Se a previdência estatal é um desastre, muitos buscam refúgio na previdência privada. Mas essa também não é a solução ideal. Bancos e seguradoras vendem a previdência privada como se fosse um investimento, quando na verdade é um produto financeiro que pode estar cheio de amarras e armadilhas.

Corroendo parte do rendimento

Quem entra na previdência privada acredita que está investindo para o futuro. O problema é que esses planos costumam ter altíssimas taxas de administração e carregamento, corroendo parte do rendimento que pode ser significativa devido ao longo prazo. Você entrega seu dinheiro para terceiros que lucram independentemente do seu desempenho.

  • Taxa de Administração: Essa taxa remunera a gestão do fundo e é cobrada anualmente sobre o patrimônio total investido (não importa o desempenho do fundo). Segundo informações da Susep (Superintendência de Seguros Privados), que regula o setor, as taxas de administração em fundos de previdência no Brasil é comum encontrar planos com taxas de até 3% ao ano (principalmente nos grandes bancos). Para um investimento de longo prazo (20-30 anos), uma taxa elevada pode reduzir significativamente o montante final devido aos juros compostos.
  • Taxa de Carregamento: Essa taxa incide sobre cada aporte ou resgate, podendo ser de entrada, saída ou ambas. Historicamente, taxas de carregamento de até 5% por aporte eram comuns, mas, nos últimos anos, a concorrência no mercado levou algumas instituições a reduzi-las. 
  • Impacto no Rendimento: Um estudo do Valor Investe (05/08/2019) analisou os dez maiores fundos de previdência do Brasil (geridos por Banco do Brasil, Bradesco e Itaú) e constatou que todos rendiam abaixo do CDI (um índice de referência próximo da Taxa Selic) em 12 meses, devido à altas taxas de administração e estratégias ineficientes de investimento. Em um exemplo simplificado, uma taxa de administração de 2% ao ano, em um fundo que rende 6%, reduz o retorno líquido para 4%, o que, ao longo de 30 anos, pode cortar o montante acumulado em mais de 30%, segundo cálculos baseados em juros compostos.

Frequentemente é mais vantajoso adquirir o conhecimento necessário para fazer seus próprios investimentos, sem entregar o seu futuro para uma instituição privada.

Você poderia obter retornos melhores

A maior parte do dinheiro investido em fundos de previdência privada no Brasil acaba sendo alocada em títulos públicos. Os gestores desses fundos compram principalmente papéis do governo, como Tesouro Selic e Tesouro IPCA, porque são ativos seguros e oferecem alguma previsibilidade de retorno.

O problema é que, ao investir em um fundo de previdência privada, o investidor paga altas taxas de administração e carregamento para algo que ele mesmo poderia fazer diretamente no Tesouro Direto, com custos muito menores. No Tesouro Direto, a única taxa cobrada é a da B3 (0,2% ao ano), enquanto fundos de previdência frequentemente cobram entre 1% e 3% ao ano de taxa de administração, além de taxas de carregamento que chegam a 5% sobre cada aporte.

Ou seja, o próprio investidor poderia obter os mesmos retornos com menos custos se comprasse os títulos públicos diretamente. Os fundos apenas servem como intermediários, lucrando com taxas sobre algo que qualquer um pode fazer sozinho.

O gráfico acima representa a rentabilidade de três fundos de previdência privada de 3 grandes bancos e o desempenho do CDI e do IPCA+6%. Observe que todos perderam para o que seria equivalente a um investimento que rende 100% do CDI ou IPCA+6%. Você certamente já sabe fazer investimentos de renda fixa em títulos públicos, CDB, LCI/LCA, debêntures e por este motivo não precisa de uma previdência privada que fará você perder da renda fixa.

Regras que Prendem o Investidor

A previdência privada impõe restrições rígidas de resgate. Caso precise do dinheiro antes do prazo estipulado, enfrentará penalidades severas. O controle não está nas suas mãos, mas na instituição financeira.

  • Carência Legal: Existe um período de carência mínima de 60 dias para resgates ou portabilidade após a contratação ou cada novo aporte, o que impõe uma restrição inicial. Algumas seguradoras podem estender esse prazo contratualmente, chegando a 180 dias ou mais. Isso contrasta com a liquidez imediata de muitos investimentos de verdade, como alguns títulos públicos, CDBs com liquidez diária, fundos imobiliários ou ETFs negociados em bolsa.
  • Resgate Antes do Prazo: Embora seja possível resgatar o valor acumulado antes do término do plano, a estrutura da previdência desencoraja isso. O resgate é permitido, mas sujeito a condições como impostos e taxas, que variam conforme o regime tributário e o tempo de permanência. Isso confirma a existência de restrições
  • Imposto de Renda: Na previdência privada, o IR incide no resgate, e o impacto depende do regime tributário escolhido. Na tabela regressiva, a alíquota começa em 35% (para resgates em até 2 anos) e cai a 10% (após 10 anos). Um resgate precoce, como em 2 anos, pode significar perder mais de um terço do valor para impostos, o que é desastroso. Na tabela progressiva, a alíquota depende da renda mensal do investidor no momento do resgate, podendo chegar a 27,5%. Comparado a investimentos isentos (como LCI e LCA) ou com IR apenas sobre o lucro (como ações), isso é uma penalidade severa que tira a liberdade das pessoas.
  • Taxa de Carregamento de Saída: Alguns planos cobram taxas de carregamento na saída, especialmente os mais antigos. Essa taxa pode chegar a 10% do valor resgatado. Isso é algo tão absurdo que, com a concorrência, vários planos modernos eliminam essa taxa. 

O Risco da Intervenção Estatal

Mesmo sendo privada, essa modalidade não está imune ao Estado. Governos podem aumentar impostos, alterar regras e confiscar parte dos recursos sob pretextos de “equilíbrio fiscal” ou “justiça social”. O dinheiro, mais uma vez, fica vulnerável ao humor da política. Como as regras dificultam o acesso ao seu dinheiro, se algo mudar no futuro você terá problemas.

Não podemos esquecer: embora seja gerida por entidades privadas (bancos, seguradoras e gestoras), a previdência privada opera sob um arcabouço legal definido pelo Estado, o que a torna suscetível a intervenções governamentais. 
A previdência privada no Brasil é regulada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) e estruturada por leis como a Lei Complementar nº 109/2001. Mudanças nessas normas, como as introduzidas em 2024 para aumentar a atratividade dos planos, mostram que o governo pode alterar o funcionamento da previdência a qualquer momento.
O Brasil tem precedentes de intervenção estatal em ativos privados. Durante o governo Collor (1990), o Plano Collor confiscou poupança e outros investimentos para conter a inflação, gerando um trauma financeiro que ainda ecoa na memória coletiva. Embora não tenha havido confisco direto de previdência privada, esse histórico reforça a percepção de vulnerabilidade.
Em 2023, o governo Lula propôs taxar fundos exclusivos (Lei nº 14.754/2023), elevando a tributação de grandes investidores, o que gerou debate sobre possíveis impactos indiretos na previdência privada. A Susep justificou medidas regulatórias recentes como forma de evitar que planos fossem usados para burlar impostos, mostrando a disposição do Estado em ajustar regras fiscais.
Até 2024, alguns estados cobravam o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) sobre repasses de previdência privada em caso de morte do titular. O STF declarou isso inconstitucional em dezembro de 2024 (Notícias STF, 15/12/2024), mas a tentativa inicial dos estados evidencia que impostos podem ser criados ou ampliados por iniciativa governamental.

O Estado tem poder para modificar as regras da previdência privada, seja por meio de leis, resoluções da Susep ou normas da Receita Federal. Mudanças tributárias ou regulatórias dependem da agenda do governo e do Congresso. Por exemplo, um governo de viés intervencionista poderia propor taxações adicionais ou restrições de resgate, enquanto um outro governo tenderia a incentivar o mercado privado.

Agora, imagine o que pode acontecer no futuro se um político populista chegar ao poder e decidir que a “classe média privilegiada” precisa “contribuir mais para a sociedade”. Bastaria espalhar a narrativa de a classe média é “egoístas” por não “redistribuir” sua aposentadoria privada com os mais pobres. Em nome da “solidariedade coletiva” e da “justiça social”, um novo imposto sobre previdência privada poderia ser criado para “corrigir desigualdades históricas” e garantir que os “menos favorecidos” tenham acesso a uma “aposentadoria digna”.

Tradução: você economizou, planejou e construiu seu futuro, mas, por decreto estatal, será obrigado a sustentar quem não fez o mesmo por motivos que você não é culpado. O discurso será bonito, cheio de palavras como “equidade”, “reparação” e “responsabilidade social”, mas a realidade será injusta com as pessoas que fizeram enormes sacrifícios durante a vida para garantir um futuro melhor.

Alternativa Real: Liberdade e Controle

A solução é investir por conta própria em ativos de qualidade. Empresas, imóveis, fundos diversificados, renda fixa sólida, investimentos no exterior, metais e qualquer outro ativo que gere renda e se valorize no tempo de forma sólida. Isso garante que você tenha controle total sobre seu dinheiro, sem depender de políticos  que drenam sua rentabilidade com impostos, regulações e incompetência.

É muito importante que você não se iluda. Você não vive na Suíça. O Brasil nunca foi um país economicamente estável e isto torna perigoso prender o seu dinheiro em qualquer ativo difícil de sair. Desde o golpe da República, vivemos em um ambiente de brigas constantes entre grupos políticos, golpes, contragolpes, ditaduras e crises fabricadas. Já trocamos de moeda seis vezes no último século – de réis para cruzeiro, cruzado, cruzeiro real, e finalmente para o real, que hoje é corroído pela inflação. Já tivemos congelamento de preços e confisco da poupança. Já vimos presidentes suicidas, presidentes ladrões, impeachmados, presos e até esfaqueados. Sempre as pessoas pagaram a conta por não terem educação financeira, educação econômica e educação política.

Diante desse histórico de instabilidade e irresponsabilidade estatal, confiar em um único ativo para garantir seu futuro é um erro. O caminho seguro é construir sua própria previdência, através de ativos diversificados. O caminho é educar seus filhos para que eles possam receber este legado de forma que também possa educar os seus netos. É isto que muda o presente e o futuro.

Aqui no Clube dos Poupadores temos diversos simuladores online para motivar você a construir o seu futuro de forma independente.

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