Neste artigo vamos simular qual seria o seu resultado financeiro, no final de vários anos, se você investisse em uma determinada ação somente nos meses de queda, ou seja, nos meses em que a ação terminou o mês valendo menos do que valia no início do mês (retorno mensal negativo).
No artigo anterior simulamos a compra mensal de uma quantidade fixa de ativos, não importando se o mês terminou em alta ou baixa. Para ilustrar o estudo adotamos o BOVA11 que é o ETF mais negociado da bolsa que equivale a uma carteira composta por mais de 90 ações que fazem parte do Índice Bovespa. Com isso temos o equivalente a comprar uma carteira diversificada de ações.
Nesta nova simulação vamos continuar com o plano de comprar 100 ETFs por mês, mas agora vamos acumular esse objetivo de 100 ETFs mensais até ocorrer um mês com queda no preço. Vamos entender melhor através de cada coluna da planilha representada pela imagem abaixo. No final do artigo você poderá baixar a planilha.
O estudo vai de 2016 até 08/2021. Na coluna “Preço” temos o preço do BOVA11 no final do último dia do mês. Na coluna “Variação” temos quanto o preço do BOVA11 variou no mês. Quando a variação for negativa faremos a compra do ETF. Como o preço caiu logo no início da planilha já temos uma compra de 100 ETFs BOVA11 a ser feita no dia 29/01/2016. A quantidade de ETFs comprados no mês está na coluna “Quantidade”. Veja que não fizemos compras nos meses 02, 03 e 04 já que o preço do ETF fechou em alta (variação percentual positiva) nesses três meses. Então acumulamos esses 300 ETFs (3 meses x 100 ETFs = 100 ETFs) que seriam comprados nesses três meses e vamos esperar o primeiro mês com variação negativa para realizar a compra. No mês 05 o ETF fechou em queda com variação de -9,84% e neste momento compramos 400 ETFs sendo 300 que acumulamos nos meses anteriores e 100 ETFs que seriam comprados no mês.
Na coluna “Investimento” temos o valor investido no mês, que neste exemplo do mês 01/2016 foi de R$ 3.919 (100 ETFs x R$ 39,19 = 3.919). Na coluna “Invest. Total” temos a soma de tudo que investimos comprando ETFs até o momento. Na coluna “Total ETFs” temos a soma de quantos ETFs compramos até o momento. Na coluna “Total Patrimônio” temos o total de ETFs que temos na nossa carteira de investimentos até o momento multiplicado pelo preço do ETF no final de cada mês.
Agora podemos criar o gráfico:
A linha azul nos mostra o total de investimentos que fizemos ao comprar todos os ETFs (R$ 568.134,00). No decorrer de 68 meses fizemos compras em apenas 25 meses que foram os meses em que o BOVA11 terminou em queda. Essa estratégia nos forçou a comprar mais ETFs nas baixas de preço e nenhum ETF nos meses em alta.
No final do período acumulamos 6.800 ETFs. Como investimos R$ 568.134,00 para comprar todos esses ETFs o nosso preço médio foi de R$ 83,55 por ETF (R$ 568.134,00 / 6800 = R$ 83,55).
Como no final do mês 08/2021 cada ETF valia R$ 114,08 nosso patrimônio total era de R$ 775.744,00 (6800 ETFs x R$ 114,08 = R$ 775.744,00).
Como gastamos R$ 568.134,00 comprando todos os ETFs e agora eles valem R$ 775.744,00, nosso ganho foi de R$ 207.610,00 (775.744,00 – 568.134,00 = 207.610,00)
Então nosso retorno no período foi de 36,54% (207.610,00 / 568.981,0 = 3,654 x 100 = 36,54%). Convertendo 36,54% em 68 meses por uma taxa equivalente mensal temos pouco mais de 0,45% de rendimento mensal. Convertendo para uma taxa anual temos 5,65% ao ano. Você pode converter taxas aqui.
Adotei 100 ETFs por mês para facilitar o entendimento. Se fossem 10 ETFs por mês todos os resultados acima seriam 10 vezes menores, mas o retorno no período seria o mesmo.
Agora veja a tabela comparativa entre a simulação do artigo anterior e essa nova simulação:
Veja que compramos os mesmos 6800 ETFs nas duas simulações mas na primeira compramos 100 ETFs todos os meses e na segunda deixamos acumular os ETFs que seriam comprados até a ocorrência de um mês de queda no preço do ETF. A comparação acima nos mostrou que não existiu uma diferença relevante entre as duas estratégias.
Certamente o resultado poderia ser melhor se fosse montada uma carteira com ativos descorrelacionados, reequilíbrio da carteira e controle da relação risco/retorno. É claro que para isso seria necessário um conhecimento mais extenso e detalhado como apresento no decorrer de todo o meu livro sobre carteiras.
É importante destacar que entre 2016 e o mês 08 de 2021, como mostrei em um gráfico no artigo anterior, o BOVA11 esteve em tendência primária de alta, ou seja, os preços se movimentaram formando máximas e mínimas ascendentes no gráfico mensal (tendência de alta de longo prazo). A estratégia de comprar todos os meses ou nos meses em queda funciona bem em tendências de alta, mas apresenta problemas em tendências de baixa ou em um mercado lateral. Para esse cenário existem outras estratégias que adotamos em carteiras de investimento diversificadas e reequilibradas.
No próximo artigo vou simular o que acontece quando temos um dinheiro fixo para investir todos os meses. Será que investindo um valor fixo teremos uma grande diferença de resultados entre as duas estratégias?
Por fim devo lembrar você que este é um artigo com finalidade educativa e não representa uma recomendação de investimento. O ETF citado serviu apenas como um exemplo didático e você pode repetir esses ensinamentos utilizando outros ativos de renda variável de sua preferência.
A minha recomendação é a de que você dedique tempo estudando como os investimentos funcionam para que você aprenda a fazer estudos como esse livremente, sem depender de qualquer pessoa. Escrevi diversos livros que podem ajudar você a aprender de forma rápida e muito didática. Invista primeiro na sua educação, pois você só fará isso uma vez e colherá os frutos da liberdade para sempre.
Você pode baixar a planilha que usei para fazer essas simulações clicando aqui.