É muito difícil, para não dizer impossível, atingir a independência financeira se a única coisa que as pessoas fazem é colecionar e sofisticar os próprios vícios, como os que descrevi nos artigos sobre: soberba, inveja, gula, preguiça, luxúria, avareza e ira.
Compreender a relação entre pobreza e vícios é muito simples, basta fazer um pequeno experimento mental.
Vamos imaginar um experimento sobre o confisco e a redistribuição de riquezas no planeta.
Imagine que, por uma tragédia, ocorre a instituição de um “Governo Mundial” tendo como base os políticos mais populistas do mundo e uma legião de técnicos burocratas soberbos, que sofrem de megalomania (transtorno de personalidade com delírios de poder e onipotência).
Imagine que essas pessoas resolvem promover uma espécie de “justiça social global” e, para isso, eles realizam uma super confisco de dinheiro e bens de valor de todas as pessoas do planeta. Eles convencem as pessoas de que é tudo por “um bem maior”. Então, a maioria apoia o mega confisco para uma distribuição igualitária das riquezas para cada pessoa da Terra. Assim, todos recomeçariam iguais.
Agora responda a essa pergunta: Como estaria a sociedade mundial alguns anos após esse experimento megalomaníaco de redistribuição forçada de todas as riquezas do mundo?
Eu arrisco responder com base na lógica e na razão. Como as pessoas manteriam seus vícios e suas virtudes individuais, depois de alguns anos do experimento, boa parte dos que eram ricos, antes do experimento, voltariam a ser ricos e uma boa parte dos que eram pobres, antes do experimento, voltariam para a pobreza. As exceções seriam muito raras.
De forma natural, as diferenças voltariam a existir, pois as pessoas cultivam diferentes virtudes e vícios e a vida que possuem é uma consequência disso. A maior de todas as mentiras, no mundo da política e da economia, é iludir as pessoas de que justiça social tem relação com redistribuir coisas, bens e dinheiro.
A única justiça social que realmente existe é a de permitir (sem atrapalhar) que as pessoas desenvolvam virtudes e combatam seus próprios vícios, pois é da riqueza interior que se originam todas as outras riquezas e através das virtudes que temos a capacidade de acumular e multiplicar nossas riquezas.
Entregue muito dinheiro para uma pessoa que tem poucas virtudes e muitos vícios e o resultado será uma tragédia, um processo natural de autodestruição do dinheiro, da saúde física e mental da pessoa sem virtudes.
Por esse motivo, provavelmente a vida financeira que você tem é equivalente ao resultado das virtudes e vícios que você coleciona. Só que é muito gostoso e sedutor ouvir um político hipócrita ou um técnico intelectualmente desonesto que faz parte de alguma ideologia, afirmando que a vida pequena que você tem é culpa das pessoas que tem mais dinheiro que você.
Qualquer tentativa de melhoria da vida das pessoas, que não seja a de motivar as virtudes e combater os vícios, será total hipocrisia.
E isso é muito usado por ideologias e seus políticos mentirosos e desonestos que, sem quaisquer virtudes, trabalham diariamente para corromper a própria sociedade, já que só conseguem se manter em um ambiente degradado moralmente, sem valores e virtudes.
Isso também vale para algumas áreas de atuação das empresas. Existem negócios em mercados que movimentam montanhas de dinheiro diariamente que só existem graças ao crescimento dos vícios e a degradação das virtudes na sociedade.
Quantas vezes você já se deparou com marcas famosas investindo fortunas no patrocínio de influenciadores, artistas, cantores e outros famosos que são uma representação viva dos vícios, da imoralidade e da falta de ética? Quantas vezes você viu empresas ou setores da economia apoiando ideologias políticas hipócritas? Quantas vezes você viu pautas patrocinadas por empresas que estão relacionadas com vícios como soberba, inveja, gula, preguiça, luxúria, avareza e ira?
Infelizmente, isso faz parte do jogo atual do dinheiro. Viciar pessoas, promover a imbecilidade e a imoralidade parece extremamente lucrativo. O grande mal que vivemos no atual capitalismo está relacionado com o estímulo ao vício e o ataque contra as virtudes. Isso ocorre à medida que as empresas e os governos vão se afastando dos valores e das virtudes tão defendidos pelos nossos antepassados distantes.
Como vimos no artigo sobre Apetite Sentível e Apetite Racional, o apetite sensível escraviza as pessoas como se elas fossem animais, enquanto o apetite racional liberta as pessoas quando buscam se tornar virtuosas e genuinamente humana.
Seja homem, busque a virtude:
Quando um velho pai, no tempo antigo, repetia para o seu filho, diante de uma fraqueza infantil, a frase: “Levante-se e seja um homem!” ele estava querendo dizer: “Confortante et Esto Vir“, uma expressão em latim que os velhos ouviam nas missas, por ser uma expressão que tem origem na passagem em que o Rei Davi, já prestes a morrer, diz ao herdeiro Salomão, “Confortante et Esto Vir” que quer dizer “Seja corajoso e se comporte como um homem“.
Na prática, são as virtudes que nos diferenciam dos animais. Virtudes são como superpoderes humanos que você conquista com esforço, ou seja, a maioria das virtudes não são gratuitas. Ninguém pode tomar suas virtudes, mas podem tomar de você aquilo que você conquista na vida por ser virtuoso.
É da natureza das pessoas um apetite pelas virtudes, ou seja, um desejo de se tornar virtuoso. Isso é a verdadeira fonte de satisfação e felicidade. Esse desejo de ser virtuoso não existe nos animais. A virtude não pode ser comprada, mas os vícios podem ser comprados. Geralmente aqueles que vivem colecionando vícios na vida, logo sentem que a vida não tem sentido. Não percebem que o sentido está em viver como humano, ou seja, viver na busca da virtude.
Grande parte da infelicidade vivenciada pelas pessoas está justamente na frustração desse apetite de querer ser cada vez mais virtuoso.
No fundo, toda as pessoas desejam ser virtuosas e quando não conseguem, por algum motivo, se sentem fracas, frustradas, pequenas, deprimidas, inúteis, inferiores e naturalmente isso adoece o corpo e a mente. Existem muitos produtos e serviços altamente lucrativos para reduzir esses sintomas, mas sem tratar a origem do problema. Manter as pessoas cheias de vícios e tristes por isso, é altamente lucrativo.
É curioso observar que uma das técnicas sugeridas para pessoas que se sentem inúteis é se envolver em atividades que ajudem outras pessoas. Isso significa motivar a pessoa a desenvolver virtudes que não tinha.
Muitas pessoas não sentem esses sintomas negativos quando não buscam desenvolver virtudes, pois conseguem fugir. É possível fugir por muito tempo da busca por virtudes, principalmente se a pessoa tem dinheiro para manter essa fuga. O mercado oferece muitas fugas, com os mais variados preços, para fazer você perder tempo, pois não é possível se livrar do seu destino que é buscar se desenvolver adquirindo virtudes.
Estamos condenados a nos esforçar para que possamos nos tornar humanos, mas saiba ninguém vai lucrar com isso.
Pessoas sem virtudes votam em pessoas sem virtudes (votam até em criminosos). Pessoas cheias de maus hábitos e vícios consomem inúmeros produtos e serviços para a manutenção desses vícios, para reduzir os danos dos vícios ou para acabar com os vícios por algum tempo. Já o virtuoso (prudente, justo, forte e equilibrado) não é facilmente enganado e controlado por quem busca poder (políticos) ou o seu dinheiro (mercado).
Feliz aquele que descobre isso ainda na juventude.
Não existe nada mais deprimente do que chegar no final da vida, olhar para trás e perceber que você passou o tempo inteiro buscando vícios e prazeres que nos enfraquecem, enquanto fugia do sacrifício que nos fortalece.
Por outro lado, não existe alegria maior do que pensar que o mundo se tornou melhor por sua existência, pois você viveu com prudência, justiça, fortaleza e temperança enquanto tornava melhor a vida de todos que tiveram a sorte de cruzar com você.
Nos próximos artigos vou falar sobre virtudes importantes para o seu desenvolvimento profissional, financeiro e pessoal.
Para concluir:
Esta citação de C.S. Lewis é uma crítica à maneira como a sociedade moderna educa os jovens. Ele argumenta que estamos criando “homens sem peito” – ou seja, pessoas que não têm coragem ou convicção – e ainda assim esperamos que eles sejam virtuosos e empreendedores.
A frase “Rimos da honra e ficamos chocados quando achamos traidores em nosso meio” sugere que a sociedade desvaloriza a ideia de honra, mas ainda espera lealdade e integridade das pessoas. Basta observar as pessoas por trás das grandes empresas ou as que estão por trás dos governos.
“Castramos o animal e exigimos que ele seja fecundo” é uma metáfora para dizer que tiramos as paixões e emoções das pessoas – aspectos essenciais da experiência humana – e ainda esperamos que elas sejam produtivas e criativas.
Existe uma inconsistência entre as expectativas da sociedade e a maneira como as pessoas são criadas ou educadas para atender a essas expectativas. Esse problema está por toda parte e não podemos esperar nada de grandioso vindo dessa situação no futuro.
Receba um aviso por e-mail quando novos artigos como esse forem publicados. Inscreva-se gratuitamente:
Excelente artigo! São dias difícieis. Sacrifícios podem valer pena quando a alma é grande.
Obrigado, Plínio.
Mais uma vez meu muito obrigado por suas análises profundas, que influenciam o nosso pensamento, transformando-nos por dentro. O buraco é sempre mais embaixo! rsrsrs
Olá, Pedro. Eu que agradeço. O buraco é nas profundezas.
Parabéns Leandro,
Excelente texto. Conseguiu fazer um link entre finanças e comportamentos. Quais os livros que serviram de inspiração pra criação desta série?
Adriano
Olá, Adriano. A melhor fonte sobre vícios e virtudes foi escrita há oito séculos, veja aqui.
Leandro toca na ferida. Quem chegou agora, vale o estudo dos artigos anteriores até chegar nesse que é tapa na cara da sociedade.
Obrigado, Fabio.
Eu gostaria de ter recebido esses ensinamentos nas poucas vezes que frequentei igrejas. Foi sempre uma experiência tão distante do que eu acredito como deveria ser que cada vez mais me afastei da religião. Com esse série de artigos (até o momento, pois sei que ainda falará das virtudes capitais) já percebi o quanto perdi deixando de estudar esse aspecto tão fundamental da existência humana. Tenho duas coisas me motivando para ser uma versão melhor de mim mesmo neste momento: meu filho de 3 anos e esses artigos, que acompanho com afinco. Vou relê-los algumas vezes para conseguir extrair o máximo deles e conseguir ensinar tudo ao meu filho um dia, preferencialmente pelo exemplo em mim mesmo. Obrigado pelo seu esforço!
Parabéns, Eduardo!
Parabéns, irretocável!
Obrigado, Cláudio.
Parabéns pela qualidade técnica dos teus conteúdos, mas principalmente pela forma, você escreve muito bem. Acompanho há muitos anos teu trabalho.
Obrigado, Adriano.
Grato Leandro, mais um belo artigo/ensinamento!
É fato, estamos à beira de um abismo….se é que; já não estamos dentro!
Obrigado Ronaldo
Belíssimo artigo! As virtudes no mundo de hoje são meros caprichos para “o imbecil coletivo”. Muitos debocham dos que têm ou buscam as virtudes, porque são incapazes de se comprometerem com sigo mesmos. Por isso, é melhor desdenhar e sentir inveja daqueles que praticam as virtudes.
Olá, André. São como pessoas na lama, desdenhando daqueles que se recusam a se banhar no “chiqueiro coletivo”.