é uma recomendação de carteira de investimento para você ou para qualquer leitor. Como educador, o único investimento que recomendo é o investimento na sua educação. Só você pode investir na sua própria educação financeira e só você ganha com isso. O resultado que você terá nos outros investimentos será uma consequência deste primeiro.

Artigos como este e simuladores que crio e compartilho aqui, funcionam como estímulos para que você pense sobre os seus investimentos. É dever de cada um cuidar do seu próprio dinheiro, cuidar para adquirir conhecimentos financeiros que possam gerar boas decisões no presente que vão impactar resultados futuros. Você planta, você colhe. Plantar é opcional, mas quem não plantar hoje vai ficar dependendo da colheita dos outros amanhã. Nosso foco aqui é menos dependência, é mais independência financeira com o passar dos anos.

Faça suas próprias simulações, utilize taxas reais, nominais, líquidas de impostos, troque o nome dos investimentos (eles podem editados no simulador) ou até faça seus próprios simuladores no Excel.

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