Quando corretoras e bancos estão em guerra quem ganha é você. Neste momento ocorre uma guerra entre as instituições que emitem e gerenciam ETFs.
Os ETFs são fundos negociados em bolsa que investem nas carteiras teóricas de diversos índices de forma passiva. Comprar um ETF equivale a comprar uma parte de uma carteira diversificada de investimentos. É uma forma rápida e barata de diversificação muito utilizada para a montagem de carteiras de investimentos. Tenho um artigo que fala sobre o que é um ETF.
No mês passado (junho de 2021) a XP lançou na bolsa brasileira o BOVX11 como sendo o ETF com a menor taxa administrativa do Brasil (0,15% ao ano) que investe nas ações que fazem parte da carteira teórica do Índice Bovespa.
Pouco tempo depois o Itaú entrou na guerra e cortou a taxa de administração do BOVV11, que também replica o desempenho do Índice Bovespa. De 0,30% ao ano a taxa caiu para 0,10% ao ano.
Agora o BTG Pactual atacou seus dois rivais lançando o ETF com a menor taxa administrativa do Brasil que investe nas ações que compõe a carteira teórica do Índice Bovespa. O IBOB11 foi lançado com taxa administrativa de apenas 0,03% ao ano.
O contra-ataque da XP foi rápido. XP anunciou nesta segunda-feira (26/07) que zerou a taxa de administração BOVX11. Com isso, este ETF se tornou o primeiro ETF do país a ser isento de taxas. Só que isso não será para sempre. A taxa zero vale até o ETF alcançar a marca de R$ 1 bilhão em patrimônio líquido. Após chegar a esse montante, a taxa cobrada voltará a ser de 0,15% ao ano.
De fato o parquinho dos bancos e das corretoras está pegando fogo.
Antes do BTG anunciar a taxa de 0,03% o ETF mais barato do Brasil entre todos os tipos que existem era o PIBB11, primeiro ETF lançado no Brasil em 2004 pelo Itaú. Sua taxa administrativa é de 0,059% ao ano. Sua carteira é composta pelas 50 ações de grandes empresas listadas na bolsa brasileira que fazem parte da carteira teórica do índice IBRX-50. É uma opção muito usada em simulações de estratégias de carteiras de investimentos pelo seu longo histórico.
A corrida de lançamentos de novos ETFs por diversas instituições financeiras brasileiras já resultou no lançamento de vários ETFs temáticos. Muitos desses são baseados em outros ETFs negociados no exterior (um ETF que investe em outro ETF) e em ações também negociadas lá fora.
Podemos dizer que essa corrida de lançamentos faz parte de outra guerra. Ela é uma resposta de bancos e corretoras do Brasil contra a migração de recursos de pequenos investidores brasileiros para corretoras americanas. Nunca foi tão fácil investir diretamente no exterior. Esse movimento também explica a abertura dos BDRs para qualquer tipo de investidor e o lançamento de ETFs de criptomoedas.
Eu torço para que o parquinho dos bancos e das corretoras brasileiras continue em chamas, pois por muitas décadas esse parquinho foi um lugar divertido para todos eles, enquanto seus clientes sofriam nas filas, com taxas abusivas, falta de diversificação e muita burocracia.
Agora vou fazer como aquelas crianças que ficam na roda da briga jogando lenha na fogueira.
Se o BTG Pactual consegue oferecer taxa de 0,03% no IBOB11, com certeza a XP conseguirá vencer seu rival reduzindo a taxa do BOVX11 para 0,02%. O Itaú como sendo uma das maiores instituições financeiras do país deveria provar sua força baixando a taxa do BOVV11 para 0,01%.
Por fim, a BlackRock não deveria deixar barato. Eles estão por trás do BOVA11, um dos ETFs mais negociados no Brasil que oferece o desempenho do Índice Bovespa. A BlackRock é uma das maiores gestoras de ETFs do mundo e certamente poderia baixar sua taxa de 0,30% para níveis surpreendentes.
Quando esse artigo foi escrito esse era o resultado da briga:
Gráfico | Site | ETF | Gestor | Taxa |
? | ? | IBOB11 | BTG Pactual | 0,03% |
? | ? | BOVV11 | Itaú | 0,10% |
? | ? | BOVX11 | XP | 0,15%* |
? | ? | BBOV11 | BB | 0,18% |
? | ? | BOVB11 | Bradesco | 0,20% |
? | ? | SAET11 | Safra | 0,25% |
? | ? | BOVA11 | BlackRock | 0,30% |
? | ? | XBOV11 | Caixa | 0,50% |
*como dito no artigo, a taxa será zero temporariamente.
Crescimento dos ETFs
No final do ano passado existiam 32 ETFs na bolsa brasileira e R$ 38 bilhões investidos nesses ETFs. No primeiro trimestre de 2019 só existiam 15 ETFs de renda variável. No momento em que escrevo esse artigo (julho de 2021) existem 40 ETFs de renda variável e 7 de renda fixa com R$ 47 bilhões investidos.
O gráfico acima mostra que a maior parte dos ETFs que existem no Brasil (74%) estão com investidores institucionais (fundos de investimento). Somente 20,2% estão com pessoas físicas. Os ETFs são muito utilizados por gestores profissionais de fundos e deveriam ser mais utilizados por pessoas físicas que possuem carteiras de longo prazo.
O gráfico abaixo mostra a evolução do patrimônio investido em ETFs, ou seja, equivale a soma dos preços de todos os ETFs que são negociados na bolsa.
Mesmo com todo esse crescimento, os ETFs representam apenas 0,6% na carteira dos investidores brasileiros, contra 18% em mercados desenvolvidos. Temos pouco mais de 40 ETFs enquanto nos EUA existem mais de 2500 ETFs dos mais diversos tipos.
Até ontem grande parte das pessoas só investia através de grandes bancos e eles nunca tiveram qualquer interesse em popularizar outros investimentos que não fossem títulos de capitalização, poupança e fundos de investimentos com taxas administrativas exorbitantes.
Eu desejo que a guerra entre instituições concorrentes continue por muito tempo.
Quanto mais conhecimento você adquirir sobre os mais variados tipos de investimentos melhores resultados você terá no meio dessa grande guerra. Aqui no Clube dos Poupadores temos diversos livros que ensinam a montar carteiras de investimentos, investir em ETFs, investir no exterior e no Brasil. Conheça todos os nossos livros.