Convido você a refletir sobre como políticos podem criar armadilhas, aparentemente para ajudar financeiramente, mas que podem prejudicar a vida financeira das pessoas.
Como exemplo vou comentar sobre o ‘Programa Pé-de-Meia’, uma iniciativa que pagará uma mesada para quem frequentar as escolas.
Como funciona:
No ato da matrícula, no início do ano letivo, os estudantes do ensino médio cadastrados receberão R$ 200,00. A comprovação de frequência dará direito a mais R$ 1,8 mil no decorrer do ano, em 9 parcelas de R$ 200,00 totalizando R$ 2 mil por ano letivo. Além dos R$ 2 mil em cada 1 dos 3 anos do ensino médio, o aluno que for aprovado ao final de cada ano receberá mais R$ 1 mil na conta poupança. Caso se inscreva no Enem (Exame Nacional de Ensino Médio) quando estiver no 3º ano, receberá mais R$ 200, totalizando os R$ 9,2 mil nos 3 anos.
Quais são as consequências:
Ao prometer uma mesada para estudantes de baixa renda do ensino médio, este programa, embora revestido de boas intenções (como tudo que os políticos inventam), é mais um exemplo claro de políticas populistas e paternalistas que, a longo prazo, podem trazer mais prejuízos do que benefícios.
Mas o que é um político populista paternalista?
Um político populista e paternalista é alguém que se apresenta como um salvador do povo, prometendo soluções fáceis para problemas complexos. Ele costuma usar o discurso emocional para ganhar apoio, promovendo políticas assistencialistas para que as pessoas fiquem dependentes do Estado para viver. Sua abordagem enfatiza a proteção e o cuidado paternal, muitas vezes à custa da responsabilidade individual e da liberdade econômica. Esse tipo de político busca manter o poder apelando para as necessidades imediatas da população, mas frequentemente sem uma visão sustentável ou a longo prazo.
Aos que gostam dos paternalistas é importante entender que não há benefícios gratuitos. Os custos de programas assistencialistas, como o mencionado de R$ 7,1 bilhões ao ano, recaem sobre toda a população, seja através de impostos ou pelo aumento da inflação. Embora pareça benéfico a curto prazo, a criação de inúmeros programas como esse pode prejudicar a economia, aumentar a carga tributária e inflacionar a moeda, gerando consequências negativas para todos, especialmente para aqueles que se pretende ajudar.
Para quem ama o paternalismo, leia esse livro:
Um livro excelente para compreender os riscos de governos populistas e paternalistas é “A Revolta de Atlas” (originalmente “Atlas Shrugged”) de Ayn Rand. É um ótimo livro sobre coletivismo que lev ao controle estatal excessivo sobre a economia e a vida individual. Embora seja uma obra de ficção, “A Revolta de Atlas” apresenta de forma lógica e racional, argumentos e cenários que você possa refletir sobre os perigos do populismo e do paternalismo estatal.
Reducionismo
Esse tipo de programa demonstra uma visão reducionista da educação, pois é tratada como mercadoria que pode ser incentivada através de uma mesada, que será paga com mais impostos. A iniciativa vai gerar mais dependência do Estado, afetando a autonomia e a responsabilidade individual de jovens que estão justamente na fase mais importante para a busca da autonomia.
Assim como já ocorreu no passado, será mais um programa usado para fins políticos e ideológicos. Programas de transferência de renda sempre se tornam instrumentos de cooptação e manipulação política em qualquer país do mundo.
Ataque contra a educação financeira
A verdadeira educação financeira se baseia no ensino de como gerar e gerenciar renda de maneira autônoma, promovendo a independência e a responsabilidade individual. Ao oferecer uma mesada estatal aos jovens, o programa “Pé-de-Meia” transmite uma mensagem contrária: a de que o governo é um provedor de renda. Isso pode distorcer a percepção dos jovens sobre a origem do dinheiro e sobre a importância do trabalho e do esforço pessoal na construção de sua independência financeira. Parece bem evidente que este é exatamente o objetivo dos políticos que apoiam esse tipo de programa.
Ao invés de oferecer “dinheiro fácil”, seria mais eficaz investir em programas que estimulem a educação empreendedora, educação profissionalizante, desenvolvimento de habilidades práticas e a formação financeira, preparando os jovens para gerar sua própria renda, acumular capital, enriquecer e contribuir de maneira efetiva para a economia. Mas é claro que os políticos jamais farão isso, pois o que acontece com um adulto independente que gera a própria renda e enriquece? Ele se liberta dos políticos populistas paternalistas.
Ao fornecer assistência financeira contínua sem contrapartidas significativas de desenvolvimento de habilidades ou incentivos ao trabalho, o governo, intencionalmente, criar um ciclo de dependência. Isso pode levar a população a se acostumar com o recebimento desses benefícios como uma forma de renda regular, diminuindo o incentivo para buscar a autossuficiência através do trabalho e do esforço pessoal.
Países vítimas de governos populistas paternalistas
A população de vários países da América Latina têm sofrido os efeitos econômicos de anos de políticas governamentais populistas e paternalistas. Alguns dos exemplos incluem:
- Venezuela: Talvez o exemplo mais dramático, a Venezuela tem enfrentado uma grave crise econômica, com hiperinflação, escassez de bens básicos, e um declínio significativo na qualidade de vida. As políticas populistas de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, focadas em assistencialismo extensivo e controle estatal da economia, são frequentemente apontadas como causas principais dessa situação.
- Argentina: Especialmente sob os governos de Néstor e Cristina Kirchner, têm sido marcados por políticas econômicas intervencionistas e assistencialistas. Estas políticas levaram a graves problemas econômicos, incluindo inflação descontrolada e dívida pública crescente.
- Brasil: Os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), liderados por Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, implementaram uma série de programas assistenciais. Alguns analistas argumentam que, apesar dos benefícios sociais iniciais, essas políticas contribuíram para desequilíbrios fiscais e econômicos, culminando na mais grave recessão econômica registrada no país (2014-2016). Tudo indica que caminhamos para um novo desequilíbrios fiscais e econômicos nos próximos anos.
- Bolívia: Sob o governo de Evo Morales, a Bolívia adotou várias políticas populistas, incluindo a nacionalização de indústrias e aumento de gastos sociais. Enquanto inicialmente essas medidas pareceram impulsionar o crescimento, elas também criaram vulnerabilidades econômicas e dependência do Estado.
- Equador: Durante a presidência de Rafael Correa, o Equador adotou uma série de políticas assistencialistas e de controle estatal. Essas políticas também foram associadas a problemas econômicos, como endividamento elevado e dependência excessiva do petróleo.
Os líderes políticos dos países mencionados anteriormente – Venezuela, Argentina, Brasil, Bolívia e Equador – compartilham várias características comuns:
- Orientação de Esquerda: Todos esses líderes adotam ideologias políticas de esquerda, com foco em políticas socialistas ou social-democratas.
- Populismo: Eles frequentemente empregam uma retórica populista, apelando diretamente às massas e prometendo soluções simples para problemas complexos, muitas vezes colocando-se como opositores de um inimigo que eles chamam de “elites”.
- Estatismo e Intervencionismo: Estes líderes tendem a favorecer um papel mais ativo e central do Estado na economia, através de medidas como nacionalizações, controle de preços, e políticas fiscais e monetárias expansionistas (gastam mais do que arrecadam fazendo a moeda local perder o valor).
- Políticas Assistencialistas: Adotam programas de assistência social como parte central de suas políticas, visando reduzir a pobreza e a desigualdade. A consequência é grande parte da população dependendo do Estado. Isso aumenta a pobreza e leva mais pessoas a dependerem do Estado.
- Discurso Anti-imperialista: Muitos desses líderes adotam uma retórica anti-imperialista, frequentemente posicionando-se contra os Estados Unidos e outras potências ocidentais em discursos políticos.
- Crítica ao Capitalismo: Expressam frequentemente críticas ao capitalismo, propondo alternativas que enfatizam a redistribuição de riqueza e controle estatal. Implicitamente ou de forma direta eles defendem a implantação de um sistema alinhado com o socialismo ou comunismo.
- Centralização do Poder: Em muitos casos, esses líderes promoveram a centralização do poder político, às vezes em detrimento das instituições democráticas e da separação de poderes.
Para entender e ter cautela com políticos que adotam as abordagens populistas e paternalistas que mencionei, e cujas políticas tiveram impactos negativos em países da América Latina, recomendo o livro “O Caminho da Servidão” de Friedrich A. Hayek. Este é um clássico da literatura econômica e política que alerta sobre os perigos do coletivismo, do controle estatal excessivo e da perda de liberdades individuais.
Invista na sua educação financeira e nos seus conhecimentos sobre política econômica para que você possa orientar os mais jovens. Eles são facilmente ludibriados por ideologias políticas paternalistas que criam dependência financeira. Quando eles deveriam lutar pela própria independência financeira, muitos jovens estão lutando pela dependência financeira.
Receba um aviso por e-mail quando novos artigos como esse forem publicados. Inscreva-se gratuitamente:
Bom dia Leandro, eu tenho duas filhas pequenas e gostaria de dar uma educação financeira para elas. Eu tento fazer isso trabalhando com as mesadas, tipo salvando uma parte e investindo em uma renda fixa, um desses fundos com rendimento diário, só pra elas verem o valor aumentando todos os dias. Também dou bônus em dinheiro pra elas lerem alguns livros sobre o assunto. Agora lendo seu artigo me bateu um estalo aqui: será que desta forma não estaria eu mesmo sendo paternalista e causando e efeito inverso, tornado-as ainda mais dependentes? Será que algum dia você poderia escrever alguns artigos sobre educação financeira infantil?
Olá Leandro. Você precisa fazer sua filha sentir a satisfação de ganhar dinheiro produzindo valor, entregando algo de valor para os outros e sendo recompensada por isso. Você pode dar uma mesada para ela, contanto que seja pequena para que ela tenha vontade de ganhar mais. Você pode remunerar elas, desde que elas realmente façam algo de valor que ajude você de alguma forma. Se for alguma ajuda relacionada com sua profissão, melhor ainda, pois você está se beneficiando e ela estará sendo remunerada por ajudar no trabalho. Você pode motivar suas filhas a produzir algo para vender. Pode motivar ela a comprar algo barato em quantidade e vender em unidade. Se a criança compreender que a riqueza pode ser produzida a partir do nada, produzindo algo de valor (produto ou serviço), isso será um grande diferencial. Mas se a criança entender o pai como uma fonte de renda fácil ou o governo como uma fonte de renda fácil, isso pode ser um problema.
Meu filho de 8 anos ganha mesada de 30 reais por arrumar o quarto dele e colocar e tirar louças da máquina de lavar louça, além do compromisso de tirar boas notas na escola. Com 8 anos já tem consciência que o trabalho enobrece o homem. E ele não se conforma com os bários amiguinhos que não tem educação financeira.
O único “problema” é que está fissurado em juntar dinheiro na excelente caixinha ganha no Natal
Parabéns Fabio. Isso vai acabar sendo transmitido para seus netos, bisnetos e tataranetos.
Eu também gostaria de mais artigos sobre educação financeira infantil ou até mesmo um livro
Obrigado Diego. Estou escrevendo um artigo sobre isso.
Leandro, sinceramente eu não consigo ver nada de positivo em “programas” como esse. Hoje um professor já não pode mais reprovar um aluno, não importa o quão ruim ele seja. Vejo, em um futuro próximo, mais ameaças a professores para colocar presenças em alunos que não frequentam a escola simplesmente para não perder os benefícios. Ao contrário do que as pessoas imaginam a longo prazo esses programas assistencialistas não produzem resultados positivos. Trabalho na área da saúde há quase 13 anos, inclusive acompanhando condicionalidades desses programas. O que vejo não é uma melhoria. O que vejo são os filhos das pessoas que eu acompanhava lá no início, também recebendo esses benefícios no momento que atingem a idade necessária para inscrição. Acompanho as mesmas famílias desde o início, e se você me perguntar quantas realmente necessitam, aquelas que viviam em situação de miserabilidade ou de falta de alimentos, em todos esses anos não chegavam a 10 famílias… Mas a dependência desses programas está lentamente destuindo a nossa sociedade. Não há incentivo ao trabalho, a produção de algo útil para sociedade, e aqueles que o fazem são vistos como opressores. Inclusive, vi muitas vezes pessoas recusando trabalho para não assinar a carteira e perder o benefício. Enfim, só vi a situação piorar em todo esse tempo.
Olá Aline. Obrigado por compartilhar. Tudo que você descreveu é o que eu também percebo na prática. As pessoas não percebem o mal da dependência e isso tem total relação com o conteúdo que tento divulgar, que é a valorização da independência financeira.
Olá Leandro,
Na Universidade Federal que trabalho, os alunos “carentes”(tem muita gente ali que não é carente), recebem R$ 700,00 por mês. Muitos estudam só meio período e poderiam arranjar um estágio em alguma empresa e seguir carreira, mas nota-se que pouco se esforçam para isso. Realmente parecem que ficam satisfeitos e acomodados com a esmola que o Governo fornece.
Lamentável!
Futuro perigoso do nosso país.
Parabéns pelos 3 artigos. Excelentes!
Grande abraço.
Olá Daniel. Obrigado por compartilhar isso. É um futuro perigoso.
Pelo que se vê, acabou do professor educar, reprovar aluno, pois este estará perdendo o benefício, e qual a função do professor então?
Vos digo, apenas criar militantes, executar as pautas socialistas, globalistas progressistas, desse ” admirável mundo novo zumbi”
Grato Nobre Leandro.